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quinta-feira, 15 de outubro de 2015

“Dissertações de meia-noite” - serenatas em prosa de uma jovem “jornalista”



Marta Araújo é uma jovem recém-licenciada em jornalismo que, para além do gosto pela comunicação social, possui uma enorme paixão pela narrativa criativa que mostra ao público no seu blogue: “Dissertações de meia-noite”. Numa escrita verdadeiramente gulosa e cativante, Marta vai dando a conhecer o seu mundo sem deixar ninguém indiferente à forma contagiante como explora as palavras. Atualmente, encontra-se a tirar um mestrado em Ciências da Comunicação, mais especificamente na área do Estudo dos Média e do Jornalismo, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. 



Quem lê os teus textos percebe que, apesar de pessoais, têm sempre algo com que o leitor se irá identificar. Foi essa a razão que te levou a criar o blogue “Dissertações de meia-noite”, onde publicas os teus textos?

Não. Um dos principais motivos que me levou a criar o blogue foi o gosto pela escrita. Tive que arranjar um estratagema que se descolasse um pouco do diário pessoal, uma ideia que tem vindo a cair em desuso, e decidi criar uma plataforma para fomentar esse amor. Por conseguinte, o meu blogue pode ser visto como um instrumento tecnológico de desabafo. Este ajuda-me a projetar na rede e a promover uma das coisas que mais gosto de fazer.

O teu gosto pela escrita surgiu num momento específico da tua vida ou foi algo que sempre esteve presente em ti?
Não diria que existiu um momentos específico. Existiram vários momentos que despoletaram esta vontade de extravasar para o meu "tecnológico diário" algumas das minhas façanhas e ideias. Acho que fui descobrindo que me expressava melhor a escrever do que a falar. Era mais simples para mim construir um discurso se este tivesse timbrado num papel. Pode parecer um pouco clichê, mas eu gosto de brincar com as palavras e construir descrições caricatas com as mesmas.

Os teus textos abordam diversos temas como os teus interesses, as tuas viagens, as tuas opinião, a tua família, no fundo o mundo que te rodeia. Recordo um desses textos, uma crónica intitulada “Definição esmiuçada de ópio” na qual falas das mulheres e em que afirmas “A mente masculina descreve-nos através de estereótipos, preconceitos.” O que te levou a escrever este retrato do que é a mulher?
A mulher é sempre uma boa fonte de inspiração para a escrita. Simboliza o mistério, a candura, o indescritível. Nunca tinha escrito nada tão feminista. Esse texto surgiu depois de uma tarde estranhamente chuvosa que me obrigou a ficar retida em casa. Nesse dia, devorei uns artigos publicados numas revistas acerca da fraca figura feminina e dos ataques histéricos que as mulheres tinham na época dos saldos, isso irritou-me profundamente, portanto decidi contrariar opiniões. Acho que muitas das coisas que escrevem e publicam acerca da figura feminina ficam aquém da realidade. Tentei que as pessoas se aproximassem mais da minha realidade e decidi "palavrar" sobre um dos grandes motores da sociedade: a mulher.

Existe algum texto que nunca irás ser capaz de partilhar com ninguém?
Bem, eu vejo os meus textos como extensões minhas. É difícil falar sobre tudo e colocar o nosso cunho pessoal em tudo o que escrevemos. Acho que existem coisas que guardo para mim, que ainda não foram suficientemente polidas para serem publicadas. Não posso despir a minha alma por completo, no máximo posso ir desvendando o véu.

A derradeira questão: papel e caneta ou computador?
As duas coisas. Gosto muito de sarrabiscar o papel, de estar em contacto direto com a caneta, com o cansaço de escrever. Mas também gosto de usar o computador para ir simplificando as coisas. Vivemos numa era tecnológica. A escrita tem que ficar carimbada para lá do papel. Esta é obrigada a timbrar a tecnologia também.

O que é que te inspira tanto na escrita como na carreira que escolheste seguir: o jornalismo?
Ainda ando à procura da simbiose. É inegável o meu amor pela escrita livre, mas também posso afirmar que não quero desistir do mundo do jornalismo. Eu ainda tenho uma visão romântica sobre essa profissão. Acho que os jornalistas podem informar e ser contadores de histórias ao mesmo tempo. Quando conseguir encontrar o equilíbrio dessas duas vertentes vou descobrir a minha alma gémea no mundo das profissões.

A tua escrita expressa uma enorme criatividade. Sendo a escrita jornalística por vezes um pouco mais compacta, menos criativa, sentes que, de certa forma, esta pode acabar por reprimir o teu lado mais artístico?
Como já fui referindo anteriormente, eu quero encontrar um equilíbrio entre a escrita mais fluída e a escrita informativa. Não acredito que o jornalismo vá reprimir o meu lado artístico, acho que o vai moldar. Tenho a certeza que se surgirem as oportunidades certas eu vou conseguir colocar a minha criatividade, de uma forma mais contida, à prova.

Tendo em conta o tipo de escrita que mostras no teu blogue, uma escrita bastante expressiva, pensas um dia alear essa expressividade à escrita jornalística através da crónica?
Escrever crónicas? Quem é que nunca desejou escrever uma crónica de opinião sobre os temas que mais gosta? Claro que sim. Adoraria poder colocar o meu espírito crítico à prova e escrever sobre os mais variadíssimos temas. A multifuncionalidade e a polivalência são as características que melhor definem um jornalista. Se eu tivesse essa chance de poder aliar essa mestria a uma ecrita mais subjetiva, alcançaria o apogeu dos meus objetivos. 

Consideras importante para um jornalista ou aspirante a jornalista a criação de um blogue?
Não acredito que seja absolutamente fundamental. Eu tenho um blogue e enquanto estudante de comunicação social acho crucial ter uma plataforma com a qual crie um elo de ligação e profissionalismo, mas não acho que isso tenha que servir de regra para todos os profissionais.

Para terminar, gostaria de te perguntar até onde gostarias de levar este teu gosto pela escrita?
Gostaria de passar clandestinamente as barreiras da criatividade. Não quero delimitar fronteiras nem quero que estas me limitem. Vou continuar a escrever e a publicar alguns apontamentos que acho pertinentes. Quanto ao futuro esse ainda vai continuar no segredo dos Deuses. Essas semelhantes entidades divinas nem a mim me elucidam acerca do meu percurso. Sei apenas que este será preenchido por muitas palavras: umas vezes monossilábicas e outras tantas polissilábicas.

O blogue de Marta Araújo pode ser visitado através do endereço http://araujosmarta.blogspot.pt/

Sara Pestana

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