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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

"É uma experiência muito própria" - João Luís Jesus

João Luís Jesus, mestrando em Engenharia Electrotécnica e de Computadores na Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra, está no ensino superior desde 1988. Desde 13 de Janeiro de 2000 é o Dux Veteranorum da Universidade de Coimbra.

Diana Teixeira(DT): O que é que o leva a não deixar a universidade?
João Jesus (JJ) - Durante muito tempo foi o aprender a gostar desta casa, desta academia que é diferente em tudo. Comecei-me a envolver nisto através das secções, através da organização de queimas, latadas e comecei a gostar disto e a perceber o que era realmente a Académica, a Academia de Coimbra e ganhei um gosto muito grande por isso. Depois fui ficando, fui-me mantendo nas coisas até que me candidatei a Dux, ganhei as eleições e fiquei por cá. E agora, também já estou a trabalhar e as coisas ao mesmo tempo acabam por se prolongar.

DT - Se pudesse dar uma definição, qual é a função de um Dux Veteranorum?
JJ - A definição é fácil. Dux Veteranorum é um veterano que foi eleito em reunião de Conselho de Veteranos numas eleições perfeitamente normais. Na altura em que me candidatei houve três candidatos, eu ganhei. É o poder dos votos. As funções específicas: compete-lhe presidir às reuniões do Conselho de Veteranos e tem a função de representar o Conselho de Veteranos institucionalmente e em situações que possam envolver praxe. O resto é ir zelando pela parte digamos permanente daquilo que é o Conselho de Veteranos e ser a face visível da estrutura que é o Conselho de Veteranos dentro da praxe académica da Universidade de Coimbra.



DT - E de onde é que nasceu o interesse pelas questões praxísticas?
JJ - Desde sempre, a partir do momento em que eu comecei a andar nos corredores desta casa, a ver o que se passava à minha volta. Desde o primeiro dia em que eu fui caloiro, também foi muito bem praxado por malta à antiga que faziam praxe mais antiga. A praxe evoluiu. Fiquei com um bichinho, de achar isto muito engraçado, bonito, uma maneira diferente de estar e depois com os anos uma pessoa foi conhecendo melhor e fui gostando mais e cá estou.

DT - Como disse a praxe evoluiu. Quais acha que são as principais diferenças entre a praxe a que foi sujeito e praxe que há actualmente?
JJ - Eu fundamentalmente vejo duas grandes diferenças da praxe actualmente do que era há vinte anos atrás: a primeira é que antigamente a praxe não era sazonal, existia durante o ano todo. As pessoas viviam a praxe durante o ano todo tanto mais que a estrutura da praxe continua igual, as pessoas é que se tornaram mais sazonais. É na latada, é na queima, no início das matrículas mas durante o ano esquecem um bocadinho. Essa é uma grande diferença. Antigamente não esqueciam, era durante o ano todo. A outra grande diferença: a praxe era um bocadinho mais global em termos de universidade. As pessoas identificavam-se em primeira instância com a Universidade de Coimbra e só depois com as suas faculdades e os seus cursos. Neste momento passa-se exactamente o inverso: as pessoas primeiro identificam-se com o seu curso, com o seu departamento, a sua faculdade e finalmente lembram-se que também são da Universidade de Coimbra. Inverteu completamente a perspectiva que as pessoas têm da sua condição de estudante dentro da praxe.

