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terça-feira, 10 de novembro de 2015

Da secretária para a cozinha

Anabela Verdasca, 33 anos, trabalha num escritório mas a sua grande paixão é o cake design. Bela, como é carinhosamente tratada pelos amigos, conseguiu transformar um hobbie em algo mais. Criativa e dedicada, cria bolos dinâmicos e bonitos a partir de um bloco de pasta de açúcar.

Bolo para o concurso Wilton 2014 -
Vencedor do primeiro prémio Local Wilton na categoria Bolo Amateur


A Pastelaria é um interesse recente ou sempre tiveste gosto pela confeção de bolos?
Sempre gostei de confecionar bolos, mesmo em casa dos meus pais, quando era solteira, era eu que fazia os bolinhos lá em casa. Os bolos, os pudins, as mousses, nada muito elaborado mas fazia-os.

Como surgiu o cake design na tua vida?
O cake design surgiu em 2012, nos anos do meu irmão mais novo. Queria-lhe fazer um bolo diferente e então comecei a pesquisar na Internet e foi quando descobri a pasta de açúcar. Acabei por utilizar um bocadinho de pasta de açúcar na confecção do bolo dele e foi quando comecei a gostar de trabalhar com pasta de açúcar porque é quase como trabalhar com plasticina. Eu sempre gostei de artes então os trabalhos manuais vêem-me com alguma facilidade. Bolos para outras pessoas, ou seja, encomendados, comecei a fazer em 2013.

Qual o bolo que mais gostaste de fazer até hoje?
Acho que o que me deu mais gozo, que me consiga recordar, foi o bolo de aniversário para a filha de 4 anos de uma colega e o tema era as sereias. Gostei muito de fazer os peixinhos, o caranguejo, o polvo, as conchas, as algas e a sereia. Acho que foi dos trabalhos mais engraçados, mas sinceramente não me recordo muito bem.


E o que mais trabalho te deu?
Talvez a concertina. Porque isso é uma réplica da concertina do meu pai e então a ideia era que ficasse idêntica, digamos assim. Eu própria fui muito exigente comigo mesma para ficar o mais semelhante possível.


A nível de pedidos, já tiveste algum mais estranho ou inusitado?
Um dos pedidos mais estranhos foi o bolo de uma despedida de solteira. Em tom de brincadeira pediram-me para fazer uma noivinha junto a um pirilau. Foi realmente o mais estranho.


Quantos bolos fizeste até hoje?
Foram 165.

Relativamente à tua técnica, digamos assim, com pasta de açúcar, o que tens feito para a melhorar?
Tenho tirado alguns cursos de formação e sou bastante autodidata. Gosto de pesquisar, novas imagens, novas técnicas, ver vídeos e eu própria vou experimentando e tentando diversas coisas. Gosto de pegar na pasta e experimentar e inventar formas novas e mais rápidas para fazer o trabalho render porque isto é um trabalho de muitas horas. Como no preço esse tempo não entra há que arranjar maneiras mais rápidas de executar as coisas.

Cada vez mais, o mercado de cake design está em expansão. Na tua opinião, qual o motivo deste crescimento?
São bolos fora do vulgar. Os olhos também comem, os bolos são atrativos e as crianças, tanto como os adultos, são cativadas por este tipo de bolos. Apesar de viver numa zona onde as pessoas talvez não deem tanto valor ao cake design como dão noutros locais urbanos, mas gradualmente tem se vindo a notar uma grande diferença. As pessoas começam a entender que é um trabalho demorado, que tem custos mais elevados que os bolos tradicionais e a dar mais valor a este trabalho, a esta arte, digamos assim. Há até pessoas que dizem “Só? Só levas isto?” o que deixa uma pessoa a pensar, pronto, é realmente gratificante ver que há pessoas que apreciam e dão valor.

Vivendo numa terra pequena e comparando com outras pessoas que também são de meios pequenos mas que não conseguem ter tanto sucesso, porque é que achas que conseguiste ter tanto êxito?
O passa palavra é um meio de comunicação muito eficaz e também a divulgação no facebook. A que se faz no facebook acaba por ser muito eficaz porque as pessoas dão o seu feedback dos trabalhos e amigos de amigos acabam por confiar na opinião dos seus amigos e também confiar em mim para a confeção de bolos. Acho que as pessoas também valorizam o facto de eu ser perfecionista e minuciosa com os trabalhos.

Trabalhando 10 horas por dia e tendo encomendas praticamente todos os fins-de-semana, como é que tens paciência e onde arranjas tempo para fazer isto?
Sai-me do corpo, tenho noites onde janto e vou trabalhar na decoração dos bolos, quando olho para o relógio já é meia-noite/meia-noite e meia e penso assim “Epá, é tarde amanhã tenho de pegar às 8h” mas não estou cansada e fico mais um bocadinho ali. Ou seja, dormir pronto, uma pessoa acaba por se privar um bocadinho de dormir mas a satisfação que eu sinto e o relaxar e o descontrair vencem tudo.

A nível profissional estás empregada numa empresa de construção civil que nada tem a ver com o cake design. Como é que estas duas componentes se ligam ou não se conectam sequer?
Não se conectam de todo. Eu sempre fui dada às artes mas não tive a possibilidade de seguir visto que regressei do Canadá e entrei logo na faculdade. Ou seja, tive que me sujeitar ao curso que me pareceu mais fácil para me conseguir desenrascar e foi o caso. Inscrevi-me em tradução no ISLA, mas o curso não abriu por falta de alunos e transitei, um bocado forçadamente, para marketing. Tem um bocadinho a ver com comunicação e artes, vi-me um bocadinho forçada a tirar esse curso e a trabalhar nesta área da gestão e administração, mas de facto não era aquilo que queria seguir.

Chegaste mesmo a trabalhar para uma pastelaria da terra, certo?
Por volta do ano passado ou no ano anterior comecei a fazer trabalhos para a pastelaria porque não tinham ninguém que trabalhasse com pasta de açúcar, entretanto a pastelaria arranjou outra alternativa e eu comecei a fazer trabalhos para a pastelaria “Alfa” [uma das melhores pastelarias do concelho de Ourém], onde me é possível adquirir novos conhecimentos e me é possível ter mais oportunidades.

Portanto, se no futuro, tivesses a oportunidade de fazer única e exclusivamente cake design aceitavas?
Sim, adorava. Era o meu sonho.

Então consideras que o cake design, na tua vida, é um complemento ou uma paixão?
É o meu antisstress, eu sinto-me realizada ao fazer estes trabalhos.

Futuramente, pensas fazer mais alguma coisa na área do cake design, por exemplo, abrir um negócio pequeno, ou achas que isso é um sonho impossível?

Não é um sonho impossível porque eu há uns anos atrás também não imaginava isto que estou a fazer hoje em dia. Tudo é possível, é uma questão de lutar e de passinhos pequeninos porque não pudemos arriscar muito nos tempos que correm, tem que se acautelar um bocadinho. Mas vejo-me um dia a ter uma lojinha de cake design, onde venderia material de cake design, ferramentas, formas, utensílios e as pastas, teria também a vertente de cursos de formação. Depois, claro, cozinhava, teria uma pequena cozinha onde confecionava os bolos e vendia-os. Portanto, o meu sonho é esse.

Bolo para concurso da TAP

Grupo 5
Rute Cardoso

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