É do conhecimento geral que a
Igreja Católica encara a sexualidade e todos os seus contornos como um tabu.
Aliás, por encarar o sexo como uma dádiva divina, o catolicismo condena actos
como a masturbação e a pornografia, considera imoral a inseminação artificial
assim como qualquer forma de planeamento familiar que não passe por castidade e
controlo da natalidade através de métodos naturais.
Apesar de não existir nenhuma doutrina vigente
no que diz respeito a temas como a contracepção, a Igreja Católica faz-nos
chegar princípios conservadores através do seu expoente máximo: o Papa. De
facto, a proibição total dos métodos contraceptivos artificiais remonta a 1930
pelo Papa Pio XI, manteve-se até 1968, altura da publicação da encíclica Humanae Vitae pelo Papa Paulo VI e
constitui a política actual da igreja originando esta batalha entre o ideal
utópico da igreja e a realidade mundana.
Sendo o sexo encarado como a
concepção original do pecado e até uma luxúria vergonhosa o sumo pontífice
apregoa que este deve limitar-se à procriação da espécie e nunca pelo prazer.
Então e vamos procriar sempre que praticamos sexo, desde que iniciamos a nossa
vida sexual, pergunto eu? Simples, segundo a igreja a vida sexual só deve
iniciar-se após o casamento, uma vez que é apenas neste momento que Deus
concede aos casais o poder da vida. A partir daí, se não quiserem ter um
“rancho” de filhos então tenham atenção mulheres, tornem-se peritas nos métodos
naturais de controlo da natalidade. Sim, porque qualquer outro método
contraceptivo é completamente banido. Mas se estes métodos naturais não
previnem as doenças sexualmente transmissíveis, como preveni-las, pergunto eu
novamente? Mais fácil ainda, basta seguir estes três conceitos: fidelidade no
casamento, castidade e abstinência sexual. Afinal de contas, distribuir
gratuitamente contraceptivos é incitar os jovens a práticas condenáveis e
imorais.
Ridículo? Pré-histórico? Ou
simplesmente afastado da realidade? Talvez fosse mais fácil optar por uma
doutrina moderada e sensata de modo a adaptar-se minimamente à sociedade actual
na qual se observa a propagação crescente de doenças sexualmente
transmissíveis, nomeadamente o vírus VIH/Sida. A meu ver, já está na altura de
a Igreja Católica reavaliar as suas convicções. As pessoas já não possuem a
mesma educação e o mesmo conhecimento que existia em 1930, as mentalidades
evoluíram e a educação sexual já é ensinada a crianças. A mudança está em
marcha, e já são escassos os que seguem cegamente os ideais desta igreja que a
cada dia que passa se torna cada vez mais absurda pela falta de consciência
daquilo que exige aos seus fiéis.
Crenças à parte, o ser humano e o
seu bem-estar devem ser sobrepostos à irracionalidade. Lanço ainda o repto para
se pensar sobre a seguinte questão: Se colocarmos este denominado pecado junto
de crimes hediondos que retiram a vida humana, será que a Igreja continuaria a
classificar o acto sexual como vergonhoso?
Eduarda Barata, Redacção 2
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