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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Viver da música e para a música



A música, hoje em dia é considerada como uma das ferramentas essencias da sociedade, significa mais para uns do que para outros. Se muitos só ouvem e pouco percebem existem aqueles que fazem dela a sua vida. Ângela Alves escolheu viver da música e para a música mesmo tendo a consciência que não seria fácil seguir o seu sonho no nosso país.

Concerto na Igreja de Espinho Fotografia por Maria Garcia


Quando e como nasce o desejo de estudar música?
Olhando a esta distância para o passado e para o presente, acho que Deus abençoou-me com um dom – a minha voz. Comecei a estudar Música, não por vontade própria mas porque, ao ouvirem-me a cantar um cântico a Nossa Senhora, na minha Profissão de Fé, foram ter com os meus pais e aconselharam-nos a que eu fosse estudar Música.

Sendo proveniente de uma familia numerosa (6 irmãos) sentiu necessidade monetária de ter contacto com o mercado de trabalho antes da entrada na faculdade, para poder financiar os seus estudos?
No meu caso a questão não pode ser colocada dessa forma, uma vez que após ter concluído a telescola fui logo trabalhar. Só passados talvez uns quatro anos retomei os estudos, à noite, passando a ser trabalhadora estudante até entrar na faculdade.

Quando é que a música deixou de ser um desejo para passar a ser a realidade? Quando passou a ser um projecto para o futuro?
Quando aos 22 anos entrei na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE) no curso de Canto e na Universidade de Aveiro (UA) no curso de Música e optei pela ESMAE por ser mais indicada para a via artística, enquanto Aveiro era mais indicada para a via ensino.

Concerto na Igreja de Espinho
                Fotografia por Maria Garcia
Quais foram os principais obstáculos para a concretização do sonho de ser músico?
Num país como o nosso, onde a cultura está sob valorizada, a falta de oportunidades de fazer ou integrar projetos que permitissem uma carreira como músico. Muitos teatros foram reabilitados e outros novos surgiram mas poucos espetáculos de música clássica se fazem. Já para não falar de ópera, que essa atualmente, só mesmo em Lisboa, infelizmente.
Um outro obstáculo foi também o facto de não ter podido ir estudar para fora do país, algo que na formação de um músico, considero ser relevante.                              

Quais foram os projectos/grupos musicais nos quais esteve envolvida que considere terem sido ou serem os mais gratificantes?
 Uma questão difícil de responder uma vez que já estive envolvida em projetos muito distintos, desde a ópera (espetáculo mais completo de todos ao nível do músico-cantor), recital de canto e piano, solista com orquestra, projetos educativos, projetos corais (como coralista profissional). Destaco no entanto a ópera “L’Elisir d’Amore” de G. Donizetti, em que interpretei o papel de Adina (personagem principal feminina), numa produção com o Circulo Portuense de Ópera (CPO) e a Orquestra Nacional do Porto, no Coliseu do Porto, e atualmente o Coro Casa da Música do qual faço parte desde a sua formação e com o qual temos interpretado um vastíssimo e variado repertório, sob a direção de grandes maestros.

Se pudesse escolher apenas um dos projectos nos quais esteve ou está envolvida, vivendo apenas disso, qual escolheria?
Gostaria de fazer mais ópera e cantar mais a solo, fosse a fazer lied apenas com piano ou com orquestra.

Esteve envolvida em projectos de cariz mais internacional. Alguma vez imaginou uma carreira na música fora de Portugal?
Sim. Como referi anteriormente, gostaria de ter podido ir estudar para fora. Na altura estive tentada por Londres e pela Alemanhã. Imagino que se tivesse ido o meu percurso teria sido diferente. No entanto a vida traçou-me outro caminho.

Hoje em dia qual é a sua principal profissão?
Paralelamente à atividade de Músico, sou também professora de Música e interpretando com “principal profissão” aquela que dá o sustento, o rendimento mensal para gerir a vida familiar, é a de professora.

Concerto na Igreja de Espinho
 Fotografia por Maria Garcia
Quais são as escolas em que é professora e que disciplinas lecciona?
Neste momento leciono na Academia de Música Valentim Moreira de Sá em Guimarães as disciplinas de Canto, Coro e Classe de Conjunto e no Conservatório de Música de Aveiro Calouste Gulbenkian a disciplina de Classe de Conjunto.          

Sente-se realizada sendo professora de música?
Gosto muito do processo de transmissão de conhecimentos entre professor/aluno, principalmente se este se interessa e empenha no processo da aprendizagem e da procura e exploração do instrumento (a voz). No que diz respeito às classes de conjunto é uma disciplina que exige muito, torna-se muito cansativo, dependendo das idades dos grupos e da quantidade de elementos de cada grupo. Resumindo, gosto de dar aulas mas não é, ou nem sempre me sinto realizada. Felizmente que integro alguns projetos que me permitem fazer música, onde na realidade me sinto realizada e dessa forma posso também melhor transmitir aos meus alunos o gosto pela Música e sentir-me mais realizada como professora.

Sente orgulho por ter chegado onde chegou, da forma que chegou?
- Sem dúvida alguma que me sinto orgulhosa de tudo o que alcancei até hoje.

E se todos os pianos deixassem de tocar e se a voz faltasse?

- Todos seriamos mais infelizes, eu - sem dúvida alguma.




Grupo 8:
Maria Garcia
20140118

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