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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Crítica: 50/50


Título Original: 50/50
Origem: EUA
Género: Comédia-Drama
Realização: Jonathan Levine
Argumento: Will Reiser
Elenco Principal: Joseph Gordon-Levitt, Seth Rogen, Anna Kendrick, Bryce Dallas Howard, Philip Baker Hall, Matt Frewer

Se achávamos que The Bucket List (cuja tradução pode ser A Lista Para Quando Bater a Bota) era um filme com um título a puxar para o inconveniente, que pensaremos de 50/50 quando soubermos que o seu título poderia ter sido I’m With Cancer (Tenho Cancro) ou Live With It (Viver Com Isto)? Todavia, não creio que seja algo com que a audiência se vá importar.
Embora seja baseado num guião autobiográfico escrito por Will Reiser (um amigo de Seth Rogen - co-produtor do filme - que, na realidade, lutou contra o mesmo tipo de cancro que a personagem central do filme) a película é tanto um retrato sobre a luta de Adam Lerner (Joseph Gordon-Levitt), como um filme sobre a forma como os amigos e familiares de Adam respondem à sua doença. Este é, portanto, um filme, não um documentário.
Apesar do tema pesado e dos prenúncios de humor negro ao longo dos 100 minutos de filme, a história não ultrapassa a linha ténue que separa a comédia do mau gosto. Pelo contrário, a frontalidade com que os obstáculos que se interpõem ao longo da trama tornam o enredo hilariante, sincero e audaz. Tudo isto vai fazer com que qualquer pessoa se odeie a si mesma por pensar que vai odiar o filme (pelo seu tom demasiado cru e frontal).
No filme, Joseph Gordon-Levitt dá a vida a Adam Lerner, um produtor de rádio para uma estação local de Seattle que se depara, aos 27 anos, com um cancro, possivelmente fatal, na coluna vertebral. Poderíamos debater a curiosidade fantástica, e um bocadinho bizarra, de o argumentista utilizar a “idade trágica dos 27” para personagem principal, que se encontra às portas da morte, mas nada é mais fantástico que ver Gordon-Levitt a rapar a própria cabeça na cena em que Adam decide cortar seu cabelo (antes de começar a quimioterapia). Sabendo que esta foi a primeira cena gravada pelo actor, percebemos que o resto das filmagens teria ficado comprometida caso ele falhasse e, por isso, é de lhe louvar o incrível desempenho e talento.
A trama é improvável, tal como as suas personagens. As sessões de quimioterapia com os companheiros, muito mais velhos que ele, Allan (Philip Baker Hall) e Mitch (Matt Frewer) têm uma pureza que muitos podem não entender. Tudo naquela relação seria verdadeiro, isto claro, se não fosse um filme.
Anna Kendrick, que em 50/50 dá vida a Katherine "Kathy" McCay, a psicóloga inexperiente de Lerner, suporta bem o papel e revela-se uma actriz credível e cheia de potencial. Bryce Dallas Howard executa outra personagem odiável (como já havia feito em The Help), a narcisista Rachael, namorada de Adam.
A Seth Rogen coube, mais uma vez, o papel de amigo rude e inconveniente. Nada lhe falta, parece oportunista e desinteressado, odeia a namorada do melhor amigo e bebe bastante cerveja, mas, nos filmes, nem tudo é o que parece. Esta personagem não é o que é, é o que esconde, e é esse o valor que lhe deve ser reconhecido.
Gordon-Levitt e Rogen são uma equipa de sonho, mesmo quando o sonho se transforma em pesadelo. Com Adam a tentar preservar a sua saúde e a sua sanidade mental, o filme reflecte a verdadeira natureza do ser humano da maneira mais improvável, mas mais bela de contemplar.  É claro que existem alguns momentos extremamente comoventes porque, no fundo, ninguém quer, realmente, ver Adam morrer.
50/50 é um filme livre de censura. Dá-nos a oportunidade única de mergulhar numa situação infelizmente comum para muitos, de forma respeitadora, comovente, mas, acima de tudo, realista.
Elisa David, R2

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