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quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Da pena à pen

Se uma das principais premissas de jornalismo é acompanhar a atualidade, seria praticamente impossível não extrapolar isso para a realidade da produção de informação. Será que seria possível ver, hoje em dia, uma notícia sobre o iPhone 6 escrita numa… máquina de escrever?
Provavelmente sim, mas quereria também dizer que o jornalismo não se tinha adaptado à realidade. Não é só o objeto jornalístico que evolui, o jornalista também tem de o fazer, sob pena de perder a capacidade de analisar e expor a realidade com conhecimento atualizado.
Se a prensa móvel, invenção de Guttenberg, já tinha revolucionado a divulgação e expressão de grandes manchas textuais, a invenção da máquina de escrever, no século XIX, veio revolucionar e agilizar a escrita de textos, relegando o papel e a pena para um segundo plano. O trabalho jornalístico podia então ser desenvolvido com maior rapidez e de forma mais eficiente, rentabilizando recursos e horas de trabalho.
Tecla a tecla, eram produzidos textos com atenção redobrada, de forma a evitar erros e falhas de formatação. 
No entanto, e como a tecnologia está em constante evolução, apareceu o aparelho que hoje quase todos tomamos com base de trabalho: o computador.
Capaz de produzir e armazenar textos, faz parte do trabalho jornalístico desde a sua fase mais rudimentar. Os jornalistas iam adaptando o seu trabalho ao novo equipamento, com as suas regras e particularidades.
O primeiro computador em que trabalhei era uma máquina muito arcaica; era necessário decorar códigos para conseguir fazer os acentos ou os parágrafos. A maior dificuldade residia aí, no ter que decorar os códigos.” - observa Helena Silva, jornalista há 24 anos - “O monitor era muito pequenino e, para ter a noção do que se escrevia, era preciso imprimir e ler, depois, em papel”. Foram deste tipo os primeiros computadores a ser inseridos nas redações, o que muitas vezes exigia conhecimentos específicos acerca do funcionamento dos aparelhos, tornando os jornalistas uma espécie de “especialistas” numa tecnologia muito recente mas altamente produtiva. A certeza, porém, é que os processos de produção noticiosa eram mais simples e directos, ainda que a tecnologia avançasse com passos pequenos mas firmes.
Passo a passo, os computadores foram evoluindo até aos modelos que conhecemos hoje em dia. Algures nesse intervalo de tempo, surgiu uma das tecnologias mais revolucionárias de sempre: a World Wide Web, mais conhecida como Internet. A velocidade de partilha e processamento de informação aumentou de forma exponencial, e com isso surgiram novas preocupações, facilidades e estratégias de abordagem da informação. 
Se “com um grande poder vem uma grande responsabilidade”, então com esta evolução nas formas de partilha de informação surge também uma nova necessidade de confirmar e tratar a informação que surge nos vários contextos de observação e recolha noticiosa. Para Helena Silva, “a informação chega mais rapidamente ao jornalista. Mas o trabalho de verificar, confirmar a veracidade não pode ser descurado, mesmo que a quantidade de partilhas de algum caso lhe confira, quase, o estatuto de verdade inquestionável”, tantas vezes dado aos conteúdos virais que se espalham pela Internet. A popularidade de um assunto e dos comentários sobre si feitos nem sempre revela uma veracidade inerente.
Avançando ainda mais na linha temporal da evolução das tecnologias, mais particularmente na sua vertente social e informativa, vive-se neste momento uma época de grande inovação: a era das redes sociais. Com acesso em tempo real a todos os assuntos de índole informativa, recreativa ou particular da vida das pessoas à nossa volta e do mundo em geral, todas as informações que queremos obter estão à distância de um click. “Um acontecimento, seja ele qual for e em que parte for, está hoje nas redes sociais e na internet quase em tempo real. Se o jornalista estiver atento, e tem de estar, consegue aceder à informação quase em tempo real também”, observa Helena Silva. Com a constante necessidade de atualização e procura de novos conteúdos pertinentes por parte do jornalista, há um ganho que é inquestionável: “Ganha-se rapidez, o que no jornalismo é dos maiores ganhos”. A era da informação está aqui para ficar, sendo irrefutável que tem que existir uma adaptação por parte dos jornalistas, de forma a manter a actualidade não só das suas análises, mas também dos seus conhecimentos e métodos de trabalho.
O futuro do jornalismo é incerto, com o aparecimento de novas tecnologias a parecer ameaçar o trabalho “tradicionalmente” manual do jornalista. Em 2014, na sequência de um sismo em Los Angeles, a notícia foi dada em primeira mão por… um robô. Tendo selecionado toda a informação relevante que recebeu diretamente de sismógrafos, e com a ajuda de um algoritmo, escreveu sozinho a notícia que daria o alerta, em primeira mão. O caso abalou o mundo do jornalismo, que se virou de imediato para o jornal em questão, que tinha vindo a despedir jornalistas. Poderão os robôs vir a substituir os jornalistas nas redações?
Helena Silva alerta-nos para o que é, no caso do jornalismo, um aspecto fundamental da produção noticiosa: “O jornalismo não é, nem pode ser, um simples relatar de factos de acordo com as regras de ‘fabrico’ da notícia. Se assim fosse, máquinas e quaisquer pessoas, seriam jornalistas. E não são.
O jornalismo deve, então, relegar as máquinas para segundo plano? A resposta óbvia e lógica será a afirmativa, uma vez que para se ser jornalista é necessário mais do que relatar. Para Helena Silva “o jornalista não tem apenas o papel de informar. Essa é uma visão redutora do trabalho do jornalista. Para além de informar, tem o papel de formar a opinião pública. E isso parece-me que nenhuma máquina, por muito evoluída que seja, pode fazer”.
O papel do jornalista do futuro será, neste momento, uma incógnita, tanto a nível de recursos como de tratamento de informação. Com a evolução tecnológica, a velocidade de produção e tratamento de informação aumentou, mas trouxe novos desafios ao jornalismo. Do papel e pena ao teclado houve mudanças técnicas e adaptações físicas e metodológicas, mas até onde terão que ir essas mudanças? Ou será que um dia nem sequer teremos que as fazer, porque já não nos cabe a nós a produção noticiosa?
O futuro é incerto, mas sabe-se que serão os jornalistas a documentá-lo.
Resta saber de que forma.

Grupo 3
Liliana Gonçalves
Joana Magalhães
Miguel Azinheira
Leonardo Ramalho

Gonçalo Teles

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