Ouço o cantar dos pássaros pela manhã, o som do dia que se levanta cedo, da inquietação causada pelo calor. Tem uma cor que por vezes não consigo descrever, é uma mistura de azul, verde e laranja, quase como a cor do pôr do sol ou a mistura desproporcional de aguarelas de uma criança. É quente como um abraço apertado de quem já há muito espera ser abraçado.
Tem um sabor característico, a terra, a tradicional. Sabor de quem faz á mão, quem aprendeu com os mais antigos, dos avós, dos bisavós…sabor de quem colhe, lava, corta, cozinha e serve. Cheira a alegria, a folhas e a família. Cheira a verão, a protecção, a fortaleza e a areias coloridas. A maresia…as ondas a bater nas rochas também me lembra a minha terra, o sal, a simplicidade inerente a uma criança que recolhe conchas á beira-mar. Essa criança em tempos fui eu!
Ah saudades da textura! Da terra que parece caminhar debaixo dos meus pés quando faço longos passeios a cavalo por entre os pântanos, o respingar da água nos meus braços despidos ou no meu chapéu que acaba sempre por cair e repousar nas minhas costas.
A minha terra preenche-me, criou-me e ajudou a fazer de mim quem sou hoje. Definir-nos longe dela, auto retratar fielmente a nossa própria personalidade, os nossos anseios e dúvidas, fraquezas e mistérios não é fácil. Senti-me muitas vezes perdida, desiludida, umas vezes esperançosa, e outras derrotada. O Brasil tem uma cor , um sabor, um cheiro e uma textura que não conseguia encontrar em mais lado nenhum. E fui crescendo, e aprendendo que tudo aquilo não estava na terra, mas nas pessoas que lá habitavam. Nas dificuldades passadas, nos objectivos alcançados. A família era claramente o mais importante, é confidente, juíza, essencial em todos os momentos. A quem devo tudo o que sou. Mais tarde encontrei o outro amor e voltei a sentir todas aquelas sensações, o calor, a alegria, uma cor que não conseguia descrever e um cheiro que queria sentir.
A minha terra deixou marcas em mim, e continua presente apesar da distância de apenas 7.690 km, mas encontrei uma nova terra para chamar de minha, uma nova casa. Mas não minto, ainda hoje, sempre que piso os pés no país azul e amarelo consigo sentir “aquele” abraço.
por Barbara Corby
Sem comentários:
Enviar um comentário