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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

“Arte não é um objecto, é uma ideia”


Ilustração para o concurso "Ilustra Portugal" - ETIC

Participante no projecto de arte urbana para o Pavilhão de Portugal da Expo 98 (1998) e vencedor da Mostra Internacional de Arte Urbana de Oeiras (1999). Estas são apenas amostras da intervenção de Ricardo Diogo, de 31 anos, no universo da arte urbana portuguesa. É natural de Santarém e com apenas 15 anos apostou no seu sonho e rumou a Lisboa. Estudou Geral de Artes na Escola Secundária António Arroio e licenciou-se em Design Gráfico e Comunicação na Universidade Lusófona de Lisboa, onde, ainda como estudante, foi convidado a organizar uma conferência sobre o seu trabalho e a arte urbana para os alunos da universidade. Como graffiter, Ricardo Diogo pintou os pátios exteriores da Escola Manuel de Maia de Lisboa e da Universidade Lusófona de Lisboa, inúmeras lojas, cafés, bares, entre outros. Actualmente, faz parte da Direcção de Arte e Design Gráfico na agência de publicidade Mccann Erickson, personaliza ténis e sapatos e trabalha como freelancer para várias agências de publicidade.


Sandra Portinha (SP) - Quando é que descobriu que tinha nascido para a arte?

Ricardo Diogo (RD) - Quando tinha 4 ou 5 anos. Desenhava com o meu pai no balcão da loja dele e ia para os armazéns desenhar em todas as caixas de mercadoria.

SP - Desde sempre se interessou por arte. Porque é que decidiu seguir design?

RD - O design é também uma vertente da arte embora normalmente seja mais utilizado comercialmente. No entanto, podem também ser feitas peças de design sem qualquer intenção comercial. A escolha do design não foi muito pensada. Eu queria seguir artes plásticas, no entanto, não entrei nas Belas Artes e decidi seguir design. São percursos dos quais não podemos fugir e ainda bem, caso contrário, a vida não tinha sabor.


Personalização de Ténis

SP - Existe alguém, algum artista, que o inspire?

RD - Existem muitos artistas de todas as áreas que me inspiram. Seria impossível enumerá-los todos, iria esquecer-me de algum importante de certeza. Mas no geral, o mundo e tudo o que nos rodeia são fontes de inspiração.

SP - O seu trabalho é muito versátil, passa pela publicidade, ilustração, arte urbana, costumização, etc. O que é que lhe dá mais gosto fazer?

RD - Todas essas áreas me dão prazer mas claro que o que me dá mais prazer é quando o trabalho não é comercial e não tenho de seguir regras. Nessas alturas é que saem os melhores trabalhos criativos.

SP - Como é que se cria um estilo próprio? Como define o seu estilo?

RD - Não existe uma fórmula para criar um estilo. Ou tens, ou não tens. Mas para afirmares esse teu estilo precisas de muitas horas e anos de trabalho experimental. Em relação a definição do meu estilo, penso que será mais fácil uma pessoa exterior me dizer porque, para mim, o meu estilo “bebe” influências de tudo o que eu vi e passei na minha vida. É uma fusão.

SP - Que intervenção teve no Pavilhão de Portugal da Expo 98?

RD - Era um graffiti que interagia com uma história protagonizada pela menina Lisboa e que entrava num vídeo projectado no espaço.


Ilustração para o cartaz do Festival
Rock da Velha 09

SP - Vencer um concurso internacional (Mostra Internacional de Arte Urbana em Oeiras - 1999), ser convidado para falar do teu trabalho aos alunos da Universidade Lusófona e para participar na intervenção do Pavilhão de Portugal, para além dos outros trabalhos, deu-lhe mais determinação para seguir o seu sonho?


RD – Claro. Tais como outras conquistas, vão dando força para avançar e querer mais.

SP - Sente que o seu trabalho e a sua dedicação são reconhecidos?


RD - Sim, graças ao meu trabalho e à minha persistência hoje estou num lugar confortável e a fazer o que gosto. Milhares de designers desejam o meu lugar.


SP - Por agora suspendeu o graffiti da sua vida?

RD - Estou a pensar dar uma nova importância a isso. Tenho saudades da liberdade do graffiti. Ajuda-me a matar a sede de experimentar.

SP - O que é para si a arte urbana?

RD - Arte urbana é toda e qualquer atitude criativa pensada para viver directamente com as pessoas no meio urbano.

SP - Como vê a arte urbana em Portugal em relação a outros países?

RD - Muito bem. Tem crescido bastante nos últimos 10 anos. Temos artistas internacionalmente reconhecidos e temos trabalho com muito boa qualidade.

SP - Acha que os portugueses têm uma mentalidade fechada em relação aos artistas urbanos? 

Pin´s para a marca Banana Gun

RD - Não. Principalmente nos grandes centros urbanos. As pessoas já não olham para este tipo de arte como uma atitude marginal, mas sim irreverente e hoje em dia toda a gente é irreverente, graças á crise. Toda a gente grita e se queixa de tudo e todos e isso é arte urbana. É tornar pública a expressão de cada, seja de que forma for. Assim, as pessoas de hoje conseguem entender e aceitar melhor este tipo de intervenção artística.

SP - Acha que existem Graffitis ou Tags que são apenas pura degradação do espaço urbano ou tudo é arte?


RD - Obviamente que nem tudo é arte. Nos últimos anos o graffiti tornou-se moda e existe muita gente a pintar com latas só porque é fixe e porque quer pertencer “àquele” grupo.

SP - Acha que a arte urbana devia ser mais valorizada em Portugal? O que pode ser feito para isso?


RD – Actualmente, estão a ser feitas muitas coisas para isso. Estão a ser convidados artistas nacionais e internacionais para intervir em fachadas inteiras de prédios devolutos em Lisboa. Estão a convidar artistas internacionais para expor em galerias, museus ou até na rua, etc. Isto é tudo muito positivo para a nossa evolução. No entanto, há muito trabalho a fazer fora dos grandes centros urbanos.


SP - Que papel tem a arte, nomeadamente a urbana, para a sociedade?

RD - Alertar as pessoas para o seu lado mais genuíno. A origem de quase todos os problemas no mundo é o interesse e o dinheiro é sempre o culpado. No graffitti a arte é oferecida como se convidasse toda a gente a entrar no seu mundo, sem dar nada em troca. A viver com mais atitude e sem interesses.


Posters para o projecto GANG

SP - Frans Krajcberg, artista polaco, disse que “a arte está em crise porque se prende inteiramente ao mercado”. Concorda que a arte é cada vez mais vista como uma mercadoria?

RD – Não, porque será sempre uma opção. Ou te vendes, ou não te vendes. Tudo depende do teu interesse pelo dinheiro.


SP - O que é que ainda pretende fazer?

RD - Tudo. A vida nunca pára. Uma experiência internacional não era mal pensada.


SP - Que conselho dá aos jovens que tencionam seguir um percurso como o seu?

RD - Criem a torto e a direito. Criem no tijolo, no papel do multibanco, no guardanapo, na pele, na rua, em casa, no carro, com coisas ou sem coisas. Arte não é um objecto, é uma ideia. Criar é pensar.



 
Por Sandra Portinha
Grupo 4

 
Fonte: Site de Ricardo Diogo; pt.wikiquote.org/wiki/Arte
Imagens: Ricardo Diogo

Mais informações: www.ricardodiogo.com ; http://www.behance.net/ricardodiogo




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