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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

"O movimento prossegue a consciência, advogando desta maneira uma evolução fluida e progressiva, tanto a nível pessoal, como social, tecnológico e espiritual. "

Francisco Guerreiro tem 26 anos e é licenciado em Comunicação Social. Após o término do curso foi convidado a ficar na redacção do “Meia Hora”, onde fez estágio, mas este acabou por fechar. Pretende fazer mestrado no Brasil em relações internacionais e actualmente é Coordenador da Equipa de Comunicação a nível nacional do Movimento Zeitgeist.

Ana Serrano (A.S.) - O que é o Movimento Zeitgeist?
Francisco Guerreiro (F.G.) -  Ora, o Movimento Zeitgeist não é um movimento político, nem tão-pouco reconhece nações, governos, raças, religiões, credos ou classes. Estas distinções são incoerentes e obsoletas, estando longe de serem factores positivos para o verdadeiro desenvolvimento e potencial humano. As suas bases assentam na divisão de poder e na estratificação, não na igualdade e união, que são os nossos objectivos. O movimento prossegue a consciência, advogando desta maneira uma evolução fluida e progressiva, tanto a nível pessoal, como social, tecnológico e espiritual. O objectivo é rever a sociedade de hoje de acordo com os conhecimentos actuais, não só fomentando a consciência quanto às possibilidades tecnológicas e sociais existentes, para as quais muitos foram condicionados a pensar serem "impossíveis" ou contra a "natureza humana", mas também providenciar um caminho para ultrapassar estes elementos perpetuados por um sistema de sociedade obsoleto. Somos portanto o braço activista do The Venus Project (TVP), não tendo uma estrutura centralizada, ou seja não existimos para liderar mas educar e organizar.

A.S. - Como tomaste conhecimento do movimento? Já estavas ligado a algum outro movimento?
F.G. - Tomei conhecimento com o Movimento Zeitgeist, e atenção que este apenas se formou no seguimento do 2º documentário de Peter Joseph, Zeitgeist Addendum (2008), onde é explicado o The Venus Project, e uma Economia Baseada em Recursos, de uma forma orgânica com a visualização do Addendum. Isto no que concerno o Capítulo Internacional, o primeiro a ser lançado (2008), contudo o mesmo aconteceu com o capítulo português, criado a 25 de Jullho de 2009. Este último, na prática, só depois do site ter sido lançado e já haver uma estrutura linear, ou seja passados 6 meses da sua criação. Nunca estive ligado a nenhum Movimento Social porque simplesmente os via como recorrentes e incapazes de mudar as causas gerais dos problemas da sociedade.

A.S. - Antes de conheceres o movimento ou veres algum dos filmes já conhecias algum dos pensadores mencionados?
F.G. - Conhecia, apenas por audio, o pensador indiano Jiddu Krishnamurti, que a devido tempo mudou a minha perspectiva do e de ser, tal como transformou a intrínseca percepção do sentido de existir.

A.S. - Na conferência da semana anterior, disseste que quando viste o filme pela primeira vez muitas questões te haviam surgido. Que questões eram essas?
F.G. - Bem, como sou um aficionado em geopolítica, história e neurociências, já conhecia alguns pressupostos expostos no filme porém fiquei com dúvidas na questão de como era criado o dinheiro, ou seja estava incrédulo como algo tão linear pode ser tão bem disfarçado, e no que concerne a tecnologia aplicável aos modelos do TVP, e sua exequibilidade. Algo que com análise e cruzamento informativo rapidamente concordei (empiricamente).

