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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

“O objectivo é educar futuros cidadãos que irão participar activamente com os seus direitos e responsabilidades: é por isso para a cidadania.”

Peter Cunningham é coordenador do projecto Children’s Identity and Citizenship in Europe (CICE). Antes de chegar ao Ensino Superior foi professor primário. Interessado em temas como a cidadania ou a empregabilidade dos professores de comunidades de refugiados,  explica o que é a CICE e que trabalho desenvolve, assim como fala um pouco sobre a percepção de temas como a globalização pelos jovens. 


Ana Serrano (A.S.) - O que é a CICE? Que trabalho desenvolve?
Peter Cunningham (P.C.) – Financiado pela Comissão Europeia CiCe (Children’s Identity and Citizenship in Europe – Identidade das Crianças e Cidadania na Europa) é uma Rede Académica Erasmus vinculada a instituições preocupadas com a educação para a cidadania e o desenvolvimento de identidades nos jovens. A rede é composta de aproximadamente cem instituições de trinta países Europeus, com membros envolvidos na formação de professores, na formação de pedagogos sociais, educadores de infância, sociólogos e psicólogos sociais ou outras disciplinas relacionadas. A nossa rede traz debates sobre cidadania e identidade para a educação destes e de outros profissionais que ensinam ou trabalham com crianças e jovens enquanto eles desenvolvem novas e diversas identidades numa “Europa da diferença”. Para atingir este objectivo realizamos conferências, seminários e outros eventos e também produzimos materiais guia e recursos de ensino e aprendizagem.

A.S. – Como é que as crianças/ adolescentes, hoje em dia, percepcionam e aprendem questões sociais, politicas e económicas? O que é que eles entendem dos temas globalização e cidade global?
P.C. – Esta é uma questão interessante e que se encontra no coração da actividade da CICE. É uma questão complexa porque tem a ver com cada indivíduo: as crianças e jovens de diferentes idades vivem em diferentes comunidades e em diferentes países, em diferentes circunstâncias familiares e sociais. Não existe, portanto, uma resposta simples e é por isso que é uma preocupação da nossa rede. O que a CICE faz é partilhar experiências para assim podermos aprender uns com os outros, quiçá “pedir emprestados” ideias de ensino e aprendizagem que poderão ser úteis em outros contextos.
Embora reconhecendo a complexidade, vou generalizar: quando estava na escola aprendi sobre cidadania, sobre instituições cívicas e politicas, as regras dos indivíduos, como as pessoas podiam participar democraticamente na sociedade, etc. Hoje em dia coloca-se também ênfase na aprendizagem através da cidadania,  desta forma as escolas procuram envolver os jovens em simulações de parlamentos e tribunais, ou seja, um trabalho voluntário em que eles estão a aprender a ser cidadãos activos. Seja qual for a abordagem, o objectivo é educar futuros cidadãos que irão participar activamente com os seus direitos e responsabilidades: é por isso para a cidadania.
É claro que muita da aprendizagem acontece fora da escola, em contextos formais, informais e não-formal. A escola tem seu papel a desempenhar, mas é apenas uma parte da aprendizagem.

A.S. - O que é que eles entendem dos temas globalização e cidade global?
P.C.  – Isso varia de indivíduo para indivíduo. Na minha perspectiva pessoal, acho que  a geração jovem de hoje em dia tem maior consciência  dos aspectos  positivos e negativos da globalização do que eu tinha quando era jovem!
Respeitando a ideia de “cidade global” … bem, eu trabalho em Londres, uma cidade multi-cultural, antes de chegar ao Ensino Superior era professor primário e nas minhas escolas eram faladas cerca de sessenta línguas maternas diferentes. Por isso, a ideia de cidade global era uma realidade para estas crianças, entre os cinco e os onze anos.

A.S. -  Qual tem sido o papel dos Media na percepção destes termos? Quais são as ameaças e benefícios que eles representam?
P.C. - Dentro dos Media podem encontrar-se tanto as representações positivas  como as negativas, mas todos os impactos muitas vezes negativos da globalização são apresentados negativamente, por exemplo, no que diz respeito à migração.
Curiosamente os meus alunos discutiram o papel dos Media, no que diz respeito à cidadania,  na semana passada. Alguns viram os Media com um enorme potencial para educar, para iluminar, enquanto outros os viram como uma ameaça, através de grupos minoritários actualmente perigosos, ou através de "reality  shows" ou jornalismo de mediático, que dá reconhecimento a modelos inadequados.

A.S. – Qual é a importância das conferências regionais como esta que terá lugar na ESEC?
P.C. – Uma das regras importantes de qualquer rede é a disseminação. A conferência regional é uma excelente maneira de espalhar informação, atingindo muitas vezes um novo público que pode, então, desenvolver ideias para o seu próprio contexto.

A.S – O que é que faz com que a CICE, após 12 anos, continue a ser um projecto bem sucedido?
P.C. -  Eu creio que há duas razões principais: primeiro, porque é uma área dinâmica de interesse, a sociedade está em constante mudança e há necessidade de encontrar soluções para uma série de problemas em diferentes contextos. Em segundo lugar, os membros da rede  desenvolvem um trabalho colaborativo, temos interesse social e estamos ansiosos para ouvir e aprender com as experiências dos outros, sejam pesquisadores, trabalhadores professores ou aquelas profissões que trabalham directamente com crianças e jovens.

A.S. – Quais são os planos da CICE para o futuro?
P.C. - Estamos a aplicar por mais três anos de financiamento e espero que a nossa candidatura seja bem sucedida. No entanto, formámos também uma associação independente. A Associação CiCe é dependente de assinaturas de adesão e enquanto ela não é capaz de realizar eventos de grande porte e actividades vai proporcionando bolsas de investigação pequenas e fornece uma plataforma para a cooperação europeia.


Por: Ana Serrano

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