Em 2004 surgiu na
Alemanha um restaurante, no mínimo diferente, que foi vítima de polémica devido
a uma característica muito especial: é dedicado a pessoas anorécticas. A
fundadora deste restaurante sofreu também desta doença e aponta a incapacidade
para apreciar a comida como um dos problemas que atingem as vítimas de
anorexia. De facto, os anorécticos transformam uma simples refeição familiar
numa enorme carga de tensão, uma vez que tentam disfarçar a “falta de apetite”
- que eles próprios provocam - de modo a que ninguém perceba o seu problema. É
neste contexto que Katja Eichbaum vê o seu restaurante, como uma forma de os
anorécticos se divertirem a comer sem receios, pelo que denominou os pratos com
nomes que não se relacionam com os seus ingredientes de modo a que, para pedir
um prato não seja necessário falar em comida. Por exemplo, se desejar uma
deliciosa receita à base de lagosta basta dizer “Hallo” (“olá” em alemão). O
ideal do restaurante “Sehnsucht” (“saudade” em alemão), é precisamente ajudar
as pessoas que sofrem de distúrbios alimentares, devolvendo-lhes a sensação de
distracção que uma refeição pode proporcionar, já que a tendência destas
pessoas é refugiarem-se de refeições em público.
Os media têm sido fortemente atacados por
se acreditar que veiculam um modelo sociocultural de beleza baseado na magreza
extrema. É certo que se dedicam programas e revistas inteiras aos cânones de
beleza em vigência, mas é na moda que reside o principal impulsionador da
anorexia. Joana (nome fictício) tem 20 anos,
1,70m e uns escassos 43kg e afirma “o meu sonho sempre foi ser modelo
mas quando me olho ao espelho acho que ainda não estou suficientemente magra”.
O mundo da moda preenche o imaginário de muitas adolescentes mas cada vez mais
é preciso alertar para o perigo da anorexia de modo a evitar testemunhos como o
anterior. Um corpo magro é associado a beleza, sucesso e felicidade que
conduzem a dietas extremas e perigosas. Mas o que poucas adolescentes sabem, é
que a anorexia pode provocar sérios danos no sistema reprodutor feminino, pode
detectar-se através da descalcificação dos dentes, do crescimento retardado
ou até paragem do mesmo com a resultante má formação do esqueleto, de
depressões profundas ou até através de tendências suicidas.
Eis alguns números que vale a pena saber: 1 em 5 mulheres sofrem de
distúrbios alimentares, 70 milhões de pessoas no mundo têm distúrbios
alimentares, 15% dos anorécticos são homens, em cada mil adolescentes dois a
cinco sofrem de anorexia, a cada 5
pessoas anorécticas 1 morre. Uma delas foi Ana Carolina Reston que faleceu em
Novembro de 2006, aos 21 anos, vítima de uma infecção generalizada provocada
pelo estado de extrema fraqueza. A modelo brasileira tinha 1,74m de altura e
pesava 40kg.
A publicidade é também um sector muito associado à anorexia. Neste
sentido, o fotógrafo italiano, Oliviero Toscani, lançou em 2007 uma campanha
contra a anorexia em plena semana da moda em Milão. Esta campanha, financiada
pela marca de roupa Nolita, recorre à imagem chocante da modelo francesa
Isabelle Caro com somente 32kg para o 1,65m de altura cujo objectivo era
precisamente chocar para sensibilizar para os perigos da anorexia. E foram
mesmo esses perigos que vitimaram a modelo a 17 de Novembro de 2010, uma vez
que o grave distúrbio alimentar que possuía desde os 12 anos lhe arruinou
irreversivelmente a saúde. Assim, aos 28 anos, Isabelle Caro não resistiu aos
efeitos de uma pneumonia.
Apesar de todas as
sensibilizações e apelos como o da marca de roupa Nolita, o aumento da
incidência sobre a população é progressivo e não tende a parar. Qualquer
tentativa de fechar os olhos a este problema será em vão, visto que se torna
cada vez mais vulgar convivermos com pessoas afectadas por esta doença. Deste
modo, a nossa consciência e sentido racional obriga-nos a reflectir sobre este
assunto para que as mortes de Isabelle Caro, Ana Carolina Reston e todos os
restantes anónimos espalhados por esse mundo fora não tenham sido em vão.
Eduarda Barata R2
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