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terça-feira, 4 de novembro de 2014

"Arte de cuidar"

Vera Monteiro
Vera Monteiro, licenciada em Enfermagem pela Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro,  fala da sua profissão e do ataque a que a sua classe é alvo nos dias de hoje. Aborda a emigração e a dificuldade no início da sua carreira.

As pessoas tem uma ideia errada sobre o que é ser enfermeiro?
Sim sem dúvida! Acham que somos os empregados dos médicos, sim é verdade que são eles que passam as prescrisões médicas e tudo que envolva medicação, mas somos nós enfermeiros que ajudamos as pessoas dependentes, satisfazemos as  suas necessidades humanas, somos nós que os ajudamos a deslocar, comer, comunicar. São os enfermeiros que passam a maioria do tempo com os doentes, sou eu como enfermeira que estou mais atenta às evoluções ou retrocessos do doente, por exemplo sou eu que vejo a temperatura e a tensão do doente e posteriormente informo  o médico para caso seja necessário prescrever algum medicamento.

Acredita que o mercado de trabalho na sua área está sobrecarregado?
Não. Eu não acredito que esteja sobrecarregado, não há é colocações o que leva a que muitos de nós não possam exercer.

Acha que o seu trabalho é bem remunerado?
Não, de maneira alguma! Além do esforço e do número de horas a responsabilidade e o rigor que nos é exigido não corresponde ao salário que nos é atribuído. Estamos a falar de um trabalho que envolve a saúde, melhor a vida da nossa população e todo o cuidado é pouco.

Actualmente vemos muitas contestações por vossa parte, qual é a sua posição em relação a esses acontecimentos?
As coisas não estão facéis para o nosso lado, há mais sobrecarga de trabalho e não somos remunerados por isso. Fazemos noites, horas extras e o que nos pagam não é equivalente a esse esforço, como já referi. Temos deveres, mas também temos direitos e famílias para sustentar.

Vemos diariamente enfermeiros a sair do país, pois o nosso Sistema Nacional de Saúde é incapaz de resolver as suas necessidades. Na pele de um enfermeiro, que medidas acha que deveriam ser tomadas para impedir essas saídas?
Criar mais emprego, com mais colocações, quer em hospitais, centros de saúde, hospitais privados e clinicas, só assim se conseguirá barrar as emigrações. Claro que há quem saia do país por decisão própria, mas a maioria é por não conseguir ocupação laboral por cá.

Em relação à emigração, sabe-se que há países que são a favor da morte assistida ao contrário de Portugal, em que medida isso pode influenciar um possivél retorno desses emigrados?
   O facto de Portugal não aceitar a morte assistida, como a eutanásia, não é impedimento para um possível retorno. Para exercer no nosso país apenas necessitamos de ser licenciados em enfermagem, estar inscrito na Ordem dos Enfermeiros e com as quotas em dia, essas quantias são definidas pela própria Ordem.

Concretamente no seu caso, foi fácil iniciar a sua carreira?
 Estive meio ano desempregada, enviei currículos para todo o lado, full-time, part-time qualquer coisa, queria era exercer. Concorri para duas vagas que havia num hospital na ilha do Faial (Arquipélago dos Açores) no qual fiquei em quarto lugar, não fiquei colocada então regressei Portugal Continental, estava disposta a ir para Espanha porque sabia que tinha uma vaga lá. No dia antes de tirar a passagem para Espanha sou chamada para uma outra vaga no mesmo hospital nos Açores, imediatamente cancelei a entrevista em Espanha e fui para o Faial onde iniciei os meus trabalhos a Janeiro de 2009.
Posteriormente estive no Hospital de Amarante e actualmente estou no Centro Hospitalar Tamêga e Sousa, também conhecido como Hospital Padre Américo em Penafiel.

Conte-nos um pouco o dia-a-dia de um enfermeiro.
Bem, independente do turno, chego ao hospital visto a farda e vou ver o meu plano de trabalho atribuído pela minha chefe, o meu colega cede-me o turno, e dá-me todas as informações sobre os pacientes que vou ter de assistir.
Começo por fazer uma ronda a todos eles e normalmente dou entrada a novos doentes. Durante o dia vou dar-lhes as refeições, medicações necessárias, posicionar doentes que estejam impossibilitados de o fazer sem qualquer ajuda, controlo o oxigénio, o soro, meço tensões. Além disso respondo a todas as necessidades e dúvidas dos familiares dos nossos pacientes. Por fim faço um relatório dos doentes para depois passar o turno a um novo colega. Primeiramente os meus pacientes, tudo para eles, como alguma coisa quando tenho tempo, não há intervalos é sempre em alerta para que numa urgência consiga logo assisti-los.

Resuma numa frase o que é ser Enfermeiro.
Desde que entrei na faculdade que me disseram que enfermagem é a arte de cuidar, e acho que não há frase que melhor defina o nosso trabalho que essa, a enfermagem é a arte de cuidar dos nos cidadãos.

Por: Silvana Queirós

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