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domingo, 6 de fevereiro de 2011

Luís Oliveira
“A internet tem um lado inimputável, que se assemelha muita às portas de casa de banho. Todos podem dizer tudo sem consequências.”



Luís Oliveira na Antena3
 Já entrevistou músicos tão conhecidos como Depeche Mode, Slash, Coldplay, Metallica ou Ben Harper. A lista é infindável.
  Actualmente apresenta o TOP+, na RTP. Na Antena3 é o responsável pelo programa “E o Resto é Ruído” e  “Terminal 3”. Luís Filipe de Sousa Oliveira, natural de Arcozelo, Gaia. Estudou Comunicação Social na Universidade do Minho.  
  Hoje sente-se um priveligiado e tem uma paixão enorme pela rádio.


Fala-nos um pouco do teu percurso académico e como chegaste ao que fazes hoje.
Confesso que quando entrei na Universidade não tinha a certeza do caminho que ia trilhar. Sabia apenas que gostava de ter uma profissão criativa.
Em 2000, aproveitei o Verão e em vez de três meses de férias consegui um estágio na Rádio Nova no Porto. Como era Agosto, havia muita gente de férias e acabei por trabalhar bastante. No final desse mês, dois jornalistas receberam outras propostas e acabei por ser convidado a ficar. Sem falsas modéstias, tive muita sorte.
Em 2003 fui desafiado pelo Luís Costa (hoje subdirector de informação da RTP e que tinha sido meu director na Rádio Nova) a avançar para um projecto televisivo na NTV (hoje RTP-N). De início era suposto fazer reportagem e trabalho de produção mas acabei por ser também um dos apresentadores.
Não quis deixar de fazer rádio e propus um programa na Rádio Universitária do Minho ( chamava-se Sandinista) e esteve no ar cerca de um ano.
Entretanto comecei a fazer reportagens no Porto para o Top + e depois fui convidado para co-apresentar na RTP1 com a Serenella Andrade um concurso chamado SMS. Foi aí que me mudei para Lisboa.
Voltei à rádio em 2008, para a Antena3. Ainda no NTV/RTP-N fiz igualmente reportagem no programa Liga dos Últimos e A Hora de Baco.

Começaste pela Radio Universidade do Minho, como foi essa experiência?
Como só podia gravar ao fim de semana acabei por não ter uma relação profunda com os meus colegas, mas o suficiente para perceber que todos se dedicam de alma e coração a algo em que acreditam. Só foi desmotivante perceber que havia pouca gente de Comunicação Social na RUM (Rádio Universidade de Coimbra). E é uma pena porque as rádios universitárias podem ser "laboratórios" de comunicação únicos. É muito difícil, profissionalmente, encontrar um sítio onde se possa explorar com aquela liberdade…quase tudo.

Hoje na Antena 3 imagino que seja muito diferente, em que consiste o teu trabalho?
Tenho um programa de divulgação musical (E o Resto é Ruído) e asseguro também a apresentação do Terminal 3 (Aos Domingos entre as 17 e as 19) que é um magazine que pretende explorar o "universo 3" : discos com o nosso apoio, concertos etc. Para além disso, faço muito trabalho de produção que passa por escrever passatempos, promoções, programas especiais, etc.

A rádio para ti é uma paixão?
Sim. Espero fazer rádio para sempre.

Vês a rádio com futuro?
De maneira simplista, digo que enquanto houver automóveis haverá sempre rádio. E tem vários desafios pela frente. A internet pode ser uma forte aliada mais do que uma inimiga.

“És musica dos pés a cabeça”. Esta frase aplica-se a ti?
Sim…passando pelas orelhas, que no caso é o mais importante.

Como foste trabalhar para a Antena 3?
A certa altura a Antena3 precisava de alguém com o meu perfil e, como trabalhava no grupo e, já tinha colaborado em diversas situações com a estação acabei por ser contratado.

O que preferes, televisão ou rádio?
A rádio é mais justa. Dependemos de menos gente. E o facto de usarmos apenas o som ( a nossa voz, a música) espicaça mais a imaginação a quem nos ouve. Deixa mais coisas por dizer. A televisão tem armas diferentes.

O “Top+” é o culminar de um sonho?
Sobretudo deu-me oportunidade de conhecer muitos dos "meus heróis" e tenho igualmente que agradecer pelo facto de fazer este trabalho há muito tempo o que permite evoluir e criar uma rede positiva de ligações que nos torna melhores profissionais. Faço o Top + há 6 anos. Esta duração em TV é rara.

