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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Opinião: Cinema de (des)animação

A animação sempre foi e será uma das áreas mais desvalorizadas e estereotipadas do cinema e, enquanto apaixonado por esta arte, sinto-me obrigado a esclarecer alguns aspectos que, pessoalmente, me parecem absolutamente errados.

Sketch de A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no kamikakushi, 2001)

Primeiro, é importante deixar claro que o cinema de animação não pode ser considerado um género, se assim fosse, teríamos de considerar os filmes de imagem real, os live-action, como tal. A vantagem de atribuir um género a um filme é permitir-nos, de antemão, criar uma ideia daquilo a que assistiremos. Ora, tal como no caso de um filme de imagem real, o conceito de filme de animação não nos comunica previamente o que esperar da película em questão, daí a importância de especificidade, permitindo seleccionar o conteúdo que nos é mais aprazível. Longe de ser um género, é uma vertente, uma variação do cinema. Mas, mais do que isso, “a animação não é um género, é uma forma de arte” (Brad Bird).

A grande dádiva da animação é a possibilidade de transportar para a tela tudo aquilo que seria impensável no mundo real. Este meio permite que, recorrendo a um lápis e a uma folha de papel, acompanhados pelo mínimo de criatividade, possamos conceber o que quer que atravesse a nossa imaginação. É certo que, actualmente, o avanço tecnológico nos permite conciliar um mundo fantasioso não palpável com a nossa realidade, mas a animação ganha na medida em que ostenta harmonia e consistência naquilo que apresenta, descredibilizando a técnica básica do actor frente à tela verde, com um cenário digital por vezes sofrível aos nossos olhos.

A concepção de animação comportada pela sociedade norte-americana durante os anos 30, ao surgir, por parte de Walt Disney, a ideia de lançar a primeira longa-metragem de animação da História, numa era em que se pensava que apenas a fórmulas das curtas de poucos minutos resultava, parece não ter sido totalmente ofuscada a nível global pelo imprevisível sucesso de Branca de Neve e os Sete Anões (Snow White and the Seven Dwarfs, 1937) e dos sucessivos clássicos da que se tornou uma das maiores companhias à escala mundial. Ainda hoje, um filme de animação é frequentemente visto como sinónimo de fracasso e de ausência de qualidade, antes sequer de ser concebido. A par deste “pré-conceito”, a animação parece estar única e exclusivamente dirigida a um público infantil, o que não poderia ser mais errado. O facto de nos termos acostumado a assistir a filmes coloridos e com um final feliz desde os primórdios da animação não faz destes necessariamente dirigidos uma determinada faixa etária e fazê-lo é inferiorizar a condição de ser criança. Se a lição de moral usualmente inserida nos filmes de animação a que nos habituámos é importante à formação da criança enquanto indivíduo consciente, não menos importante é para o adulto, lembrando que existem princípios éticos que os mais velhos tendem a esquecer – ou fazem por isso – e prova que, afinal de contas, existe maturidade no que toca à animação. Se mais provas de que a animação não se restringe a uma limitada faixa etária forem necessárias, basta referir o nome de Hayao Miyazaki, mestre da animação japonesa – o anime – responsável por inúmeras obras de arte cinematográficas. Miyazaki mostra que é tão capaz de criar encantadores contos fantasiosos como Totoro (Tonari no Totoro, 1988), como de conceber memoráveis épicos ilustrados com sangue e decapitações como é exemplo Princesa Mononoke (Mononoke-hime, 1997).

Tiago Mota
Redacção 1

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