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sábado, 19 de dezembro de 2015

"Criar oportunidades é construir a própria sorte"

Noémia Malva Novais


Jornalismo e profissão


É historiadora, escritora, jornalista e consultora. Assume-se como eterna aprendiz e, como republicana que assevera ser, rejeita os títulos académicos fora do seu contexto próprio.

Uma historia ao contrário.
Noémia Malva Novais ambicionava ser historiadora, e trabalhar em investigação. Os pais sonhavam vê-la licenciada em Direito. No ano de 1988 candidatou-se à faculdade de Direito da Universidade de Coimbra mas, por uma décima, não conseguiu colocação.
Há males que vêm por bem. Conta Noémia que nesse Verão, em conversa com uma amiga, decidiu começar a colaborar com órgãos de comunicação locais. Estabeleceu contacto com alguns jornais e, quase instantaneamente, foi admitida como jornalista estagiária no Diário de Coimbra.
Em 1989, conquistou o seu assento na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Nos quatro anos seguintes concluiu a almejada licenciatura em História - via investigação, enquanto, simultaneamente, exercia a profissão de jornalista em jornais diários, a tempo inteiro, sem nunca beneficiar do estatuto de trabalhadora estudante.
O trato de honra que havia selado com o seu pai, que se opunha a que a filha trabalhasse durante o período de aulas, nunca foi quebrado: Noémia nunca reprovou a nenhuma cadeira, nem nunca teve necessidade de ir a exames de final de época. A historiadora dá conta que, mais do que cumprir o compromisso com o pai, aproveitar os meses de Verão sem preocupações académicas era o “elixir” que necessitava para recuperar da vida atarefada que levava durante o ano lectivo.
Habilitada desde 1988 com a Carteira Profissional nº 1223, a sua experiencia como jornalista vingou nos jornais Diário de Coimbra, Diário As Beiras, Jornal de Coimbra, A Capital, O Comércio do Povo e nas revistas Visão, Sábado e Invest até ao ano de 2010.
A par disso, licenciou-se em Historia – via Ensino, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em 1998. A mestre em História Contemporânea pela mesma faculdade desde 2004 – com Distinção e Louvor -, participou ainda em diversos seminários de PhD na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa durante o ano de 2007.
Em 2011 torna-se a voz da TSF, Rádio Notícias em Coimbra e em Aveiro. Em 2013 doutorou-se, com nota máxima em Ciências da Comunicação, especialidade de Comunicação e Ciências Sociais, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.


Entrega do Prémio de Defesa Nacional
Notícia do Doutoramento em Ciências da Comunicação



A sua experiência profissional estende-se ao professorado, à orientação de estágios e à assessoria de Imprensa e Imagem do Governador Civil do Distrito de Coimbra, Luís Pedroso de Lima. Participou em projectos científicos, integrou a comissão científica de congressos internacionais; participou em conferências e comunicações orais por convite e por proposta; moderou mesas-redondas em congressos internacionais; interveio em iniciativas cívicas e associativas. Publicou livros científicos, artigos e capítulos em revistas e livros científicos e, mais recentemente, lançou duas obras de literatura infantil.
Distinguida com o Prémio de Jornalismo Direitos Humanos e Integração 2013 (1ª Menção Honrosa) atribuído pela Unesco e pelo Gabinete de Meios de Comunicação Social pela reportagem «Muito mais que um corpo»; com o Prémio de Cidadania da Fundação Manuel António da Mota 2013 graças à reportagem «Venham mais sete» e com o Prémio Literário Aristides de Sousa Mendes 2004 atribuído à sua dissertação de mestrado «João Chagas. Diplomacia e Guerra. 1914-1918», Noémia suspende, em 2014, a actividade de jornalista.
Actualmente, a investigadora colaboradora do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (Ceis20) da Universidade de Coimbra, é consultora de Comunicação Política na Agência de Comunicação F5C, First Five Consulting, Lisboa – exercendo a actividade, maioritariamente, na Associação Nacional de Municípios Portugueses.
A comunicadora assume que o seu percurso académico e todo o seu reconhecimento profissional não ficou a cargo da sorte. A sua foi uma história desenhada pelo esforço, pela dedicação, pelo amor ao jornalismo, à escrita e ao desejo de independência.
A sede de conhecimento e a certeza de que todos os dias constituem novas oportunidades para saber mais ditaram as suas escolhas profissionais e pessoais.
Não exerce, neste momento, a profissão de jornalista e explica o porquê. Segundo a estudiosa, o jornalismo em Portugal é uma profissão muito mal remunerada - não paga o trabalho e a paixão que exige.
No ano transacto, surgiu um convite, muito apelativo e bem estruturado, para exercer funções como consultora de uma agência de Comunicação Política, cargo para o qual teria todas as skills necessárias - Noémia aceitou. Foi um processo de decisão longo e difícil, e aponta o factor económico como o principal peso na balança da decisão.
A pesquisadora do Centro de Ciências Sociais do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, acrescenta ainda que, existe um momento na vida em que é difícil, perseguindo o sonho jornalístico em Portugal, ter um nível de vida um pouco mais desafogado que a idade já exige. Trata-se da necessidade de proporcionar boas oportunidades de formação aos dois filhos e de ter estabilidade familiar e económica.
Porém, ressalva que não fechou, de todo, as portas ao jornalismo e que não fez o funeral ao “bichinho de jornalista” que é inerente à sua condição natural. Ainda assim, explica que não lhe agrada o trajecto de um jornalista que cessa funções avançando para o plano da consultoria e que, posteriormente, regressa aos media – diz não considerar justo, uma vez que se cria contacto com realidades que não estão ao alcance dos restantes jornalistas de campo.
Na certeza de que o futuro lhe reservará sempre novos desafios prepara-se, diariamente, para estar à altura de os abraçar. A sua sede de conhecimento é insaciável, «quanto mais aprendo, mais me apercebo do quão pouco ainda sei».
Noémia Malva Novais constitui o perfeito exemplo prático da larga experiência jornalística e da sabedoria comprovada que não resistiu, por motivo das contingências económicas e sociais do país, ao exercício do trabalho jornalístico em órgãos de comunicação social. Como, de resto, sempre fez durante mais de 25 anos de profissionalismo e de total entrega.

Trabalho realizado por:
Fábio Mendes; Jonny Xavier; Leonor Candeias; Márcio Pereira [Grupo 2]






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