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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

"Dos cinquenta para baixo já são poucos"

A população das regiões do interior está, literalmente, a desaparecer. Aquilo que outrora foi uma "mina de ouro", com base na agricultura, tem vindo a ser menosprezado pelos sucessivos Governos, que focam, sobretudo, as suas atenções para as regiões litorais e mais urbanizadas. Reflexo desta situação, é o constante despovoamento e envelhecimento demográfico que se tem verificado nos últimos anos. Nas aldeias e vilas do interior as oportunidades de emprego são mais escassas. Assim sendo, os jovens "interiores" vão à procura de uma vida melhor, deixando para trás a família e a sua terra natal. Com isto, as localidades do interior são habitadas quase exclusivamente por pessoas idosas, desempregadas ou na reforma que poucas condições têm para contrariar o êxodo rural.


É o caso de Lucília Pimenta, uma senhora de 76 anos, residente em Bairradas (Figueiró dos Vinhos), que generosamente cedeu uma entrevista ao Posts de Pescada.

 
Posts de Pescada:
Boa tarde! Vive nesta aldeia há muito tempo?

Lucília Pimenta:
Sim, quase desde que nasci. Só passei uns nove anos fora (Moçambique) , mas depois voltei para cá.

P.P: Gosta do modo de vida que cá leva?

L.P:
Não, não gosto muito, mas também não posso ter outro melhor.

P.P:
Moram cá muitos jovens na aldeia?

L.P:
Não, moram poucos, isto tem mais pessoas de idade que jovens. Os jovens vão todos à procura de uma v ida melhor, onde se possam governar melhor, porque aqui não há nada.

P.P:
Ainda cá vive muita gente?

L.P:
Não! Muito pouca, e tudo já dos cinquenta para cima. Dos cinquenta para baixo já são poucos.

P.P:
Porque é que acha que os jovens se vão embora?

L.P:
Vão-se embora porque aqui não há praticamente nada com que se possam governar. Aqui não há indústrias, não há coisa nenhuma e eles têm que procurar uma vida melhor porque de outra maneira não se governam.

P.P:
Portanto em termos de investimento e obras públicas…

L.P:
Não há nada, nada!

P.P:
Não deve achar que a achar que a aldeia tem um bom futuro para dar aos nossos jovens...

L.P:
Ahh não, não tem futuro nenhum. Nem na aldeia nem no concelho sequer! Têm que procurar fora.

P.P:
O que é que sente quando se apercebe que aldeia está a ficar vazia e envelhecida?

L.P:
A gente sente-se triste, mas a vida é assim, eles têm de procurar outro modo de vida. Nós já não porque já não temos idade para isso, mas as pessoas jovens têm que ver se conseguem arranjar outro modo de vida.

P.P:
Antigamente a vida na aldeia era mais compensadora, mais feliz?

L.P:
Sim, antigamente era. Apesar de não haver muitas coisas como se diz, que não havia dinheiro… mas a vida da aldeia era mais feliz, havia muitos jovens, e toda a gente se cá governava! Mal ou bem mas tudo se governava, passado depois os anos 60 é que começou isto a ser cada vez pior.



Entrevista áudio: http://soundcloud.com/ritalourencomendes/entrevista-lucilia-pimenta

por: Marcelo Carvalho, Eduardo Fortunato e Diogo Rosa

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