DT -  Porque é que acha que houve essas alterações?
JJ - Na sua generalidade tem a ver com a evolução da própria maneira de organização do ensino superior. As mudanças que foram feitas ao longo dos anos, a evolução da sociedade e a pressão que é colocada sobre as pessoas em que elas não têm tanto tempo para despender em coisas paralelas faz com que só os pontos mais importantes é que lhes dediquem mais atenção. Durante o resto do ano passa-lhes um bocado ao lado porque têm outras coisas para fazer e isso é uma consequência da evolução da sociedade. Quanto à inversão acho que isso tem a ver com as pessoas serem um bocado mais egoístas e olharem só para o que está perto e não para o que está mais longe. A universidade neste momento está dividida pela cidade toda, antigamente estava concentrada aqui ao pé da torre, agora temos o pólo II, o pólo III, temos psicologia ligeiramente – que era a única excepção e estava um bocadinho mais afastada, temos desporto lá em baixo, portanto temos universidade nos quatro cantos de Coimbra. Isso cria uma tendência natural de as pessoas nos sítios onde estão ficarem um bocadinho mais só por lá e não irem procurar o que é que está à volta, não há tanta interacção entre as pessoas. Eu lembro, quando fui praxado, no meu primeiro ano, à minha volta havia gente de medicina, de direito, de farmácia, de letras, ciências, era uma miscelânea de faculdades. Andava toda a gente junta, toda a gente se conhecia de todos os lados. Agora não, agora as pessoas conhecem só aquilo que está à sua volta, o seu curso, a sua faculdade e só mais tarde é que, não necessariamente através dos mecanismos de praxe, de sociabilização, só mais tarde é que começam a ver o que é que existe porque está muito longe e não se deslocam lá propositadamente. Antigamente estavam juntos, eram obrigados a integrar e acabavam por se conhecer todos e havia essa interacção imediata. Agora ela não existe, se calhar por causa disso é que as pessoas estão cada um mais no seu canto.


DT - Qual a ligação entre o Conselho de Veteranos e a Associação Académica de Coimbra?
JJ -Para já estamos sediados no edifício da Associação Académica de Coimbra. Agora é assim, a Associação Académica de Coimbra, através do seu órgão representativo máximo que é a direcção geral tem funções muito específicas que é representar os estudantes no que diz respeito aos seus direitos como estudantes, parte associativa. O Conselho de Veteranos não tem absolutamente nada a ver com essa parte, tem um papel e uma função completamente distinta: tem a ver com as tradições que foram ao longo do tempo desenvolvidas entre os estudantes, regulamentá-las, vigiá-las e zelar para que se mantenham como parte integrante da história e património da Universidade de Coimbra e dos seus estudantes. Uma coisa não interfere com a outra. São completamente separadas. Agora é lógico que há certos pontos que se tocam. Nos pontos em que se tocam pelo menos desde que eu me lembro sempre existiu uma boa relação e uma colaboração entre o Conselho de Veteranos e a Associação Académica de Coimbra. Agora cada um tem uma função muito específica: uma coisa é a representação institucional dos estudantes na sua condição de estudantes e dos seus direitos, que é a função da Associação Académica de Coimbra e proporcionar outras actividades; outra coisa é as tradições desenvolvidas pelos estudantes do qual o Conselho de Veteranos é o órgão máximo e também o representante dessa tradição para fora. As competências da Associação Académica de Coimbra nada têm a ver com as competências do Conselho de Veteranos apesar de se tocarem em muitos pontos. Onde se tocam, colaboram, onde não tem nada a ver uma coisa com a outra “cada macaco no seu galho”.


DT - Continua a frequentar a associação académica fora das suas funções enquanto Dux?
JJ - Para além de ser Dux e ter as funções que dizem respeito ao Conselho de Veteranos, também pertenço a outras secções e não me desliguei disso, muito pelo contrário. Gosto muito das secções e das actividades que a associação académica desenvolve ou através delas. Cada vez frequento menos mas continuo a frequentar a associação não necessariamente só por causa do Conselho de Veteranos.

DT - O que é que o continua a mover para a associação académica?
JJ -É difícil definir e descrever isso é, é uma vivência muito própria. É conhecer gente dos quatro cantos do país, cada um da sua maneira de ser mas no fundo há qualquer coisa que nos faz todos vir ao mesmo sítio e isso é uma coisa muito difícil de descrever. Sente-se, não se vê. É uma vivência muito própria, num ambiente muito próprio. Não se consegue definir por palavras, só se consegue sentir.


Diana teixeira, grupo4

3 comentários:

  1. Arranjem uma consulta de psiquiatria para este pallhaço, já!
    Vai trabalhar madraço

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  2. Como é possível ter 24 matriculas???????????

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