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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Entrevista a Lurdes Pirrolas


Entrevista a Lurdes Pirrolas

“(…)é inadmissível que haja concessionários a explorar as praias todo ano e que a época balnear dure apenas três meses”
As praias de Portugal devem ser muito mais vigiadas e as pessoas têm que ter maior cuidado com o mar. É o que defende, em entrevista, Lurdes Pirrolas, formadora de nadadores-salvadores, que aponta também lacunas existentes no curso.



Sendo formadora do ISN (Instituto de Socorros a Náufragos) e nadadora-salvadora, de que forma tem assistido às mortes por afogamento nas praias portuguesas?

Com indignação. Mesmo com as campanhas de sensibilização, as pessoas ainda não se consciencializaram de que o nosso mar é muito perigoso. Os banhistas devem ter muita precaução ao ir para dentro de água, pois não basta saber nadar, são também necessárias capacidades físicas e, portanto, as pessoas devem ter consciência das suas limitações. Por outro lado, é também inadmissível que haja concessionários a explorar as praias todo ano e que a época balnear dure apenas três meses.

Portanto, concorda que há falta de vigilância nas praias?

Sim. Penso que há muita falta de vigilância, ainda mais, nestes fins-de-semana em que faz bom tempo e há grande afluência às praias. Os estabelecimentos de “beira-mar” deveriam ser obrigados a ter nadadores-salvadores para a vigiar os banhos.

 Para si, quais são as principais falhas no sistema de vigilância das praias?

Em primeiro lugar, a questão das concessões (estabelecimentos responsáveis pelas zonas de praia), que contratam nadadores-salvadores apenas para a época balnear. Depois penso, que há uma escassez de meios de salvamento, bem como uma falta de fiscalização dos existentes nas praias. Essa é uma responsabilidade da Autoridade Marítima e do Instituto de Socorros a Náufragos (ISN) que deveria ser realizada do Norte ao Sul do País de uma forma correcta e isenta.

Acha que o Estado deveria ter maior intervenção nesta problemática?

Apesar de já haver alguma influência importante do Estado, penso que sim. Deveria intervir, sobretudo, no sentido de garantir a vigia das praias em todos os fins-de-semana do ano. Pois não é só nos meses de Verão que se vêem surfistas e banhistas no mar.

Na sua opinião, as medidas de resolução devem começar logo pela formação dos nadadores-salvadores?

Sim, deve começar por aí. Eu pessoalmente, tento que os meus alunos sejam formados de uma maneira íntegra, ou seja, que acabem o curso não apenas com um diploma na mão, mas também com a consciência do seu dever cívico e com a responsabilidade que os nadadores-salvadores têm pela salvaguarda das vidas humanas.


E acha que a actual estrutura do curso prepara os futuros nadadores-salvadores física e mentalmente para
a realidade das praias portuguesas?

Não. Existem algumas falhas, nomeadamente, pelo facto de o tempo de formação ser curto, para as matérias que são leccionadas e de os formandos realizarem a sua preparação só na piscina. Os meus alunos podem estar preparados fisicamente para fazer 400 metros numa piscina, cumprindo as exigências do ISN, mas também deveria ser possível avaliar se têm a mesma capacidade para o fazer no mar, ou seja, uma mistura das realidades, os formandos deveriam adquirir resistência na piscina e destreza no mar.

O custo da formação de nadador-salvador aumentou há dois anos para 127€. Acha que de algum modo isso vai diminuir o número de inscritos?

Não, porque quem quer tirar o curso, geralmente, apercebe-se de que a quantia paga é muito pouca quando comparada com as 135 horas de formação a que assistem e com as aulas de natação que têm. Alguém que nade diariamente numa piscina acaba por gastar muito mais do que os 127€.
Além disso, os futuros nadadores-salvadores, tendo o curso válido por três anos, percebem que nesse período poderão ter rendimentos que acabam por compensar os gastos com a formação.

Como formadora do ISN, sente o peso da responsabilidade na consciencialização dos nadadores-salvadores?

Sim, lógico. Eu tento, pelo menos transmitir a realidade que existe, as dificuldades que os nadadores-salvadores enfrentam. Mas esforço-me, acima de tudo, para que eles fiquem alertados para não fazerem deste trabalho um hobbie, mas sim algo que lhes dê prazer, porque quem vai para a praia exercer uma função de tamanha responsabilidade deve não só saber aquilo que faz, como também ter gosto naquilo que faz.

Sendo você mulher e tendo em conta que a maioria dos seus alunos é do sexo masculino, tem sentido algum tipo de dificuldade para impor respeito perante o grupo?

Não, de modo algum. A minha experiência militar em muito contribuiu para isso. Desde nova fui habituada à imposição da disciplina e do rigor, pelo que me é fácil “liderar” este grupo. Além do mais, as pessoas que ensino, são espectaculares e, em particular, respeitadoras.
O facto de eu ser mulher pode é de certa forma, encorajar os mais fracos a trabalharem para concluir o curso da melhor maneira, talvez pensem: “se uma mulher consegue, porque não hei-de eu conseguir” (risos).


Lurdes Pirrolas entrou para as Forças Armadas aos 18 anos, em 1993, como electricista de aviões. Frequentou e concluiu com sucesso o curso de pilotagem em Paço de Arcos. Foi colocada na base aérea de Monte Real, onde trabalhou durante cinco anos. Posteriormente, mudou-se para Sintra e sairia de lá em 2002 para frequentar o curso de sargentos até 2004. Nesse ano, seria colocada em Beja. Entretanto, formou-se em Educação Física no CEFA (Centro de Educação Física da Armada) e começou a trabalhar na base da Ota – no Centro de Formação Militar e Técnica da Força Aérea – como instrutora de Treino Físico Militar, função que ainda mantém. O curso de monitora de nadadores-salvadores foi concluído em Almada, e surgiu em consequência da sua formação em educação física. E ministrou o seu primeiro curso do Instituto de Socorros a Naúfragos (ISN) em 2007, na Lourinhã, no qual todos os seus formandos obtiveram aprovação nos exames finais para Nadador-Salvador.
No ano passado, esta formadora do ISN esteve responsável pelo seu segundo curso de Nadadores-Salvadores, na vila de Vieira de Leiria.














 Fontes: a entrevistada


Autoria: Renato Neves Sapateiro

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