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terça-feira, 7 de outubro de 2014

Jornalismo e Profissão

Hoje em dia, ser jornalista é ter coragem de dizer a verdade num mundo repleto de mentiras. É querer saber mais e transmiti-lo aos outros, é um dar e receber constante. No entanto, ser jornalista também é deparar-se com a enorme barreira que é o desemprego visto que o jornalismo é uma das profissões com menor taxa de empregabilidade em Portugal.


Eduarda Macário, jornalista e sub-diretora do Diário As Beiras, dá-nos a conhecer não só o seu encontro inesperado com o jornalismo como também os prós e contras desta profissão. 

“Como acontece – ou devia acontecer – em todas as profissões, ser jornalista é, acima de tudo, uma paixão. Paixão pela escrita, pelo contacto com as pessoas, pela vontade de formar e informar os cidadãos, pela procura de histórias e pela capacidade de dar voz a quem, normalmente, não a tem. Paixão pela coragem de denunciar o que está mal de forma independente e assertiva.
Estes valores – ou princípios – são comuns aos profissionais e devem nortear a aprendizagem de todos os jovens estudantes nas áreas de jornalismo/comunicação social.
Costumo dizer a brincar que foi o jornalismo que me descobriu e não o contrário. Licenciada em Filosofia, e por isso, professora numa altura em que os cursos de Letras começavam a ter dificuldades de colocação no mercado, em 1987 respondo a um concurso no DIÁRIO DE COIMBRA, o único diário na cidade. E fui das primeiras mulheres a entrar como jornalista naquele jornal. Tive sorte. Descobri a mais bonita profissão do mundo que me realizou ao longo destas quase três dezenas de anos, em que muita coisa mudou. Umas para melhor, com as mulheres a descobrirem e a afirmarem-se cada vez mais numa profissão que os vários poderes aprenderam a respeitar e a temer, até.
Outras, seguindo o percurso vivido em quase todas as áreas de atividade, menos positivas, nomeadamente, o aumento do número de cursos em jornalismo e comunicação social que acabou por criar uma grande oferta no setor para a qual o país não tem capacidade de resposta. O que acabou por contribuir para colocar no mercado mão-de-obra barata (ou gratuita) que as empresas vão usando (ou explorando) segundo as suas necessidades mas sem criarem condições de continuidade, nem perspetivas de futuro.
Mas não só. A luta pelas audiências (nas televisões) e pelas tiragens (nos jornais), com vista à conquista dos anunciantes, foi acentuando graves distorções no tratamento da atualidade e na utilização dos critérios noticiosos. Ver a informação como um serviço que é preciso vender depressa e bem, tem levado ao predomínio não só do sensacional, mas também do curto e simples, do facilmente digerível pelo leitor ou espetador. Felizmente – ou não – estas questões não se colocam de forma tão incisiva nos jornais regionais – cuja realidade eu conheço bem. Uma realidade marcada pela pluralidade e onde todos acabamos por saber fazer um pouco de tudo e escrever sobre todos os assuntos. Uma questão que tem sido discutida por vários investigadores e que reconheço, tem coisas boas e menos boas.
Destes 27 anos de profissão, os primeiros quatro foram vividos no DIÁRIO DE COIMBRA, três anos no semanário AS BEIRAS que, entretanto se transformou em DIÁRIO AS BEIRAS (há 20 anos). Considerando-a uma das profissões mais bonitas e completas, lamento, no entanto, que o presente e o futuro não sejam risonhos, quer para os profissionais, quer para os jovens estudantes. Se por um lado, não aparecem novas empresas no setor que criem resposta para as centenas de jovens que anualmente concluem os seus cursos no ensino Politécnico e Universitário, por outro o desenvolvimento de novas tecnologias, das redes sociais (etc) levou ao aparecimento de outros meios alternativos e abriu as portas ao cidadão comum. É claro que as transformações operadas nos últimos anos nos media e no jornalismo têm como eixo central o fator económico. Mas não podemos esquecer nem desvalorizar a importância da evolução tecnológica.
Casada e com uma bebé de um mês quando entrei na profissão, sem dúvida que as coisas não foram fáceis. A ideia de que um bom jornalista é um pouco boémio, que gosta da noite e que não tem horários não é de todo descabida e nem sempre compreendida por quem nos rodeia. Mas a verdade é que a notícia não tem hora marcada para acontecer e o controlo dos horários não é nada fácil. Não sendo a causa primeira, é claro que também contribui para que haja muitos divórcios nesta profissão. Eu sou um exemplo. O que, ainda tornou as coisas mais complicadas, há 23 anos que sou mãe e pai, jornalista a tempo inteiro e fui subindo alguns degraus dentro da estrutura do DIÁRIO AS BEIRAS. Comecei por ser responsável por uma secção do jornal (Região), passei a sub-chefe de redação, chefe de redação e hoje, sub-diretora.
É claro que, quanto mais se sobe na hierarquia, maior é a responsabilidade e outros desafios nos são colocados, como a capacidade de trabalhar – e até liderar - a equipa.”

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