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quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Trevim, uma vida jornalística regional

Foi numa época difícil para os jornais, devido à censura que surgiu um projeto criado por sete jovens, em 1967. Um jornal regional generalista da Lousã, o Trevim.


São dez da manhã e a jornalista, Maria João Borges, exercendo a sua profissão no Trevim há 15 anos, já está pronta para trabalhar. É à terça-feira, no dia do fecho, o seu dia mais longo, saindo da redação por volta das duas da manhã. Ao chegar à sala da redação já se prepara para ver os emails, ler jornais, contactar pessoas para fazer os trabalhos, colocar notícias online, receber lousanenses interessados em colocar alguma notícia no jornal, escrever, fazer a maquete da próxima edição.
Pronta para ir para o terreno, verifica o funcionamento da sua máquina fotográfica, se esta tem pilhas e cartão de memória. Ajeita a caneta, caderno de apontamentos e caso se trate de uma entrevista, escreve as questões antecipadamente. E, claro, informa-se sobre o evento o mais possível que vai cobrir para não ir a "zero", como menciona. Já no terreno, a jornalista ouve, tira os seus apontamentos e conversa com as pessoas. Quando tem alguma dúvida interpela os intervenientes para poder desenvolver melhor um determinado assunto que gostava de puxar para lead. Segundo a própria, “o ideal é sair do acontecimento já com uma ideia do ângulo pelo qual vamos abordar “.
Chegamos à parte da seleção de notícias, o critério destas está relacionado com a importância para a região, como por exemplo, um investimento, uma obra relevante ou alguma informação importante sobre a ligação ferroviária a Coimbra. Quanto maior for o número de pessoas envolvidas num acontecimento, mais relevante ele se torna, revela. As notícias publicadas surgem mais por agendamento, embora tenham de estar preparados para qualquer alteração que possa emergir pois, as ocorrências podem dar-se a qualquer momento.
É duas vezes por semana que, Maria João Borges vai às reuniões de redação. A primeira destina-se à avaliação da edição anterior e a apresentação dos temas a desenvolver na seguinte. Participam nela a redação, colaboradores, o diretor e diretor adjunto, bem como um elemento da Cooperativa Trevim, detentora do jornal. A segunda pretende fazer o ponto da situação dos artigos em desenvolvimento e propor a sua disposição nas páginas do jornal.
Em conversa, fala-nos um pouco mais de como é trabalhar num jornal regional. Segundo a jornalista, existem diferenças notórias em relação aos nacionais, nomeadamente o facto de o jornalista ter de ajustar as notícias ao âmbito de abrangência. Refere que enquanto um jornal nacional divulga, por exemplo, todos os membros do Governo, secretários de Estado, entre outros, um jornal regional, por norma, limita-se a referir se existe, por exemplo, algum membro do atual governo originário da zona de alcance do jornal. Para além disso, os jornalistas regionais têm também preocupações diferentes. Quando estão a cobrir o mesmo acontecimento, os jornalistas de imprensa nacional são obrigados a dar um ângulo à notícia de interesse nacional. Os regionais devem desenvolver ao máximo os pormenores locais. No entanto, afirma também a existência de semelhanças, nomeadamente, a forma como aplicam as regras nas reportagens, notícias…
Em relação ao Trevim e à sua proximidade com a vila da Lousã, diz que o nível de proximidade é total, porque é o concelho onde têm mais assinantes e anunciantes. Mesmo os assinantes no estrangeiro são lousanenses que emigraram e que querem manter esse elo com a terra natal. Embora o jornal se expanda e aborde outras regiões como Miranda do Corvo e Vila Nova de Poiares. Neste momento, tem cerca 3100 subscritores, sendo que muitos destes estão a morrer, sendo o desafio atual fazer com que as novas gerações mantenham o mesmo interesse pelo Trevim que os seus pais e avós.
Agora com a publicação online, crê “que quantos mais leitores tivermos online, mais compradores vamos ter nos quiosques. O público pode ser levado a comprar o jornal por verificar que tem um conteúdo que lhe interessa. É também uma forma de dar a conhecer o nosso jornal a pessoas que não têm ligações à Lousã.”
Ana Maria Francisco, uma das colaboradoras do jornal regional, teve também uma palavra a dizer. “Colaborar com um jornal regional é interessante, porque consegues estar dentro dos eventos locais que estão a acontecer. Dá para te manteres mais informada e próxima das pessoas”. O trabalho que realiza é, essencialmente, cobrir alguns eventos ou visitar alguma exposição e escrever sobre isso para que, posteriormente, os jornalistas possam ler, rever e publicar. Diz também manter uma relação agradável com os jornalistas, que a ajudam a corrigir e a estruturar os textos, embora “não solicitem frequentemente colaboração”.
Os leitores deram o seu testemunho em relação ao Trevim, é “um Jornal Regional muito bom e muito bem conseguido”, “um jornal interessante que aborda temas relacionados com a Lousã, com textos bem escritos e que já dura há muitos anos.”, “Tem jornalistas e algumas pessoas que são independentes, apesar de amadoras. Muitos jornais não são nada independentes e o Trevim parece-me que é. Bons projetos, com caricatura, pouca cultura e demasiado desporto, mas no fundo reflete a realidade da vila.”
Em relação ao jornalismo regional em geral, também estes se pronunciaram, “O jornalismo regional é bastante importante na medida em que aproxima as pessoas e as torna mais informadas quanto ao que se passa à sua volta.”, “Acho que o jornalismo regional é importante e acessível tanto aos mais velhos que têm por hábito ler o jornal, como para os mais novos que já começam a ter interesse em manter-se atuais.”.
A jornalista acredita no futuro do Trevim, bastando para isso que continue a haver pessoas que acreditem neste projeto. Em relação ao jornalismo, em geral, confirma que sempre que houver jornalistas preocupados com o rigor da informação, com a investigação, o jornalismo não estará em risco. Dada a demasiada informação existente, o jornalismo é importante precisamente para fazer essa distinção entre o rumor e a verdade. Quem quiser uma realidade mais próxima da verdade, deve ler jornais e não consultar as redes sociais, que devem apenas ser encaradas como fontes de "dicas" para o jornalista desenvolver. Assume também que o papel de jornalista é de risco, no seu caso, “não se trata de risco de vida, mas do risco de ganhar inimizades”.
Maria João Borges afirma que se sente bem ao trabalhar num jornal regional, no entanto, considera que não é fácil, pois “quando nos cruzamos no nosso quotidiano com as pessoas que são alvo de notícias, podemos ser facilmente alvo de críticas e de pressões”.

Mas será o jornalismo um trabalho a tempo inteiro? Maria João Borges diz que depende da periodicidade. O ritmo de um quinzenário é diferente do de um diário ou semanário. Mas, de facto, o sucesso de qualquer publicação passa por estar 24 horas atento ao que se passa perto ou longe de nós. ” É estarmos sempre ligados a fontes de informação ou a canais informativos que nos mostrem o que está a acontecer no mundo.”


Fundadores do jornal Trevim



Maria João Borges, na redacção do Trevim


A sala de reuniões, do Trevim

A vista do exterior do Trevim

Várias edições deste jornal

O logótipo do jornal regional o Trevim 

Grupo 1

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