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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

“Querido Pai Natal…”



“Querido Pai Natal, este ano eu gostava de receber…” ora, era assim que as revistas de brinquedos dos vários hipermercados começavam a carta para as crianças enviarem ao Pai Natal. Quando era pequena, escrevi várias vezes para ele a pedir inúmeros brinquedos e, a verdade é que sempre conseguia um ou outro. Sabia perfeitamente que o Pai Natal não existia e que quem comprava o que eu queria era a minha família, mas aquela coisa de escrever uma carta era sempre algo de engraçado. Era uma miúda com sorte, bastava querer uma coisa e debaixo da árvore lá aparecia ela. Mas a minha mãe sempre me disse que as coisas não eram assim com toda a gente.


Sempre fui uma criança que sabia do que se passava pelo mundo fora. Sabia que fora do “meu mundo” existiam crianças sem brinquedos, sem comida, sem escola e alguns até sem família. Fui habituada a viver os meus natais com crianças órfãs que a minha tia trazia do lar onde trabalhava. Ainda hoje isso acontece. São crianças tímidas mas espantosas. Tiveram de aprender a fazer tudo sozinhas desde muito cedo e nunca tiveram nada do que queriam. A família delas são os lares que as acolhem, são as outras crianças que lá vivem, são os empregados dos lares que fazem tudo para eles terem uma vida minimamente feliz.


Lembro-me de um menino, há uns três ou quatro anos atrás, a quem a minha mãe perguntou o que ele gostava de receber no Natal, e ele apenas respondeu: “queria um cão de peluche mas não tenho dinheiro para o comprar”. Esse menino passou o Natal connosco e demos-lhe o tal “cão de peluche”. Não me lembro de ver uns olhos brilharem tanto como os dele naquela noite. Agarrou-se a nós a chorar e a agradecer. São coisas assim, simples, que deixam as crianças felizes, basta carinho e fazê-los sentirem que têm alguém a cuidar e a olhar por eles.


Nos dias de hoje, principalmente com a crise que tem atingido não só o nosso país como o resto do mundo, há cada vez mais crianças em lares, bebés deixados às portas das pessoas ou encontrados em caixotes do lixo porque os pais não têm condições de os criar. E, é nesta altura, no Natal, que eles mais precisam de alguém, de algo parecido com uma família.


O dinheiro tornou-se num factor de extrema importância para os portugueses. Nas notícias só se houve falar de tragédias, da crise, de coisas tristes. O espírito natalício já não é o mesmo. Para muitas pessoas nem há vontade de fazer uma simples árvore de natal. Não há dinheiro, não há prendas, e se não há prendas não há Natal. Mas porque é que têm as pessoas de pensar assim? Sempre ouvi dizer que o importante no Natal era a família estar toda reunida e não o haver prendas ou não. E se estas crianças pensassem assim? A diferença está ai. Elas não têm uma mãe, um pai, um avô ou uma avó. Elas não se preocupam em receber prendas ou não. Só lhes importa que não estejam sozinhas. E é isso com que nós, portugueses, temos de nos preocupar. Temos de deixar de pensar que não há dinheiro para isto ou para aquilo, porque um dia podemos ser nós a não ter ninguém num outro Natal.


As crianças órfãs ficam felizes com um abraço, com um mimo. Por isso, neste Natal, vamos tornar tudo um pouco diferente, deixar as preocupações de lado, deixar o problema do dinheiro de lado e viver o Natal no seu verdadeiro significado, com as nossas famílias.


Querido Pai Natal, que este Natal seja diferente de todos os outros!

por: Vânia Santos


*Este artigo não está de acordo com o novo Acordo Ortográfico

 

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