São muitas as
vozes que se levantam a favor da evolução da escola actual para uma escola
inclusiva. Desde 2006
que a legislação portuguesa permite a constituição de turmas com percursos
curriculares alternativos que visam o desenvolvimento de competências de base e
de áreas de interesse. O intuito é que jovens com dificuldades de integração e
aprendizagem continuem a ir às aulas. “As escolas que oferecem este tipo de
formação estabeleceram protocolos com diversas empresas e entidades; o nosso
principal objectivo é a conclusão da escolaridade obrigatória por parte destes
alunos, bem como o incentivo para prosseguirem os estudos em áreas
profissionais específicas”, explica o Presidente do Agrupamento Vertical de
Escolas de Monforte, António José Baptista Pereira.
Monforte é uma vila situada no
norte alentejano, a 28 km de Portalegre. Dos cerca de 1200 habitantes, grande
parte é de etnia cigana. Os jovens em idade escolar desta etnia são os que mais
frequentam os PCA’S na localidade.
Um ex-aluno dos PCA’s, João Pedro
Marrucho Gamas, de 19 anos, conta que reprovou “duas vezes em três anos”,
porque “na época a escola não fazia sentido, não se adequava ao que pretendia”.
A frequentar actualmente uma via de ensino profissionalizante, mais avançada, é
com estas palavras que João Gamas explica a sua transição do ensino regular
para um ensino com percursos alternativos.
O presidente do
Agrupamento Vertical de Escolas de Monforte afirma que a adopção dos PCA’s pela
escola foi uma medida para “encontrar soluções ajustadas à diversidade de casos que
não se enquadram nem no ensino regular nem no ensino recorrente”.
O programa oferecido é amplo e
rico em diversidade, com um planeamento e horário bem definido. “Da parte da
manhã os alunos têm aulas com algumas adaptações a nível do programa lectivo.
Da parte da tarde desenvolvem outro tipo de competências: praticam actividades
desportivas, natação, jogos, dança e teatro”, explica Catarina Rato, coordenadora
de departamento e de estabelecimento do 1º ciclo de Monforte.
“As actividades que praticamos
são diferentes, vão mais ao encontro do que gostamos de fazer.” diz,
timidamente, Joana Ramos, uma aluna dos PCA’s de Monforte.
Matilde Candeias, professora do
ensino básico da escola de Monforte, relata que as famílias de etnia cigana têm
hábitos e crenças “muito peculiares”, que se reflectem no desempenho escolar
dos filhos. As crianças de etnia cigana são as que mais optam por esta via de
ensino. As actividades mercantis e sazonais que desenvolvem com os pais e a
comunidade em que se inserem, faz com que se ausentem durante longos períodos
da escola, impossibilitando-as de fazer um percurso normal de aprendizagem. “As
raparigas, por exemplo, quando terminam o 4º ano de escolaridade, são retiradas
da escola para aprenderem as suas tarefas domésticas e para se prepararem para
o casamento”, diz Palmira Grilo, professora da mesma escola.
Pelas descrições, e numa ida ao
local, percebe-se que as crianças estão mais integradas e predispostas para a
aprendizagem. “Os jovens de etnia cigana crescem em liberdade e, por isso
mesmo, não estão habituados a estar fechados em salas de aula.”, diz Matilde
Candeias.
Segundo Alda
Lista, docente que contacta de perto com este programa de ensino, existem
diferentes percepções sobre o funcionamento de uma escola inclusiva. “As
matriarcas de etnia cigana, apesar de recusarem uma aculturação, sentem-se
excluídas e gostavam que os filhos frequentassem a escola juntamente com os
outros”. Apesar das necessidades especiais evidentes de alguns jovens, a
comunidade cigana parece discordar de uma separação, uma vez que as aulas
decorrem em edifícios individuais.
A docente acrescenta que os
alunos com predisposições diferentes para o estudo, em ambiente de aulas convencional,
não se sentem motivados e, mais tarde, acabam por abandonar a escola. Os
entraves não se colocam somente aos alunos, mas também aos professores que,
muitas vezes, não sabem como lidar com as necessidades destes jovens. “Os
professores de uma classe regular não encontram tempo nem disponibilidade
suficientes para dar resposta a estes alunos que, na sua maioria, chegam à
escola sem os pré-requisitos dos outros”, justifica.
Longe vai o
tempo em que a uniformidade do ensino se dirigia a um grupo restrito de alunos
social e culturalmente semelhantes para quem a utilidade da educação escolar
era única e estava bem definida. “A mudança da realidade implica repensar o
ensino actual. Para que a aprendizagem seja satisfatória é necessária mudança”,
entende Matilde Candeias que, apesar dos programas alternativos, não sabe até
que ponto “será inclusivo estruturar as turmas de PCA’s e isolá-las do ensino
regular”.
Paula Cabaço
Redacção 2
Sem comentários:
Enviar um comentário