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terça-feira, 18 de novembro de 2014

Foto/Reportagem - Jornalismo e Profissão: Jornalismo ‘in media res’ – A coragem de ser jornalista

Ser jornalista é ser meio actor, meio médico, meio advogado, meio atleta, meio tudo. É até ser meio
jornaleiro, às vezes. Mas, acima de tudo, é orgulhar-se da profissão e saber que, de uma forma ou de
outra, toda a gente também gostaria de ser um pouquinho jornalista.

Professora Sara Meireles Graça
Sara Meireles Graça, licenciada em
Comunicação Social pela Escola Superior
de Educação de Coimbra, Mestre em
Comunicação, Cultura e Tecnologias da
Informação pelo Instituto Superior de
Ciências do Trabalho e da Empresa,
docente na ESEC da área de Ciências da
Educação, das Organizações e dos Media
e, também, responsável pela colocação e
acompanhamento dos estágios
curriculares em Imprensa na mesma
escola, fala-nos, entre outras questões,
dos problemas de inserção e dos novos
dilemas profissionais no exercício do
jornalismo.


“O jornalista tem que publicar o que alguém não quer que se publique, tudo o resto é só
publicidade...”
O jornalismo trabalha muito as questões que se desviam da norma, e o desvio à norma vai de
encontro ao que a fonte não quer que se trabalhe. A pessoa com quem nós estamos a contactar não
está nada interessada em estar a falar de problemas, está muito mais interessada em estar a falar
das partes boas das questões e o jornalismo trabalha as partes más também, faz parte da sua função
trabalhar as partes más e estas não são publicidade, o jornalismo é muito mais o facto de tentar
perceber se está tudo a correr bem e às vezes não corre tudo bem e compete ao jornalismo mostrar
porque é que não corre, porque é que naquele caso não correu bem e a quem temos que pedir
responsabilidades por isso e, esse pedir de responsabilidades, é que às vezes não interessa às
pessoas directamente implicadas com o problema uma vez que deve prestar contas sobre algo que
não lhe interessa que se saiba. O jornalismo é ingrato porque faz parte dele pedir contas, e exigir
respostas.
O jornalista interessa-se também pelo outro lado das questões e essas são as que menos interessa
falar às fontes, é por isso que não é publicidade, está muito longe de ser propaganda. O jornalismo é
o contrario da propaganda, é tentar mostrar de uma forma clara, transparente, processos de
funcionamento sobre o que se passa em nosso redor e não a mascarar a realidade, coisa que a
publicidade mascara uma vez que nos dá só uma parte da questão e nós queremos saber todas as partes da questão. É mostrar tudo o que está implicado naquele acontecimento.

Os problemas de inserção e os novos dilemas profissionais dos jornalistas.
Escola Superior de Educação de Coimbra
"Esse trabalho de investigação foi realizado em 2003 e, de facto, estava muito preocupada em perceber as formas de acesso à actividade profissional de jornalista. Como é que são recrutados os jornalistas? E como é que são integrados nas redacções? Ou seja, como é que se faz esse processo de construção profissional de um recém-chegado a uma redacção. Além de outras preocupações, estas questões foram tratadas no 2º capítulo desse mesmo trabalho.
E as principais conclusões a que eu cheguei, no que diz respeito, nomeadamente, a estágios que são uma forma de integração profissional, é como é que alguém chega a ser jornalista, o estágio é uma das primeiras etapas para se ser jornalista. Seja um estágio curricular, por via das licenciaturas que o oferecem, ou seja estágios por vias profissionais, essa seria supostamente, e até do ponto de vista legal, a primeira etapa a atravessar para se chegar a ser jornalista. E uma das conclusões a que eu cheguei nessa altura, foi que a grande maioria dos jornalistas chegava a jornalista profissional sem passar por essa etapa de estágio, eram então entendidos como colaboradores, ou seja, alguém que se propunha a uma redacção e que começava a desempenhar a sua actividade profissional como colaborador, executando material jornalístico como se já tivesse elevada experiência profissional o que não era o caso.

