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terça-feira, 4 de novembro de 2014

O escutismo como um modo de vida

Paulo Garcia na atividade 22nd World Scout Jamboree Sweden 2011
Paulo Garcia é chefe da IV Secção, secção que abrange escuteiros com idades compreendidas entre os 18 e os 22 anos,  no Agrupamento 1215 Tavarede, do Concelho da Figueira da Foz.
Em entrevista, o chefe escuteiro fala-nos um pouco sobre o mundo do escutismo e sobre o significado deste grande movimento assim como nos dá a conhecer algumas das suas experiências vividas.

Há quantos anos é que é escuteiro?
Sou desde 2001. Portanto, isto já há 13 anos. Foi desde que o meu filho veio para os Lobitos. Entretanto, fui convidado pelo Agrupamento para fazer parte deste mundo e é desde essa altura que estou cá.

O que é que o levou a querer fazer parte deste grande movimento que é o escutismo?

Inicialmente, quando eu entrei para o escutismo, não fazia a menor ideia do que era este movimento, o maior movimento do mundo, a maior associação do mundo e quando vim para cá, o que me trouxe foi a alegria dos jovens, a alegria das músicas e da forma como eles viviam e partilhavam entre todos.
O que é que o escutismo significa para si?

Ora, o escutismo, para mim, é um modo de vida. Consigo viver este ideal, este conceito de escutismo diariamente. Sinto-me útil, sinto que consigo viver e conviver com os jovens e é essa a base da minha dedicação ao escutismo.

Como chefe de secção e como exemplo para os jovens escuteiros, de que forma é que o escutismo serve como um processo de aprendizagem e como um crescimento individual e coletivo?
Não me considero um chefe, não me considero uma pessoa que manda, uma pessoa que imponha regras. Nisto do escutismo não há, assim, essa fórmula de regras mas sim uma forma de educação, aprendendo fazendo. E talvez pela minha maturidade e pelas minhas experiências de vida, eu consiga dar ao jovem essa experiência e esse exemplo para que eles possam chegar a esse objectivo. Não só estou a ensinar ou a dedicar-me a eles mas também estou a aprender com eles e é essa aprendizagem mútua que nós temos. Eu já não me considero um chefe mas sim mais um elemento no Clã e acho que sou uma mais-valia para o Clã em tentar ajudar e dar outras perspectivas de vida.




Como é que a religião católica pode estar directamente relacionada com o escutismo?
Baden Powell (B.P.) quando fundou o escutismo dizia que qualquer escuteiro deve acreditar, acreditar em algo, acreditar num Deus. Nós temos a igreja católica, temos o CNE (Corpo Nacional de Escutas) mas também temos uma outra associação que é a AEP (Associação dos Escoteiros de Portugal) que reúne várias religiões do mundo e também pode ter católicos.
Nós, como CNE, como escutismo católico português, temos como prioridade ter alguém que nos possa fazer este elo de ligação com a Natureza e com os próprios elementos. O caminheiro é diferente e é nesse sentido que faz a diferença de um católico, de um praticante, de uma pessoa que se assuma perante a sociedade.
Um jovem quando anda nos escuteiros, nomeadamente um caminheiro, acredita e assume que acredita e não tem medo de dizer aos jovens da universidade “Eu acredito!”.

Sendo o escutismo um movimento mundial, que experiências é que já viveu com escuteiros de outras nacionalidades?

Já tive algumas experiências com escuteiros de outras nacionalidades e foi muito gratificante naqueles encontros imediatos. Parece que temos todos a mesma linguagem, parece que acreditamos no mesmo ideal, que vivemos na mesma cidade e, passado pouco tempo, tratamo-nos quase como irmãos porque é uma alegria grande nós adivinharmos que o outro não fala a nossa língua mas que nos entende e nos percebe e depois é a troca de experiências que nós temos uns com uns outros e a alegria de partilharmos até mesmo os hábitos, os costumes, a alimentação e a forma de pensar que são tão diferentes.
Nós já tivemos o prazer de receber suecos na nossa comunidade, no nosso agrupamento, em Tavarede. 64 suecos vieram para Portugal fazer serviço. Lá está, a mesma linguagem que nós temos a nível mundial: servir.
Entretanto, tivemos a oportunidade de participar num Jamboree na Suécia e quando nós chegámos lá com uma enorme alegria, entusiasmo e algumas expectativas criadas e toda aquela movimentação mundial de 40 mil jovens das mesmas idades, encontrei, precisamente, algumas pessoas que tinham estado cá em Tavarede e foi uma alegria fantástica. Nem um nem outro sabíamos que iriamos lá estar mas foi aquele abraço gigante de “Estás aqui? Estou!”.
22nd World Scout Jamboree, um acampamento mundial, realizado em 2011 na Suécia

