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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Afinal Coimbra é ou não é criativa?

FOTO - http://cinema.sapo.pt/pessoa/fernando-taborda/biografia
Fernando Taborda nasceu no Fundão mas foi em Coimbra que iniciou a sua carreira, primeiro como professor primário, depois como bancário, no entanto foi no teatro que se tornou célebre.  Actor da companhia de teatro da Bonifrades tem participado em diversos filmes portugueses, destacando-se o “Embargo” de António Ferreira. Quando questionado sobre a arte e a cultura em Coimbra, Fernando Taborda assume que “ Coimbra continua a estar muito influenciada pela força da universidade e continua a fomentar actividades de modo a evoluir. Mas parece que não evolui. Se não fosse o 25 de Abril não teria evoluído.”

Andreia Roberto (AR) - Em 2003, Coimbra foi o palco da cultura, ao ser reconhecida como capital nacional da cultura em Portugal. Considera Coimbra uma cidade criativa?


Fernando Taborda (FT) - Comparado com o que era estaganado, com uma única presença, com a universidade e o que girava, Coimbra hoje, não é inovadora. Não considero uma cidade inovadora, mas que evoluiu, evoluiu , consegiu fugir das fraldas da universidade. Após o 25 de Abril abriu-se à criatividade.


AR - Na sua opinião, quais as principais semelhanças e diferenças em termos culturais entre Coimbra do século passado e Coimbra de agora?

FT - No final do século passado existe uma data que marca a mudança de Coimbra. O 25 de Abril foi o marco a partir do qual em Coimbra se começou a dinamizar no geral. Expandiu diversas actividades culturais, a nível de organismos (faculdades). Antes do 25 de Abril, a cultura estava dominada pela “censura”, era a universidade que comandava. Eram só os estudantes que desenvolviam a cultura à excepção do Ateneu  (colectividade nas várias áreas de dinamização). Escritores do Neorealismo, políticos, actores entre muito outros colaboravam nos vários ramos, perspectiva contrária à situação que se vivia em Portugal (Estado Novo). A PIDE controlava  todas as áreas. Depois do 25 de Abril a cultura expandiu-se com políticas completamente diferentes.

AR - Sendo Coimbra a cidade dos projectos e sobretudo dos estudantes, é considerada uma cidade vanguardista no que toca às artes em Portugal. Será que Coimbra está prestes a viver a sua “idade de ouro”?

FT - Coimbra não é vanguadista. Continua a estar muito influenciada pela força da universidade e continua a fomentar actividades  de modo a evoluir. Mas parece que não evolui. Até ao século XIX teve a sua idade de ouro. E depois só com o 25 de Abril, com a constituição de novas faculdades e institutos. O século XX não trouxe nada de especial, não se inovou nada. A universidade era clássica e por isso os seus princípios muito pouco virados para a inovação. A universidade era conservadora e só assim se compreende. Antigamente a cultura vanguardista era contra o regime, era difícil em Coimbra ultrapassar isso.

AR - É contra a praxe?

FT - Eu sou anti-praxe. Em vez de se abrir as portas e organizarem as actividades culturais, fazem coisas bárbaras. Isso fazia-se em Coimbra no século XX, com as trupes. O meu irmão teria de ir com protecção para poder ir ao cinema. Não há liberdade. O que chamam de caloiro, os estudantes, eram uma elite e os que não eram elitistas eram perseguidos.

AR - O senhor é actor no teatro da Bonifrades. Ao longo destes anos, já viveu muitas emoções e experiências. Qual o melhor momento artístico que já viveu e sentiu em Coimbra? 

FT - Eu tive uma determinada altura da minha vida, ainda trabalhava no banco, que representei uma peça baseada no Dom Quixote , do nosso escritor António José da Silva, “o Judeu”. Eu fiz o papel de Sancho Pança. Foi o melhor elogio que tive. Isto levou a que o público fizesse uma crítica, tal maneira elogiosa, que eu senti-me na obrigação de continuar. Qualquer realizador de cinema adoraria ter uma personagem como o Fernado Taborba.

AR - Se tivesse a oportunidade de transformar Coimbra, o que alteraria e porque o faria?

FT - Para já, muito mais apoio às colectividades, dinamizá-las e fomentar mais a cultura.

AR - Quais as condições que Coimbra deve oferecer de modo a ser mais atractiva e criativa para os trabalhadores do conhecimento?


FT - Dinamizar e tornar público o que existe, nas artes apoiar mais as colectividades no ressurgindo dos teatros ou de outra índole. Dinamizar o teatro ao nível popular, com as colectividades. Na realidade as colectividades têm vindo a desaparecer.


AR - Será a criatividade um factor importante no desenvolvimento sustentável de uma cidade? 


FT - Claro que sim. Sem cultura não poder haver criatividade. A criatividade tem de ser baseada em fundamento cientifico. É fundamental como o emprego. Coimbra é uma cidade que vive dos serviços instalados. Tem os hospitais que são uma boa organização.

AR - A criatividade é favorecida por contextos territoriais específicos que consubstanciam o chamado genius loci (espírito do lugar). Concorda que a criatividade em Coimbra prima pelas mesmas razões? 


FT - Coimbra tem de formar o seu desenvolvimento e não pode ser só viver da universidade . É tudo muito resumido em Coimbra. A afirmação é correcta. Coimbra ainda é uma cidade romântica, o espírito lembra o século XIX , período do romantismo, ou seja, não se vê evolução. Evolução é sinónimo de pouco. 




Andreia Leonardo Roberto, Grupo 1


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