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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Porque quando alguém se ergue, toda a humanidade se levanta!

Maria Martinha Silva é Assistente Social e atualmente ocupa o cargo de Diretora técnica na Equipa de Intervenção Social ERGUE-TE da Fundação Madre Sacramento. O programa é dedicado ao apoio social de mulheres em contexto de prostituição afim de combater a violência de gênero promovendo o empowerment, a inclusão e a cidadania. Em parceria com o projeto “Estrutura de Emprego Protegido”, são oferecidas outras alternativas à prostituição.


Como o projeto ERGUE-TE surgiu e quais são os âmbitos de ação pela equipa?

A ERGUE-TE surgiu pois o Carisma das Irmãs Adoradoras é o trabalho com mulheres em contexto de prostituição desde a origem, desde o século XIX. As Irmãs Adoradoras estão em Coimbra desde 1990 e desta data à 2009 estiveram em outro projeto que pertencia à Cáritas de Suzana que era uma casa de acolhimento de mulheres com filhos ou sem filhos, provenientes de vários contextos de exclusão, principalmente prostituição. Entretanto, pensou-se a necessidade de redefinir o projeto pois foram surgindo outras respostas sociais de acolhimento, e também no âmbito de fidelidade do Carisma das Irmãs Adoradoras, criou-se um projeto com a possibilidade de maior aproximação de mulheres em situação de prostituição, assim surgiu a Equipa de Intervenção Social ERGUE-TE, pertencente a Fundação Madre Sacramento, que por sua vez, pertence às Irmãs Adoradoras. A ERGUE-TE funciona desde janeiro de 2010, possui um acordo de cooperação que foi aprovado pelo Centro Distrital de Segurança Social. A Equipa possui dois âmbitos de ação, um localizado no gabinete, no qual é feito atendimento e acompanhamento dessas mulheres a nível social, psicológico, jurídico e de saúde, e outro campo de ação no âmbito da intervenção, que consiste em uma unidade móvel que se desloca a locais conotados com a prática da prostituição.


Além do apoio social, psicológico e jurídico, quais são as outras atividades desempenhadas pela ERGUE-TE?

A finalidade de todo esse programa, de facto é oferecer outras alternativas e possibilidades de uma nova vida a essas mulheres, portanto criou-se o projeto “Estrutura de Emprego Protegido” para integrar e preparar elas para as exigências do mercado laboral, porque a maioria dessas pessoas, sobretudo, portuguesas, são mulheres com baixa escolaridade     e precisam desenvolver algumas competências para serem integradas no mercado laboral. Portanto, as mulheres que estão determinadas a abandonar a prática da prostituição são efectivadas durante um ano na “Estrutura de Emprego Protegido” e passam a trabalhar e a aprender uma profissão no âmbito da costura e dos trabalhos manuais. A partir disso, foi registrado a marca ERGUE-TE com produtos de design próprio e privilegiando a matéria-prima portuguesa.


O atendimento é destinado exclusivamente à mulheres?

Inicialmente só mulheres eram atendidas, entretanto começamos a receber contactos e pedidos de ajuda de homens nomeadamente travestis, então nós decidimos alargar a nossa população e pra além de mulheres, mulheres transexuais em contexto de prostituição, sendo que para estes a nossa intervenção é especificamente no âmbito da prevenção da saúde pois não temos qualificações para dar uma resposta efectiva, já que é uma abordagem muito específica.


Atualmente a ERGUE-TE realiza o acompanhamento de quantas mulheres?

Não há um número exato. A Equipa existe desde janeiro de 2010 e de acordo com uma base de dados criada em 2011, dessa altura até agora, já passam de mil pessoas contactadas. Com um plano de acompanhamento efectivo e delineado, atualmente temos por volta de cem pessoas contactadas e acompanhadas por nós, sendo que outras são contatos mais esporádicos, mas que não deixam de ser nossa população pois nos encontramos com elas quando vamos aos locais conotados com a prática da prostituição, elas pontualmente pedem ajuda, ou no âmbito da prevenção de DSTs ou em outras questões, portanto são ajudas mais pontuais e que não tem um plano de acompanhamento delineado com objectivos de curto ou a médio prazo.


