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domingo, 23 de janeiro de 2011

A Escola da Noite




 Aquela que é a primeira companhia profissional de teatro de Coimbra, nem sempre foi residente no Teatro da Cerca de São Bernardo (TCSB). Isabel Campante, que  desde 1997 faz parte da direcção, diz com algum conforto,“agora já não andamos tanto com a casa às costas”. Teve o seu primeiro contacto com a companhia como espectadora do seu primeiro espectáculo. Começou a trabalhar como secretária, n’A Escola da Noite em 1994 e posteriormente acumulou funções de produção, comunicação, angariação de apoios e relações públicas.
  É interessante verificar o simbolismo desta companhia estar agora colocada como residente num teatro, onde anteriormente estava instalado o Tribunal do Santo Ofício, que teria colocado fim à representação teatral, no século XVIII.
  Desde 1992, quando começou a ser pensada e preparada,  em jeito de segredo, pelos corredores da Associação Académica de Coimbra, juntou pessoas como Manuel Guerra e António Augusto Barros, que tinham em comum serem gerações diferente do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC).
Com  a nomeação de Coimbra para a Capital do Teatro, e com a atribuição de um financiamento, verificaram-se reunidas as condições, quer a nível financeiro como por uma questão de visibilidade, para criação de um grupo profissional que, na palavras de Isabel Campante, “Há esta coisa de se sentir que tem sentido numa cidade com as características de Coimbra, existir uma companhia profissional de teatro.”
Foi em 1995, com Manuel Maria Carrilho como Ministro da Cultura, no âmbito das obras de requalificação do Pátio da Inquisição, que se deram os primeiros paços para um espaço próprio d’A Escola da Noite e para o  “resgate” ao carácter nómada d’A Escola da Noite, que já teria passado pelo TEUC, pelo Teatro Avenida, pelo Teatro Académico Gil Vicente  (TAGV), entre outros espaços.


A criação artística -  Uma maneira de fazer

Existe a “marca daquilo que é alma d’A Escola da Noite que é a criação Artística, que são os seus espectáculos.”, segundo a colaboradora.
Até o surgimento d’A Escola da Noite, o teatro conimbricense era composto por apresentações de peças teatrais esporádicas que duravam três ou quatro dias. Apartir da sua existência, passa a haver “a possibilidade de, durante um mês, se assim quiserem, ir ao Teatro”, como refere Isabel Campante.
A Escola da Noite assume-se como uma importante estrutura do teatro na cidade dos estudantes. Em conjunto com outros grupos teatrais, como a Marionete, a Kamaleão e o Teatrão, mostram a criação extra-académica.
A nível da criação artística, quem a acompanha desde sempre poderá aperceber-se que o seu vasto repertório assume um cariz vincado.
Começaram as suas apresentações, com autores hispânicos, exibindo a peça “Amado monstruo” de Javier Tomeo, um relato dialogado de uma entrevista de emprego.
 Trabalham desde autores clássicos a contemporâneos e, no universo da língua portuguesa, interpretaram desde portugueses a brasileiros e angolanos. Assumem o seu gosto e predilecção pelo trabalho de Gil Vicente, que, nas palavras de Isabel Campante,“é um trabalho reconhecido tanto pelo público, como pela crítica e pelos académicos. É muitas vezes no palco, com os jogos do autor, que é permitida a sua descodificação” pelo público. Diz ser um “trabalho de arqueologia” vicentina.
Isabel Campante revela que “há um pouco este pacto de surpreender as pessoas”, característico da sua antiga condição nómada. Também daí advém o especial gosto em trabalhar textos não-dramáticos, pois a “ escolha dos textos é uma pequena provocação”, como as reflexões de Kafka, em que existe um esforço para entender e depois então apresentar ao público.
A Escola da Noite actua em convergência com outras entidades ligadas às artes performativas, como a Cena Lusófona, com quem tem parcerias no trabalho da Lusofonia e intercâmbio teatral com actores oriundos dos PALOP, por exemplo.
Para este ano, estão integrados na Semana Cultural de Coimbra, cujo tema será “Reinventar a cidade”.  Assim, estão responsáveis pela programação e condução de tudo o que for externo à Universidade de Coimbra.
Perante a crise que o país atravessa, Isabel Campante conclui que “são tempos assustadores, do ponto de vista interno e do ponto de vista do que se vai fazer”. No entanto, acredita que em tempos de menos bons “as pessoas procurem este tipo de entretenimento para se afastar do pessimismo”.
A Escola da Noite é, portanto, uma excelente anfitriã para quem deseja passar um serão na companhia do teatro e daqueles que lhe dão vida, assumindo-o como o seu próprio modo de viver. 

                                                                                                                     Cristina Freitas
Fontes:
-   Isabel Campante, d'A Escola da Noite.
- www.aescoladanoite.pt - Site oficial da companhia 
Foto: www.aescoladanoite.pt



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