
Devo começar este artigo de opinião por vos dizer que não tenho bolsa
 de estudo. É, ao que parece sou rica, eu e tantos outros estudantes que
 também já pertenceram à chamada classe média e que graças à Troika e ao
 nosso belo governo deixou de existir. Eu achava que já nos poderíamos 
considerar pobres. Vejamos, contar tostões para poder comer algo fora de
 casa e descobrir que afinal o melhor será não comer, ter as contas da 
água, luz e gás atrasadas e a internet cortada, fazer duas ou menos 
refeições por dia constituídas por “um quase nada”. É esta é a realidade
 de muita gente que conheço e em parte a minha também, e eu achava que 
essas pessoas eram pobres e que eu estaria gradualmente a empobrecer 
também, mas afinal não. Afinal nós estamos ricos e não sabíamos. Se 
calhar o nosso problema não é falta de dinheiro mas sim falta de 
inteligência e discernimento para saber o que fazer com todo ele. Afinal
 de contas os deputados também ganham pouquinho e têm a vida que têm. 
Definitivamente a burrice é nossa. As nossas propinas são apenas 775€ 
anuais, sem contar claro com a pequena quantia que temos de pagar de 
matrícula e as outras diminutas despesas que podemos ter, como 
equivalências (que eu nem me arrisquei a pedir), fotocópias, etc. De 
facto pergunto-me porque é que famílias monoparentais, desempregadas ou 
outras que tais têm sequer a lata de pedir a bolsa de estudo. Com 485€ 
por mês, agora nem tanto, deve dar certamente para muita coisa, até 
porque as rendas das casas/apartamentos (t1 e t2) que a maioria de nós 
tem para viver com as suas famílias rondam apenas os 350 ou 400€ por 
mês. É claro que há mais caras, mas apesar de sermos “ricos” temos de 
ser comedidos. Depois sobram entre 85 a 185€ para pagar tudo o resto. 
Devo recordar que comer é um luxo e que não devemos abusar dele, afinal 
de contas não queremos contribuir para as estatísticas da obesidade. 
 
Agora
 a sério, estamos em Portugal, a crise está instalada e o Governo apoia 
todos menos quem realmente precisa. Há famílias a precisar de apoio, a 
precisar de incentivos. Se criaram as novas oportunidades e estão a dar 
de mão beijada o 9º e o 12º ano a pessoas que já trabalharam muito e que
 querem uma “nova oportunidade” mas também a parasitas que nada lhes 
apetece fazer e que vêm nisso uma forma de ter o 12º ano em 3 meses sem 
esforço e ainda terem possibilidade de ingresso ao ensino superior, 
então porque é que não dão oportunidade a quem cá chegou ao fim de 12 
anos de estudo, e muito esforço, de continuar nesta viagem e de se 
formarem? Porque é que vemos os nossos sonhos por terra porque o 
dinheiro foi todo para onde, muito possivelmente, não era preciso. Temos
 estudantes de fora que passam semanas longe da família pois a viagem 
sai cara. E uma ajuda para eles também? Não! O importante é dar dinheiro
 e casa a muitos estrangeiros que veem para cá e nada fazem mas que 
podem contar com a ajuda do “nosso” Estado. Obrigada pelo “estado” a que
 nos deixaram chegar, obrigada pelo País que deram à nossa geração, 
obrigada por contribuírem para que muitos de nós deixemos de ser o vosso
 futuro e tenhamos que partir em busca de sonhos que aqui ficaram 
perdidos. 
No fim de tudo isto só quero pedir, por favor, quem encontrar a minha bolsa, devolva-ma. 
 
por: Eva Pina 
O artigo está escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico 
 
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