Fazes do teu trabalho divertimento, sentes-te um priveligiado?
Sim. Todos os dias. Mesmo nos dias maus.

O que é que mais te agrada na tua profissão?
Várias coisas. A possibilidade de viver da música, de ter poucas rotinas, de ( na rádio) poder descobrir e incentivar novos talentos, de conhecer muita gente interessante e de ir trabalhar todos os dias motivado e com a tal consciência que sou um privilegiado.

Já entrevistaste muitos musicos conhecidos...
Depeche Mode, Slash, Coldplay, Metallica, Mark Knopfler, Ben Harper, Nick Cave, Tom Jones…and the list goes on…

Qual foi a entrevista que mais te marcou?
Todas as que fiz ao Zé Pedro dos Xutos e Pontapés. Hoje é um amigo mas, mais do que isso é, alguém que junta um amor incondicional à música e à arte a uma generosidade gigante.
Também gostei muito de entrevistar o Seu Jorge. É um artista dos pés à cabeça com um discurso profundo e que faz reflectir.

Tiveste alguma entrevista em que tinhas expectativas enormes e no fim ficasses desapontado?
Sim

Com quem? O que te decepcionou?
A que mais me lembro foi a do Nick Cave. Mas a culpa foi minha. Sou fã e estava demasiado nervoso. Ele, digamos que, não facilitou.

Se tivesses de trabalhar noutro ramo do jornalismo qual seria?
Eu gosto da reportagem. É um género em que se tem desinvestido em favor da "espuma dos dias" mas a grande reportagem ligada às viagens, diferentes culturas e sociedades agrada-me, mas confesso que, por vezes não me sinto capaz de fazer esse trabalho. Já várias vezes me pediram para fazer trabalhos esporádicos ligados à imprensa, mas acabo por declinar porque não consigo gostar do que escrevo.

Sentes-te realizado?
Completamente. Trabalho no serviço público de Rádio e Televisão ( e sempre fui um romântico quanto ao papel do serviço público) e, com profissionais com quem cresci e, que me fizeram querer um dia estar deste lado.

Perspectivas para o futuro?
Continuar a fazer o que gosto e onde gosto. Parece pouco mas …é tudo.

Já tiveste outras propostas? Quais?
Sim, mas implicavam mudanças de vida radicais. Por delicadeza escuso-me a referir que propostas foram.

Vês a internet e os novos “ciber-jornalistas” como uma ameaça ao trabalho sério de um jornalista?
Sim e não. Por um lado, a net tem um lado inimputável, quase anónimo, que se assemelha muita às portas de casa de banho. Todos podem dizer tudo sem consequências. Mas por outro lado, no que toca ao jornalismo, abriu algumas portas interessantes. Alguma da melhor prosa no entretenimento/show-bizz nos dias que correm está na net. Porque há uma maior liberdade para pensar "fora da caixa".

Qual é o maior receio de um principiante em jornalismo?
Perceber que o talento e o trabalho podem não chegar para vingar na profissão.

E da “elite” jornalística?
De facto envelhecer/evoluir no jornalismo media é de momento dramático. Por razões economicistas e de um imediatismo perigoso, muitos meios tendem a dispensar com demasiada facilidade jornalistas de topo esquecendo-se que desta forma dispensam também memória. E não haverá nunca futuro sem memória.

Pela tua experiência, queres deixar algum conselho aos estudantes de jornalismo?
Odeio dar conselhos mas…cá vai um, talvez meio politicamente incorrecto. Percebam que muitas vezes a vossa valorização se vai fazer mais fora da sala de aula do que dentro. A universidade não pode dar o peixe, nem mesmo a cana. Tem, isso sim que nos ensinar a pescar. Os filmes que vemos, os livros que lemos, os amigos que temos, as viagens que fazemos, a música que ouvimos terá sempre um papel fulcral na nossa afirmação enquanto comunicadores. Escolham-nos bem.

Trabalho elaborado por: Cidália Casal 

1 comentário:

  1. Gostei muito da entrevista. As perguntas foram oportunas e interessantes, mas também tiro o chapéu ao Luís que deu respostas concisas e sem peneiras, tratando a entrevistadora de igual para igual. Parabéns!

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