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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Crítica - Escândalo na TV (1976)

Título original: Network

Origem: EUA

Realização: Sidney Lumet

Argumento: Paddy Chayefsky

Elenco Principal: Faye Dunaway, Peter Finch, Robert Duvall, William Holden


       Quando falamos de cinema relacionado com a temática da comunicação social e, mais particularmente, da televisão, é impossível deixar de referir Escândalo na TV. Sendo uma obra nomeada para dez Óscares e vencedora de quatro (Melhor Actor, Melhor Actriz, Melhor Actriz Secundária e Melhor Argumento Original), com a assinatura de qualidade de Sidney Lumet e um elenco de luxo, é fácil perceber porquê.

       O filme começa, desde logo, pela introdução de Howard Beale (Peter Finch), que fora, em tempos, um notável ícone televisivo. É o amigo e presidente da secção de notícias do canal UBS, Max Schumacher (William Holden), quem lhe transmite a notícia do seu despedimento no prazo de duas semanas, fruto dos baixos níveis de audiências que o seu programa noticioso tem vindo a registar nos últimos anos. Beale, que já se tornara isolado e depressivo devido ao seu crescente insucesso, vendo-se sem o seu emprego de longos anos, atinge o limiar da loucura e anuncia, no seu noticiário, que se suicidará, em directo, dentro de uma semana.

       A agitação da comunicação social torna-se inevitável. Schumacher convence o amigo a desistir da ideia do suicídio e este pede-lhe uma última aparição televisiva, como tentativa de se redimir e salvar a sua imagem pública. Inesperadamente, o apresentador improvisa um discurso de revolta e recorre a uma escolha de palavras inapropriadas. Beale e Schumacher acabam por ser despedidos, mas, ao registar-se um aumento de audiências como há muito não acontecia, Diane Christensen (Faye Dunaway) - que, diga-se, tem uma das interpretações mais notáveis da sua carreira - vê uma oportunidade de revitalizar o canal e persuade Frank Hackett (Robert Duvall), o novo dirigente, com o intuito de tomar a chefia do noticiário. Alcançado o desejado, Christensen cria um programa centrado em Beale, que, embora seja visto como um louco, se diz iluminado por uma força superior. Este assume um papel de salvador da nação americana, uma espécie de Messias, com o poder de mover massas. Mal Christensen esperava que seria Beale a trazer a ruína ao seu canal, ao tocar, num dos seus programas, em temas tão sensíveis como a política e a democracia, conduzindo a uma revolta e a milhões de telegramas de protesto dirigidos à Casa Branca e um final de proporções trágicas.

       Dotado de grande sobriedade e sabedoria própria de quem sempre viveu atrás das câmaras, Lumet teve a excelência de pegar num tema tão sensível para a altura do seu lançamento, tornando pública a verdade que escapa ao espectador comum. Ainda hoje, não deixa de ser uma película com uma componente chocante, sobretudo na sua recta final. Levanta vários pontos que nos levam a questionar a nossa natureza, desde a sede por audiências que se sobrepõe à dignidade humana ao poder que uma simples cara conhecida da televisão exerce numa sociedade de milhões de cidadãos.

       A obra falha no caso amoroso entre Schumacher e Christensen, na medida em que pouco ou nada tem a acrescentar à narrativa principal. Acaba por ser um ponto irrelevante e pouco conclusivo, o que conduz à quebra do ritmo do drama envolto sob a exploração psicológica de Beale, aquilo que verdadeiramente nos cativa durante o desenrolar do filme.

       Classificação: 4 em 5

Tiago Mota
Redacção 1

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