Embora tenha convivido com outros escuteiros noutras atividades a nível nacional, que vieram ao nosso país, já convivi também com outros países que vieram a atividades a nível regional, até mesmo com Cabo Verde e muitos outros países. Ainda hoje tenho esses contactos, com italianos, com suecos, com dinamarqueses, com ingleses. Tenho esses contactos todos e é muito bom porque há sempre uma partilha, há sempre um convívio que parece que ainda estamos naquela atividade em que participámos. É essa a experiência que tenho com outros países estrangeiros. É essa linguagem do escutismo, de puro ambiente e saudação que temos uns com outros.



Relativamente há pouco tempo, o figueirense João Armando Gonçalves foi eleito Presidente do Comité Mundial do Escutismo. Como é que se sente em relação a este grande motivo de orgulho não só para os figueirenses como também para todos os portugueses?

É um pouco estranho porque eu sou amigo do João Armando já há alguns anos. Partilhámos algumas ideias e já estivemos também no Jamboree Mundial.
Cá na Figueira, convivo muito com ele e com a família, e chegámos a partilhar, precisamente, a sua candidatura.
Ele sempre foi uma pessoa que encarou tudo com muita naturalidade e normalidade. Nunca teve a ostentação do poder mas é uma pessoa que sabe muito, é uma pessoa que vive diariamente o escutismo puro e duro.
Ele já esteve à frente do WOSM (Organização Mundial do Movimento Escotista) e  agora ele tem essas capacidades. Ele é reconhecido a nível mundial como uma pessoa que sabe, que conhece todos os países e sabe como eles funcionam, sabe como é que há-de colocar isto em funcionamento. É uma pessoa que tem todas as capacidades e maturidade escutistas. Não foi uma pessoa que está à frente deste movimento e que deu uma passada maior que a perna. Ele deu passos firmes e sabe o que quer para o escutismo no mundo, atualmente.



Porque é que aconselha o escutismo a pessoas que não fazem parte deste movimento?
O escuteiro é uma pessoa diferente, é uma pessoa que vive diferente, é uma pessoa que tem uma alegria diferente e, por si só, vive de grandes emoções. Para quem quer viver emoções, para quem quer sentir a natureza, para quem quer sentir-se a si, conhecer-se a si e quer dar de si, vem para os escuteiros. Agora… é preciso dar esse primeiro passo: sair da sua comunidade, sair do seu bem-estar, sair de tudo o que este mundo oferece em termos de outras solicitações.
É claro que eu convido toda a gente a ser escuteiro mas também acredito que nem todos têm a coragem de abraçar este mundo de ser escuteiro. Escuteiro é aquela pessoa que se dedica e empenha, que vive os seus problemas em todas as ordens, é aquele que se preocupa com os outros, é aquele que marca a diferença por aquilo que é no mundo, é ser Homem no mundo.
Nós conhecemos tantos escuteiros que deixaram este movimento mas que continuam a ser escuteiros e eles marcam a diferença, seja nesses órgãos em que estejam envolvidos, seja na política ou nas empresas, são diferentes e quando nós notamos essa diferença nas pessoas, valeu bem a pena investir nelas nos escuteiros.
É uma educação não formal, toda a gente sabe: não se aprende na escola, não se aprende em casa, não se aprende em lado nenhum mas só se aprende nos escuteiros. É esta constante aprendizagem que nós desafiamos aos jovens.
Queres ir para os escuteiros? Então anda! Anda experimentar.  Eu convido toda a gente pelo menos a experimentar e a ver se gosta ou não. Depois disso, é livre de optar. Agora nunca digam que não sem nunca experimentarem. Experimentem e depois logo se vê! Vão ver que vão gostar.



Por: Maria Inês Guardado

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