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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Revistas e jornais de papel

      O prazer de uma leitura com toque e cheiro      

           “Quebra de venda de revistas e jornais de papel” é o assunto que está na ordem do dia há algum tempo. No entanto, na papelaria de Maria João Madruga a situação não se passa tão dramaticamente como acontece em alguns locais. Por estar localizada numa zona de muita flutuação de pessoas do Bairro Norton de Matos em Coimbra, ajuda a que logo de manhã um enorme aglomerado de clientes entre pela papelaria a dentro em busca da primeira publicação da manhã, com novas notícias para saber e também o mundo do entretenimento para desvendar.
              São onze horas da manhã e Maria João acena com um ar simpático para os clientes que vão entrando na pequena papelaria e que fazem fila atrás do balcão. Na maioria são idosos ou pessoas que vão para o trabalho, mas que não conseguem perder um pedacinho das notícias e do entretenimento que as revistas ou jornais têm para lhes oferecer logo de manhãzinha cedo.
            Verifica-se que a relação de Maria João com alguns clientes já é uma situação habitual, que faz parte de uma rotina que não cessa, principalmente para o público mais idoso que não consegue quebrar os seus hábitos de leitura.
            Maria de Lurdes Simões é também proprietária de uma outra papelaria, mas é  cliente habitual da papelaria de Maria João e afirma “tudo o que é revista e tudo o que é jornal, eu leio. Quem me dera poder ler tudo. Eu sou cliente habitual aqui da papelaria” e ainda acrescenta “eu gosto de tudo, tanto de entretenimento, como de informação. Eu adoro ler e isso é muito importante”. Maria de Lurdes sai da papelaria envolvida numa rotina que se repete por muito e muito tempo, agarrada a uma enorme paixão, a leitura. Na mão leva a revista Luxe, de uma forma alegre e com uma expressão de quem carrega nas mãos um hábito que não pretende largar.
         Os clientes vão entrando cada vez mais dentro da pequena papelaria e muitos são os que não precisam de fazer o pedido do jornal ou revista que pretendem, pois para Maria João a preferência de cada cliente habitual já está muito bem assente.
          Chega um cliente mais idoso e pede logo a Maria João “Ora, é o meu jornal se faz favor” e lá vai ela a uma das prateleiras recheadas de jornais e retira o Correio da Manhã. O senhor pega no jornal com muito apego, como se aquele fosse o seu eterno companheiro diário. Agora mais pessoas fazem fila e olham atentas em redor para as ilustres prateleiras cheias de revistas e jornais. Uns com brindes, outros com uma capa de imagem muito apelativa e outros com notícias de primeira página que ilustram a situação que mais se vive pelo país fora: a crise económica e social.
      “Nota-se alguma quebra na compra de jornais e revistas. As pessoas ficaram com medo de gastar mais dinheiro. No entanto, foi só um primeiro impacto. Agora já está tudo mais ou menos normal. A nível de revistas, continuam a vender-se todas, pois as pessoas ao lerem uma revista que as distraia, não se lembram tanto da crise”, afirma Maria João com um ar alegre, enquanto vai olhando para a porta da papelaria à espera que entre mais um dos seus clientes habituais.
        “O que se vende mais é a TV 7 dias, a Luxe, a Nova Gente no que toca a revistas e a nível de jornais é sem dúvida o Correio da Manhã que é aqui o mais vendido diariamente”, acrescenta. E mais uma cliente idosa entra na papelaria e diz, novamente, a Maria João “É a minha revista se faz favor” e lá vai ela buscar a revista Caras, como que num ritual constante de entrada no mundo do entretenimento.
         Maria João afirma “De manhã quem cá vem à papelaria são os idosos, mas à hora do almoço começam a aparecer pessoas mais jovens. Os pais que vêm trazer os filhos aqui ao centro também aparecem. Vende-se tudo” e ainda acrescenta “quando saem cadernetas de cromos então é a loucura. Quanto mais brindes tiverem as publicações mais vendas elas têm, porque puxa mais pelo público”.
      Atrás de um balcão a vender revistas e jornais, num contentamento intensivo em atender clientes habituais, é o que de Maria João faz vida. A manhã agora vai avançando e a clientela está a acalmar, pois a curiosidade pelas novidades já teve o seu grande auge logo cedinho pela manhã. Após o almoço será o público mais jovem a chegar, a olhar em redor atento, a sentir o cheiro do papel de uma revista ou de um jornal, acabadinho de ser publicado.
      Pessoas com vidas tão diferentes e com objectivos tão distintos, mas que buscam na leitura de um jornal ou de uma revista o gosto pela novidade ou mesmo pelo entretenimento. Buscam saber o que se passa em seu redor e o que a realidade tem agora para lhes oferecer. Uma realidade que é vista de diversos prismas, por publicações tão distintas e que buscam chamar a atenção do público das mais diversas formas.
     “Fim de revistas e jornais de papel” é o que tanto se discute nos tempos actuais. No entanto, ainda há quem tenha o gosto pelo toque do papel, do cheirinho intenso do jornal, de andar com uma revista na mão e ler um pouco enquanto se toma um café, se almoça ou se espera pelo autocarro. Com objectivos tão diversos, pessoas jovens ou idosas, ainda conseguem ter o gosto pela compra de um bom jornal ou de uma boa revista, conforme os diferentes interesses.
       E assim termina mais uma manhã, na papelaria de Maria João Madruga, por entre o cheiro e o ambiente a revistas e jornais, que muitos não conseguem deixar de sentir. Muito menos Maria João que faz disso vida.
         A papelaria ganha uma dinâmica inigualável com os clientes, com os jornais, com o espaço pequenino e aconchegado. Ganha vida, com o gosto dos mais idosos pela leitura.
        O problema é que os mais jovens já alcançaram outros meios de se entreter e de se informar, que os idosos não alcançaram. Para isso servem os brindes em algumas publicações, de forma a se tentar pôr cobro à quebra da compra de revistas e jornais por parte de um público cada vez mais sedentário no que toca aos seus hábitos de leitura, sem já quase conseguir sentir o prazer de ler uma revista ou um simples jornal de papel, como que numa forma de se informar sobre a actualidade ou simplesmente de se entreter.


                                                                                                             Por Ana Pombo, Redacção 2

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