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quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Língua Gestual Portuguesa, um amor in media res, na voz de uma jovem estudante

Língua gestual portuguesa, um amor in media res, na voz de uma jovem estudante

Cátia Ferreira, uma jovem estudante de língua gestual portuguesa de 20 anos, de Aveiro, fala sobre as preocupações que tem para o futuro e sobre o amor que descobriu por acaso. Preocupa-se maioritariamente com os outros e pretende um dia poder fazer algo de realmente útil pela sociedade. Entrou à relativamente pouco tempo no ensino superior e está aqui, hoje, para nos falar da sua experiencia.

Pode começar por falar na sua entrada no ensino superior?
Eu sempre desejei ajudar as pessoas e nesse sentido enveredei um caminho mais social, no que diz respeito à escolha do curso. Primeiramente, tentei entrar no curso de gerontologia social, porque queria um contacto mais directo com o envelhecimento e com as suas consequências, no entanto, não consegui e acabei por entrar na segunda fase em língua gestual portuguesa. Não era o que queria realmente, mas agora que o curso está in media res estou a apreciar e consigo perceber que através do mesmo também vou conseguir ajudar a sociedade. Posso até ajudar a comunidade a obter melhores condições sociais e uma certa independência ou o reforço da mesma.

E a instituição em que estuda, corresponde às suas espectativas?
A instituição em que estudo está, de momento, com uns pequenos problemas. Não temos cantina e os preços do bar são absurdos para manter lá o ritual diário das refeições; à parte disso, é uma instituição plenamente normal com problemas normais.

O que mudava?
Se eu fosse presidente ou reitora de uma instituição que engloba surdos, eu tentaria arranjar uma maneira de facilitar a comunicação entre surdos e ouvintes; para promover o convívio e a aceitação, porque todos os surdos são pessoas com sentimentos, como nós.

Acha que os surdos não usufruem mesmos direitos que os ouvintes?
Não, não por parte da instituição, mas toda a gente sabe que existem pessoas sem moral e sem ética que encontram piada em fazerem os outros, que lutaram toda a vida contra coisas do género, sentirem-se mal e inferiores. Também acho que uma maior e melhor capacidade de comunicação iria ajudar nestas situações.

O que acha que a direcção poderia fazer em relação a esse tipo de situações?
Não sei, mas eles são a direcção, deviam ter percebido atempadamente o problema e já deviam estar a trabalhar para o resolver.

Voltando ao curso, quais são as suas expectativas?
As minhas expectativas são as melhores. Aliás é graças às minhas expectativas que eu continuo motivada pra aprender língua gestual portuguesa e exercer; consigo imaginar-me a “dar” voz às pessoas que, para os surdos, não têm voz e isso deixa-me feliz e realizada.

Para finalizar, acha que vai encontrar um sítio para exercer a profissão para a qual o seu curso a está a preparar ou vai acabar por trabalhar numa área completamente diferente?
Honestamente preferia exercer a profissão que estou a aprender pois estou, todos os dias, a apaixonar-me cada vez mais pela língua gestual e porque um dia, numa sociedade em que seremos todos iguais, a minha profissão será importante e eu poderei fazer a diferença. Mas se, por ventura, não conseguir exercer aí sim, tentarei safar-me e sobreviver; e terei andado três anos (ou mais) a gastar dinheiro aos meus pais para ser mais uma licenciada no desemprego ou “apenas para o estilo”


Estas são as preocupações certezas e incertezas de uma jovem estudante de língua gestual portuguesa, na Escola Superior da Educação de Coimbra, em relação ao seu curso e ao seu futuro.


Rui Correia

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