Há um padrão ou perfil social, etário ou étnico o qual se enquadra essas mulheres atendidas pela ERGUE-TE em contexto de prostituição?

Depende um bocadinho. A nossa população atendida não possui um perfil único, até porque temos mulheres portuguesas, mas mais da metade das pessoas quem contactamos são estrangeiras, sendo que estas imigrantes tem um perfil mais específico no sentido de que estão mais isoladas socialmente porque, normalmente, o resto da família e os filhos estão no país de origem, e dependem do dinheiro que a mulher envia. Já as portuguesas, normalmente são casadas, possuem filhos e predominantemente são mulheres de mais idade.


É oferecido alguma forma de apoio às famílias e especialmente aos filhos dessas mulheres portuguesas?

Sim, nós temos essa preocupação, pois não trabalhamos só com essas mulheres em atividades de prostituição mas também com seus familiares, e se há mais membros em idade laboral, mas não trabalham, integramo-la Estrutura de Emprego Protegido. Se este membro não integrar este projeto, procuramos perceber que necessidades há no agregado familiar e procuramos fazer as devidas integrações, como encaminhar crianças para creches ou escolas ou a procura de emprego


Qual a zona de atuação da unidade móvel de apoio, e quais os profissionais neste âmbito de intervenção?

A ERGUE-TE é formada por três técnicos (Assistente Social, Psicóloga, e Educadora Social) e por um grupo de voluntários, que atuam em todo o distrito de Coimbra, portanto vamos às estradas nacionais, vamos às ruas da cidade de Coimbra, vamos também à bares e apartamentos e a todos os lugares relacionados com a prática da prostituição que saibamos que existam. Esse trabalho de aproximação é feito por uma equipa de voluntários acompanhados por um técnico.


O que é preciso para ser voluntário na Equipa ERGUE-TE? Há algum treinamento específico?

Para ser voluntário é necessário ter vontade e formação. Nós somos muito exigentes nisso, pois há muitas formas de olhar a prostituição, e nós temos uma forma de olhar que justifica a nossa foram de intervir, pois temos uma missão, uma visão e valores que nós defendemos e a pessoa que dá a cara pela instituição deve ser fiel a essa forma de olhar e ser fiel a essa forma de intervir, por isso, é necessário um ano de formação. Este ano de formação implica em reuniões mensais com várias temáticas para contextualizar os voluntários, pois é por eles que as mulheres irão ser informadas sobre questões em determinadas problemáticas, tanto no âmbito jurídico e de saúde, como também a nível de respostas sociais na comunidade.


Em qual local os produtos da marca ERGUE-TE estão disponíveis para compras? E o que são esses produtos?

Os produtos podem ser encontrados no espaço da Estrutura de Emprego Protegido, localizado na Rua da Ilha, ao pé da Sé Velha, são basicamente produtos de origem portuguesa, sobretudo à base de linho e lã de ovelha. A produção destes artigos, é pensada não somente em venda com a finalidade exclusiva de ajudara instituição. Queremos que estes produtos possuam uma utilidade a quem os compre, por isso são itens de qualidade, pois são confeccionados por essas mulheres que estão a fazer esse percurso de mudança de vida e inclusão social, portanto essas peças significam a valorização do trabalho delas e do esforço da mudança de vida.


O dia 25 de novembro é o Dia Internacional para a erradicação da violência contra as mulheres, e a ERGUE-TE marcou para este dia o lançamento de um novo produto. Pode nos dar mais informações sobre o evento?

O evento é para o lançamento de um novo produto da marca ERGUE-TE mas que é surpresa e só será possível descobrir no evento marcado para o dia 25 no Centro Universitário Manuel da Nóbrega (CUMN), perto da Praça da República, pelas 21H15. Esse é um produto também de muita qualidade, com matérias e acabamentos de excelência que assinala a valorização do trabalho destas mulheres. Acreditamos que uma das formas de erradicar a violência é promover o empowerment, portanto fazer a mulher sentir que há outros caminhos, outros horizontes e outros projetos de vida e que das mãos delas saem coisas muito bonitas, muito úteis e de valor.



Por Bruna Becegatto


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