A.S. - No primeiro filme são apresentados argumentos que deitam por terra a história de Cristo e que fazem dela mais a reprodução de outras histórias anteriores provenientes, por exemplo, da cultura egípcia ou persa. O que é que levou a que o movimento se afastasse desta questão?
F.G. - O primeiro filme, Zeitgeist: The Movie, é uma reflexão do autor, Peter Joseph, e por tal o Movimento Zeitgeist (MZ) não está ligado a essa película, sendo criado a partir do segundo, Zeitgeist: Addendum. Deste modo o Movimento sempre teve a mesma posição em relação a esta temática, ou seja, compreende que tudo na ordem natural é evolutiva e simbiótica com o meio envolvente daí se frisar as instituições como estáticas e desvinculadas de qualquer relevância social, sendo em grande parte um travão ao desenvolvimento da sociedade. Muito linearmente as religiões que façam aquilo que pregam. Neste campo a posição do Movimento complementa-se com o pensamento do filósofo Jiddu Krishnamurti no que concerne a espiritualidade.

A.S. - No segundo filme é apresentada uma “solução”, o The Venus Project. Em que é que consiste? O que é que implica?
F.G. - Uma total reestruturação da sociedade, não só em termos tecnológicos, económicas, de gestão de recursos mas sobretudo a nível social e relacional. A transição de uma sociedade monetária para uma Economia Baseada em Recursos mundiais não só é a única solução para terminar os presentes conflitos (pessoais, organizacionais, civilizacionais, etc..) como a mais orgânica no que concerne a gestão dos recursos para uma melhoria do meio ambiente e verdadeira liberdade humana. Isto tendo em conta a aplicação do método científico para o benefício social global, não baseado em opiniões ou subjectividade, mas na gestão das melhores soluções dentro do tempo de análise, ou seja não se tem conclusões mas chega-se a elas.

A.S. - Como se deu a associação das ideias e do projecto de Jacques Fresco ao movimento?  Como se daria a mudança social de que ele fala?
F.G. - Os objectivos de ambas as entidades são comuns e por tal falam em uníssono, sendo apenas as suas abordagens e directrizes diferentes, ou seja, o MZ educa e consciencializa para a necessidade imperiosa de uma alteração do paradigma civilizacional actual, e o TVP põe em prática essa mudança aplicando a metodologia científica e social na transposição dos actuais problemas. Os caminhos para seguir estão a ser calcetados com a criação de projectos pioneiros em indústrias limpas e auto-sustentáveis, tal como a criação de academias educacionais gratuitas e num futuro breve a criação de uma cidade modelo auto-sustentável, que servirá de modelo e laboratório para as que se seguirão. Porém nada é linear muito menos idílico.

A.S. - O que tens para dizer às críticas que surgem sobre o Zeitgeist, nomeadamente a sua associação a mais uma teoria da conspiração?
F.G. - Todas as críticas construtivas são aceites e discutidas, até porque se genuinamente perguntamos, honesta e empiricamente devemos ser esclarecidos. Tudo o que se baseia na opinião e ataque, sem justificação ou razão analítica é pura demagogia e perda de tempo, fazendo parecer tais observações campanhas políticas que utilizam para além de subterfúgios orais (problema da não aplicação de uma metodologia científica), vínculos emocionais com os receptores, de modo a criarem empatia e, consequentemente, desinformação. Por fim, se desejamos uma Economia Baseada em Recursos, sem as prisões mentais e físicas, e o trabalho que realizamos está exposto e pode ser acedido por qualquer um não vejo como isso pode ser considerado conspiração.

A.S. - Antes perguntei quais a dúvidas que te surgiram num primeiro contacto com o filme. E hoje quais são as tuas dúvidas? Continuas a questionar o movimento?
F.G. - Continuo a questionar tudo o que me rodeia, porém percebo que a única solução viável é uma transição para uma Economia Baseada em Recursos, com a total reestruturação do tecido social mundial, através da educação e consciencialização. As minhas dúvidas, dentro do Movimento, centram-se em que medidas tomar para atingir a transição do modo mais suave possível para todos, isto é que todos sejam abarcados, sem excepções e/ou preferências. Esta é a nossa época..a mudança somos nós.

Por: Ana Serrano

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