Padrinhos em part-time
Coimbra, Outubro, caloiros. Estas são as palavras-chave que
dão mote à primeira grande festa académica do novo ano lectivo – a Festa das
Latas, mais conhecida por Latada. É uma das tradições mais antigas da
Universidade de Coimbra e da Academia Coimbrã e tem como intenção dar as
boas-vindas aos novos estudantes na cidade, mas também, dar-lhes a conhecer um
pouco mais da cidade dos estudantes, da tradição académica, praxista e cultural.
Tradição é tradição e nenhum caloiro pode sentir
verdadeiramente o espírito académico sem passar por todos os momentos que fazem
parte da Latada. Serenata, noites no parque, convívio entre “padrinhos” e
“afilhados”, cortejo, baptismo, a alegria ao verem os seus fatos mais patéticos
…
São circunstâncias diferentes umas das outras, cada uma com
um sabor especial, mas a mais ansiada é sem sombra de dúvida o baptismo, considerado
o “momento” dos momentos. O despejar das frias águas do Mondego sobre o corpo
dos caloiros marca para eles a entrada definitiva na vida académica coimbrã.
No dia 1 de Novembro de 2011, pelas ruas de Coimbra
desfilavam centenas de caloiros disfarçados das mais variadas figuras. As
atenções estavam inteiramente viradas para eles. Os fatos, as ideias, a
originalidade, o trabalho dos padrinhos, tudo era visto ao longo do dia, tudo
era questionado, tudo era fotografado.
Podiam sentir-se importantes, e com razão. Qualquer “doutor”
para ser o que é hoje teve de passar por aquele dia especial sentindo-se também
importante à sua maneira. Muitos parabéns eram dados aos padrinhos pelo
esforço, trabalho e dedicação que impuseram na construção dos fatos dos seus
afilhados, mas outros criticados eram também. A missão dos padrinhos académicos
é ajudar os caloiros a uma perfeita adaptação a esta nova vida, e a construção
da roupa vestida por eles no momento do baptismo é uma prova de que gostam e
que se esforçam por fazer daquele dia algo inesquecível para os “mais novos”.
Esta é a regra. Mas a regra é quebrada.
Os “padrinhos” e “madrinhas” de Coimbra gostam tanto dos
seus afilhados que os levam vestidos com roupa normal, limitando-se a
pendurar-lhes uns enfeites … Não os fazem sentir importantes … não os inserem
na tradição … não os fazem perceber o que é, como é, como se vive o fantástico
espírito académico conimbricense (só por quem cá passa é que sabe!) … mas os
Doutores continuam a ser fantásticos!
Este desleixo faz lembrar a crise e o seu ciclo vicioso.
Começam num, que passa ao seu descendente, e por aí adiante até arruinarem a
tradição. Mas parece que está na moda os ciclos viciosos de destruição e por
isso que continuem. Quando, um dia, a Latada não for nada do que é hoje nem do
que foi antigamente, a culpa não será de ninguém. “É dos tempos”, dirão…
Por: Isabel Oliveira – Redacção 1
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