O tema do debate do ciclo Um Café e uma Farpa, promovido pelo blogue Farpas Pombalinas, centrou-se no fim da imprensa na cidade de
Pombal. O encontro realizou-se na noite da passada sexta-feira, dia 7 de
Dezembro, no Hotel do Cardal, em Pombal. Este debate, como todos os outros que
já ocorreram do mesmo ciclo, era aberto ao público. A
iniciativa, que já dura desde Setembro do presente ano, assume-se como “um
espaço de discussão, com duração de uma hora e meia, sobre um tema actual
lançado por duas personalidades, com visões contrárias do mesmo.”
O propósito deste último debate surgiu após o
encerramento do único semanário do concelho – O Correio de Pombal – na
sequência de um processo de insolvência. Esta questão foi sendo bastante
abordada no blogue, que lamentou o fim da imprensa local. Os intervenientes
foram Paula Sofia Luz, antiga jornalista na
Rádio Clube de Pombal e n'O Correio de Pombal, dirigiu o jornal O Eco, em
Pombal; foi jornalista e editora no jornal Região de Leiria; colaborou com os
jornais "i" e Diário de Notícias e é actualmente jornalista
freelancer, que se centrou na posição “Imprensa de pombal: mataram-na”;
com um ponto de vista contrário, Alfredo Faustino que foi jornalista assíduo da
região e agora reformado, defende que a imprensa pombalense morreu.
Paula Luz começou por questionar-se se aquando do
encerramento de O Correio de Pombal,
este ainda estaria vivo. Lamentou a falta de reportagens e entrevistas, traços
de um jornal local, notícias do quotidiano do concelho. Contrariamente, o
semanário continha excessivos anúncios/publicidade, aspectos que nada tinha que
ver com a linha editorial de um jornal. A jornalista revela ainda que “o sector
político da cidade lida mal com críticas, o tecido económico desvaloriza a
importância dos media, os serviços raramente pagam assinaturas e os leitores,
numa larga escala, optam por ler o jornal à mesa do café, sem o comprarem”.
Paula terminou a sua intervenção visando o panorama nacional: “num país em que para abrir
uma farmácia, o responsável tem de ser farmacêutico, para abrir um infantário
tem de ser educador de infância, mas para abrir um jornal qualquer um pode
fazê-lo, não seria de esperar que o resultado fosse outro. Por tudo isto,
quando me perguntam o que aconteceu afinal à imprensa de Pombal, só me ocorre
dizer que obviamente mataram-na!”
Com uma perspectiva contrária neste debate, Alfredo Faustino, que
defendia “a imprensa morreu”, realçou que a imprensa local é apenas o resultado
de várias circunstâncias pouco positivos que se passam no concelho, ou seja, o
facto de não possuir “massa crítica capaz de gerar a mudança, de sustentar
projectos ambiciosos” e também pouca longevidade das associações. O antigo
jornalista criticou, ainda, o retracto da imprensa local no nosso país onde é
fácil criar um jornal – “Um fulano regista uma “empresa na hora”, regista um
título, contacta uma gráfica e põe um jornal na rua. As notícias vai busca-las
à net, aos comunicados das empresas, das câmaras municipais ou dos partidos;
pede a um ou outro amigo que lhe escreva uns textos a que chama pomposamente de
crónicas (às vezes num português sofrível), junta uma fotos e os
primeiros números estão garantidos.” – acrescentou.
Segundo o orador, o Correio de Pombal também morreu por culpas
próprias, pois foi alvo de algumas crises estruturais, acabou por ser
rotulado como título de poder e chegou mesmo ao ponto de deixar de ser feito
por jornalistas. A sua intervenção acabou com um apelo aos “possíveis
interessados em ressuscitar um jornal em Pombal”, tendo em conta que o mais
importante é deixar os idealismos de parte e apostar numa nova reformulação do
jornal.
Após estas duas intervenções deu-se início ao debate
entre todos os presentes, cujas opiniões foram consensuais: “a falta de profissionalismo na imprensa local; a pouca
disponibilidade das empresas para apoiar financeiramente um projecto
jornalístico; uma classe política com sérios problemas em lidar com a crítica;
um crescente desinteresse dos cidadãos, especialmente dos mais novos, pelos
jornais locais, privilegiando novas formas de acesso à informação. Tudo isto
num cenário de um país em forte crise económica e num concelho com pouca massa
crítica” - foram as principais causas apontadas para a morte da imprensa
pombalense, como publicou o Farpas
Pombalinas. Carlos Camponez, professor de jornalismo da Universidade de
Coimbra, destacou o papel preponderante da imprensa local: “O nosso sentimento
de pertença à comunidade necessita de um espaço que dê eco às pequenas
notícias, às festas populares, aos resultados desportivos, para já não falar
nas secções de necrologia, dos aniversários, do cartaz do cinema e das
farmácias de serviço.”
por: Ana Sofia Ferreira
*Este artigo não está escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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