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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Traídos pela confiança

Fazem-se passar por fiscais da segurança social, bancários, médicos ou mesmo de familiares distantes. Aos burlões não falta imaginação quando se trata de escolher um disfarce para enganar um idoso.
Títulos como ‘Três idosos burlados por falsos técnicos’ (Jornal de Notícias) ou ‘Casal de idosos burlado em 4.000 euros’ (Correio da Manhã) enchem cada vez mais as páginas dos jornais. Quando se tratam de vítimas com mais de 65 anos, a arte de enganar não é a mais difícil, mas sim a de tentar mantê-los em segurança, longe das pessoas mal-intencionadas.
O número de idosos burlados que assolam as notícias diárias nunca conseguirão ser inteiramente exatos, isto porque nem todos denunciam os crimes, com medo de passarem a ser conhecidos como ‘aquele que se deixou enganar’.
Consciente de que existem programas de prevenção, tal como o ‘Programa Apoio 65 – Idosos em Segurança’, que percorrem o país na esperança de alertar o maior número de idosos para diminuir o número de burlas, não acredito que isso seja o suficiente. Nem os avisos constantes e o alerta de vizinhos ou filhos para ‘não dar conversa a desconhecidos’, para ‘não deixar ninguém entrar em casa’ ou para ‘não dar dinheiros ou acessos bancários a desconhecidos’, impedem as burlas.
Isto confirmou-se esta semana quando soube de mais uma pessoa que caiu no “conto do vigário”. Dois homens de boa aparência, bem vestidos e muito convincentes dirigiram-se a uma idosa de 71 anos e disseram-lhe que o dinheiro iria mudar. Ao cair no erro de dizer que o seu marido estava acamado e que os filhos estavam fora a trabalhar, deixou os burlões cada vez mais convencidos de que dali conseguiriam alguma coisa. Na maior das inocências, a vítima disse que não entendia o que os homens lhe estavam a dizer e que ia chamar o seu vizinho.
Foi a sua ignorância que a salvou dos charlatões, pois estes “deram corda ao sapato” quando perceberam que, a qualquer momento, poderia aparecer alguém para socorrer a sua “presa”. Mais tarde, quando a mulher contou aos filhos o sucedido, foi relembrada do antigo conselho: ‘não estávamos já fartos de avisar para não dar conversa a desconhecidos?’
Estudos apontam que são as mulheres quem mais se deixam enganar e que é quando estão sozinhas que estão mais vulneráveis, o que aumenta a probabilidade do crime acontecer. Porque ver o seu dinheiro e os seus bens valiosos roubados é mau, mas serem vítimas de violência é ainda pior. Chego à conclusão de que cada vez estamos menos seguros em todo o lado. A nossa casa, sinónimo de conforto e segurança, é agora onde o vilão pode bater mesmo à nossa porta.
Resta ter esperanças que ‘na hora H’ os nossos pais, os nossos tios e os nossos avós consigam ter a perceção de que algo não está certo. Por muito chatos e repetitivos que sejam, os avisos de quem lhes quer bem não lhes devem passar ao lado, se querem salvaguardar o pouco que lhes resta nesta vida.
 
por: Mélanie Oliveira
 
*Artigo escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

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