Portanto, as conclusões a que chegava era a utilização de uma mão-de-obra, que é imensa pois há muitos candidatos a jornalistas, com alta escolarização, portanto, já licenciados, mas que depois entram nas redacções sem nenhum tipo de acompanhamento profissional, ou seja, de aprendizagem das regras básicas da profissão e que são utilizados, pura e simplesmente, como uma mão-de-obra muito barata, ás vezes não-paga, sequer, e, portanto, com claras consequências na qualidade da informação produzida e, portanto, uma das conclusões era que havia não-regras instituídas para o acesso à profissão. Depois, outra conclusão era que as pessoas da mesma forma que entravam cedo na actividade, também saiam bastante cedo, ou seja, mantinham-se muito pouco tempo na profissão. Havia um abandono grande na profissão isso tinha a ver com as condições de trabalho, que eram más à entrada, baixos salários, trabalho de grande exigência, com muitas horas de trabalho, sem certificação do bloco profissional, pessoas que nem sequer tinham acesso às carteiras profissionais e depois deixavam as redacções muito rapidamente, portanto, acabavam por abandonar a profissão por desestruturações várias dentro das redacções, que acabava por deixá-los desenquadrados, apesar de gostarem de ser jornalistas. E a carteira profissional de jornalistas, que é quem os certifica para esta profissão não tinha dados sobre os estágios e acabava por certificar jornalistas que não tinham passado pelo processo de estágio.

Deixei de o exercer porque comecei a dar aulas, e tornou-se inconciliável com a actividade do jornalismo por incompatibilidade de horários de trabalho. Tive de fazer uma opção, mas não foi um abandono foi um desviar da actividade de jornalista, continuo a interessar-me pelo jornalismo, apenas não estou a exercê-lo. Acreditava, e ainda acredito, que o jornalismo tem a capacidade de, através do nosso trabalho, poder-mos mudar alguma coisa, e foi isto que me levou a querer seguir a profissão, nada teve a ver com o facto de ir para trás das câmaras, de ser famoso... Há tantos jornalistas que são completamente desconhecidos na grande massa de pessoas e são excelentes profissionais, ou seja, não conhecemos o jornalista mas conhecemos os seus trabalhos, sem saber pormenores da sua vida profissional e pessoal, portanto esta coisa do anonimato da profissão também é interessante porque nós não queremos ser heróis nem conhecidos, queremos é fazer alguma coisa que tenha relevância social e eu acho que o jornalismo tem e terá sempre essa capacidade de relevância. É uma forma de conhecimento para que as pessoas possam saber o que se passa à sua volta e só isso já é um poder imenso que um profissional tem e que para mim foi um factor decisivo na escolha desta actividade, também reconheço que há outros que olharão para esta profissão como forma de ascensão social; é verdade, pode se ter acesso a isso como também, por outro lado, se pode ter acesso às coisas mais tenebrosas da humanidade. Estar no epicentro das decisões, sejam politicas, económicas, sociais e isso é gratificante, perceber que se está no centro dos processos de decisão de questões que tem a ver com o interesse publico. Enfim, aquilo que me levou a querer ser jornalista foi a vontade de querer mudar alguma coisa. A primeira redacção da qual fiz parte foi o publico, em 1996, numa época em que havia dificuldades nas redacções, havia decréscimo de vendas, havia pressão para a venda, mas foi uma época gloriosa do jornalismo em portugal, época dos anos 90, abertura à comunidade europeia, redacções com grande abertura ao mundo, jornalismo valorizado e na minha adolescência cresci com o Jornal Independente, que tinha jornalistas que eu considerava à época brilhantes, que seguia os seus pensamentos e ideologias e os meus mentores para entrar nessa profissão foram os meus mentores, nunca teve a ver com televisão propriamente, coisa que noto que acontece muito nos tempos actuais onde os estudantes são levados mais pela parte do audiovisual e digital, faço parte de outra época mas os valores permanecem os mesmos. Ter a ideia de que éramos válidos para alguma coisa, conseguiríamos transformar alguma coisa. Temos sempre alguém que pensamos que gostávamos de ser assim, na altura idolatrava o Adelino Gomes, que para mim era um jornalista excepcional e continua a ser porque essa é uma das nossas características, uma vez jornalistas seremos para sempre jornalistas. Porque eu nunca abandonei o jornalismo, continuo jornalista embora não o exerça, mas o facto de ensinar o jornalismo já faz de mim alguém activo neste campo de trabalho pois cabe-me a mim incutir a estes estudantes e futuros jornalistas , que tem às vezes pouca noção das duas faces da moeda que existe, pois nem se vai ganhar muito bem, nem se ter uma vida esplendorosa, pelo contrário, irá se ter muito sacrifício a nível pessoal mas terá que haver compensações que nem sempre serão a nível financeiro, serão coisas imaterializais. Ter noção que estamos a contribuir para uma causa maior. E não ter noção disto faz com que muitos jornalistas comecem a achar a profissão desinteressante e desgratificante, já eu acho e sempre acharei que é um campo de trabalho muitíssimo interessante, poder tentar mudar alguma coisa para melhor, parece-me sempre um óptimo desafio.

Grupo 3:
Ana Manaia
Ana Teresa Abrantes
Andrea Henriques
Bruno Tavares
Frederico Gomes
Kátia Reis

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