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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Para além da ilha



Eduardo Freitas
Eduardo Freitas, madeirense de vinte e três anos, é estudante de Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica na Universidade Nova de Lisboa. É coordenador do Núcleo de Estudantes Social-Democratas madeirenses em Lisboa e desenvolve uma actividade política com origens na JSD da Madeira. Revela-nos um pouco do que sentiu quando chegou a solo continental e do trabalho feito pela juventude madeirense.

Cristina Freitas  (C.F) - Quando cá chegou, sentiu diferenças entre a Região Autónoma da Madeira (R.A.M) e Portugal?
Eduardo Freitas – (E.F) - Senti muitas diferenças, nomeadamente sócio-culturais. Em Lisboa, as pessoas são extremamente frias, ninguém está preocupado com o que está acontecer ao lado. Foi um dos principais choques para mim. A vida feita a correr, o stress do trânsito, a falta de qualidade de vida. Em comparação com a Madeira é um choque.

C.F - Como caracteriza o ambiente madeirense em Lisboa?
E.F - Lisboa é a capital do país. E os valores insulares não se perdem, porque existe sempre alguma nostalgia e vontade que os madeirenses procurar, mas é difícil reunir um grupo de madeirenses, porque uns vivem em Odivelas, outros na Margem Sul, outros Cascais, e reuni-los todos num só lugar é complicado. Por exemplo, alguns bares madeirenses em Lisboa são um elemento de ligação à Madeira. E sei de quando havia a Casa da Madeira em Lisboa, na zona do Bairro Alto, o envolvimento e sabor insular era mais visível.


C.F - Acha importante a prevalência de um espírito madeirense na vida de um jovem estudante fora da sua ilha?
E.F - Acho que é fundamental na formação de um madeirense, nunca esquecer e viver sempre com cultura madeirense presente. Nós, estudantes madeirenses, somos quase uma espécie de emigrantes, e como tal não devemos esquecer a nossa cultura. Basta verificar que há diversas pessoas que foram para fora da Madeira, todavia nunca esqueceram o “espírito insular”, veja-se Fátima Lopes, Joe Berardo, Cristiano Ronaldo, entre outros.


C.F - Em que altura surgiu a tua “veia” política? Foi motivada por algo?
E.F - Estou filiado à JSD desde 2002, contudo só comecei a ter uma militância mais activa depois de 2006.
A “veia” política nasce connosco, todos temos, contudo há pessoas que são insatisfeitas, e não gostam de acomodar-se. Eu nunca gostei de acomodar-me. Desde cedo tive a vontade de “mudar o Mundo”, não é que consiga, mas contribui para que exista uma mudança para melhor na vida de todos.
Para mim, olhar para alguém como o Dr. Alberto João Jardim, que apesar dos seus defeitos e que não são poucos, é uma fonte de inspiração. Alguém que batalha por um povo que vivia quase num sistema feudal, até ao 25 de Abril, e com a sua chegada e desenvolvido sócio-economico da Madeira, temos a olhos vistos uma “Madeira Nova”.
A vinda para Lisboa e as constantes calúnias, e uma quase “xenofobia” em relação à Madeira, fizeram-me começar a ter uma militância mais activa na JSD.


C.F - O conceito do NESD, Núcleo de Estudantes Social-Democrata madeirenses em Lisboa, apareceu em que contexto? Qual é o seu intuito?
E.F - O NESD-Lisboa já existia desde a criação dos Estudantes Sociais-Democratas da Madeira, contudo era invisível.
Só em 2009, quando a JSD convidou-me para o NESD, aceitei prontamente, e tentei pautar-me pela diferença e tentar colmatar um vazio em Lisboa de agregação de madeirenses.
A base do NESD para mim, foi reunir as reivindicações dos estudantes madeirenses em Lisboa e assim, o NESD fez um dossiêr com as preocupações dos estudantes madeirenses, desde saúde, educação, residências, empreendedorismo, transportes e informação. Com isto, podemos criar uma base de apoio para diversas iniciativas e propostas a diversas entidades.



C.F - Tem algum  projecto mais imediato, relacionado com o  NESD?
E.F - Com o culminar do fim do ano lectivo, estamos a preparar um encontro de estudantes, com o intuito de elaborar um dossiêr, mas desta vez sem ser exclusivamente de Lisboa, mas do país.


C.F - Tenho conhecimento de que está a tentar com que a Rtp-Madeira seja transmitida em Portugal Continental. Como está a decorrer o processo?
E.F - Fizemos algumas reuniões com o Provedor da RTP e conseguiu-se que fosse feito um programa dedicado à RTP Madeira na “voz do cidadão”. Apresentamos as nossas ideias, e até demos algumas soluções. Aguardamos porque estes processos são demorados. Mas houve outro partido, o CDS, que aproveitou a nossa deixa para apresentar na Assembleia da República um requerimento em relação a esta questão. A nós o que interessa é que seja solucionado esta lacuna da transmissão da RTP-Madeira no território continental.


C.F - O seu blog, “Madeira minha vida, Madeira meu país!”, faz algumas críticas a  entidades e personalidades madeirenses. Tem algum objectivo quando escreve os seus textos?
E.F - O meu blog pessoal pretende ser de humor, mas, reconheço, exagero nas críticas. Através daquele humor, por vezes exagerado, procuro transmitir a minha opinião unicamente pessoal. Os meus objectivos são a ironia, sarcasmo e dizer algumas verdades que praticamente ninguém tem coragem de escrever ou dizer.


C.F - Sei que é um amante da sua ilha. Pensa voltar para lá quando completar os estudos?
E.F - Houve uma altura da minha vida, onde esperava terminar os estudos e voltar rapidamente para a Madeira. Mas por diversos motivos, nomeadamente ainda sem ter acabado o curso ter conseguido um estágio e ter praticamente contrato assinado para continuar nesta empresa, penso que voltar para a Madeira, só quando lá conseguir o trabalho e nunca sem este. Também criei novos objectivos, tais como fazer um novo curso superior, numa área que nada tem a ver com a minha, talvez demore o processo de voltar para a Madeira. Todavia, é um objectivo a médio e longo prazo regressar para a Madeira.


C.F - Apesar de estar a formar-se na área da medicina, o seu futuro passará também pela política?
E.F - Eu, neste momento, estou a desempenhar funções na área da biomédica, mas não fecho a porta da política, porque estou sempre disposto a ajudar os portugueses e madeirenses.



C.F - Eduardo, que palavras deixa a todos aqueles que, tal como você, estudam fora da R.A.M e que certamente passarão pelos mesmos medos e obstáculos que passou quando cá chegou?
E.F - Optimismo, vontade, acreditar, e crer serão alguns dos adjectivos para poder ultrapassar os obstáculos. A exigência do ensino, as saudades pelas nossas famílias, amigos e ilha são grandes obstáculos, e poderei referir-me a um cliché: é importante termos sempre na mente que tudo será compensado. Se fosse fácil, o prazer seria pouco. Uma das histórias que ouvi e marcou-me na minha chegada a Lisboa foi a de um senhor imigrante angolano, e muitas vezes uso as suas palavras: “partimos em busca de uma vida melhor. Muitas vezes podemos ir dormir, sem termos o copo de leite desejado, e até passar fome, na esperança que o dia dê um amanhecer melhor e assim, poderemos não ter os bens materiais mas um dia a batalha será vencida.”



                                                                                                        Grupo 1 - Cristina Freitas

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