Tema Livre
Entrevista a Abdellah Bouazza, Consultor
Jurídico da Associação dos Imigrantes Magrebinos e de Amizade Luso-Árabe
Consultor Jurídico da Associação dos Imigrantes
Magrebinos e de Amizade Luso-Árabe e, ao mesmo tempo, responsável pelo Centro
Cultural Islâmico do Porto, Adbellah Bouazza, Marroquino em Portugal há 26
anos, faz fortes críticas à burocracia portuguesa, considerando ser este o
problema de uma não adaptação perfeita ao país. Lutador pelos direitos dos seus
compatriotas e fiel à sua religião islâmica, confessa, no entanto, adorar
Portugal e o povo português graças ao seu carácter humilde.
Qual o cargo que ocupa na ESSALAM?
Pertenço ao Conselho Jurídico.
Há quantos anos reside em Portugal?
Há 26 anos.
Em que consiste a ESSALAM?
A ESSALAM é uma Associação dos Imigrantes Magrebinos e
de Amizade Luso-Árabe que está reconhecida pelo ACIDI (Alto Comissariado para a
Imigração e Diálogo Intercultural) e que, desta forma, desenvolve acções
perante pedidos de ajuda de qualquer cidadão magrebino que pretenda inserir-se
na sociedade protuguesa.
Como surgiu a Associação? Quais os seus objectivos?
A ESSALAM surgiu para tentar compreender e revolver os
problemas dos Marroquinos e também do povo Magrebino, nomeadamente, aspectos de
legalização e de integração na sociedade portuguesa, tentando sempre que os
nossos associados e os seus descendentes melhorem as suas condições de vida.
Para além disto, fazemos com que haja uma coesão entre os associados, de modo a
promover cada vez mais a cultura de todos os imigrantes do Norte de África.
Outros objectivos da associação são incrementar cursos de formação profissional,
em especial a aprendizagem da língua portuguesa e promover actividades
desportivas entre os associados da ESSALAM e também entre associados e
terceiros. No fundo funcionamos como guias para a total adaptação do povo
Marroquino a Portugal.
Que actividades desenvolvem?
Organizamos variadas actividades, desde desporto até
cultura em geral. As aulas de língua portuguesa são um exemplo das actividades
por nós desenvolvidas. Em breve iremos organizar a Semana Cultural Marroquina,
que irá decorrer no próximo mês de Maio em local que ainda não está definido
mas que em princípio será ou no Porto ou em Matosinhos e que funcionará como
uma exposição ou cartão-de-visita em que se pode ver tudo o que pertence à
cultura Marroquina. Tradições, roupa, músicas, artesanato, turismo e alimentação
… Imaginamos que estamos em Marrocos e recriamos o ambiente do nosso país.
Quantos marroquinos existem em Portugal?
Não temos dados concretos para responder a isso, mas
no Norte de Portugal existem cerca de 4000 Marroquinos em que 500 são associados
da ESSALAM que tem a sua sede situada no Porto.
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Um associado nosso foi detido por não estar
legal, mas o que é certo é que o pedido estava
feito há mais de 2 anos”
Qual o principal problema que enfrentam os Marroquinos
após a entrada em Portugal?
Bem, sem dúvida que o principal problema, que acaba
por ser um obstáculo, é a legalização e toda a burocracia que está relacionada.
A legalização de estrangeiros em Portugal é muito complicada, devido a todos os
problemas jurídicos, pois o problema não é dos imigrantes, mas sim de Portugal.
O SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras) é o responsável por emitir as
legalizações dentro de 2 meses após o pedido, mas raramente este prazo é
comprido. Por exemplo, um associado nosso foi detido por não estar legal, mas o
que é certo é que o pedido estava feito há mais de 2 anos. De quem é a culpa? O
imigrante marroquino não podia fazer mais nada. Para o nosso pedido de
legalização ser aceite é preciso termos um contrato de trabalho, mas em muitos
casos temos de trabalhar a recibos verdes. Temos pedidos de legalização sem
resposta até hoje que foram emitidos desde 2008. Outro problema que temos de
enfrentar, embora seja mais fácil de resolver, é a língua. Para isso, a ESSALAM
também dá uma preciosa ajuda, dando as aulas de aprendizagem da língua
portuguesa para os cidadãos magrebinos.
Considera fácil para os Marroquinos arranjar trabalho
em Portugal? Por que sectores de actividade de distribuem maioritariamente?
É fácil arranjar emprego em Portugal, o problema é
mesmo a legalização. Muitos Marroquinos têm de trabalhar a recibos verdes.
Obras, feiras, comércio, cafés e restaurantes são os locais de actividade onde
podemos encontrar mais Marroquinos. Eu, actualmente, por estar em Portugal há
muitos anos e dar-me bem com a língua, trabalho como tradutor nos tribunais,
mas é óbvio que só com o passar de muitos anos é que se consegue arranjar um
bom emprego. Ao inicio temos de nos sujeitar seja a que trabalho for.
Como podemos saber mais acerca da vossa cultura?
A melhor forma de conhecer a fundo a nossa cultura é
estarem presentes na Semana Cultural Marroquina, onde, como já sabem, podem
conviver com muitos Marroquinos e observar todos os aspectos da nossa cultura
como o vestuário, a alimentação, a roupa, a música, entre outras coisas.
O que os levou a vir para cá?
Penso não existir uma razão concreta para essa
escolha. Escolher Portugal ou outro país qualquer depende de cada um, pois a
imigração não tem destino. No meu caso, escolhi Portugal por estar mais próximo
e por oferecer boas condições comparativamente com a vida que tinha em
Marrocos. Mesmo depois de algum tempo em Portugal, há os que conseguem ficar cá
e os que têm de ir embora. Os imigrantes não têm sítio fixo.
A integração em Portugal é fácil?
Sim. (risos) A integração em Portugal é mesmo muito
fácil. Nos primeiros tempos andamos preocupados com os documentos e não temos
muito tempo nem disposição para a adaptação a Portugal e aos Portugueses, mas
depois sim. Exemplo disso são as famílias marroquinas presentes em Portugal que
vieram com os seus filhos e estes conseguem tirar cursos superiores. Portugal é
um povo mediterrânico, mais humilde e, por vezes, achamos que estamos na nossa
própria terra. Considero que em Portugal não há racismo.
Relativamente à vossa Religião, como a define? Como a
costumam praticar?
Islamismo. Esta é a minha religião e a da maioria dos
Marroquinos, somos muçulmanos. Para além do cargo aqui na ESSALAM, sou
responsável pelo Centro Cultural Islâmico do Porto e creio que na zona Norte do
País existem cerca de 4000/5000 muçulmanos, que não são apenas Marroquinos, mas
também Asiáticos, Europeus e Africanos no geral. Na zona Norte existem centros
de culto no Porto, em Vila do Conde, em Póvoa de Varzim e em Braga onde podemos
praticar a nossa religião. De uma forma breve, posso-vos explicar que como
rituais temos as 5 orações diárias: uma de manhã cedo, outra à hora de almoço e
as outras distribuem-se pelo resto do dia, dependendo do pôr-do-sol.
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