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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

“Em prole de um futuro melhor, espero eu”


É num recanto de uma superfície comercial da vila da Benedita, concelho de Alcobaça que encontramos Ângela Vicente. A técnica de farmácia de 23 anos vê na Parafarmácia VivaPharma que abriu à cerca de dois meses a oportunidade de mudar e quem sabe melhorar o seu futuro. “Gosto do que faço e do projecto do qual sou empreendedora mas não está fácil arranjar trabalho e todos os anos saem mais formados, é uma verdadeira bola de neve que se alastra e é disso que tenho medo.”, confessa a jovem turquelense que desempenha também as funções directivas.

Joana Pestana – Actualmente está a colher os frutos da árvore que criou e cuidou durante os últimos anos. Conte-me um pouco da história relativa ao seu percurso académico, do qual está a tirar proveito.

Ângela Vicente – A minha preocupação sempre foi pensar muito na prática. Admito que não fui uma aluna brilhante em todas as cadeiras mas apliquei-me em tudo o que tinha a ver com o meu curso, Farmácia. Foram quatro anos duros, tinha muito pouco tempo livre e passava o dia quase todo na ESTeSL (Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa) contudo, quando gostamos vale a pena. Desde sempre quis trabalhar com o que dizia respeito à parte prática, ao atendimento e foi nisso que me foquei, até no próprio estágio. Tentei sempre dedicar-me ao máximo porque tinha noção de que era fundamental e penso que é graças a isso que hoje estou aqui como directora técnica, tendo conquistado o meu espaço.
Técnica de Farmácia Ângela Vicente

 


JP – A sua ida para a universidade sempre foi um objectivo ou foi algo que só surgiu com o tempo?

AV- Desde nova que tive o objectivo de prosseguir nos estudos. Ciências era definitivamente a minha área e a saúde era o que eu queria. Ponderei opções desde nutrição a farmácia ou enfermagem, impondo apenas o contacto com o doente e o gosto que sinto como parâmetros indispensáveis. A ideia de Farmácia veio apenas quando no 12º ano reflecti conscienciosamente sobre o futuro, o trabalho e as saídas profissionais. Nessa altura comecei a concentrar-me no que precisava para ingressar no ensino superior. Informei-me, percebi que conseguia entrar naquela escola e fiz a minha escolha com base no bom nome, nas condições oferecidas e na localização.

JP – Todas esta jornada implicou sacrifícios e com certeza surgiram dificuldades, como correu?

AV - Felizmente os meus pais economicamente sempre me puderam ajudar mas tenho noção de que mesmo que quisesse trabalhar e se tivesse essa necessidade durante o curso, nunca o teria feito em quatro anos. Com todo o trabalho e dedicação que o curso exigiu de mim, fiquei sempre com muito pouco tempo livre. Durante o ano de estágio, a trabalhar a tempo inteiro era praticamente impossível conseguir conciliar mais alguma coisa.

JP – A sua vida foi muitas vezes ponderada em função da realização deste sonho?

AV – Foi, mas só às vezes porque sempre consegui conjugar mais ou menos as coisas. Sem querer deixar de parte as idas a casa ao fim de semana e o tempo com a família e amigos mais próximos, aproveitava todos os dias da semana para estudar até tarde e não descansava enquanto não acabasse o que estava a fazer. Nunca abdiquei daquilo que me fazia sentir bem e feliz por causa dos estudos, se o fizesse não resultaria.

JP - Como surgiu a oportunidade de abrir a Parafarmácia?

AV - Tendo em conta as dificuldades que passamos hoje em dia e a dificuldade que tive em arranjar trabalho, surgiu esta oportunidade única. Estive na farmácia Popular em Turquel mas só temporariamente e após percorrer várias farmácias arranjei trabalho numa em Alvorninha. A farmácia em causa propunha um estágio profissional que nunca entrou em vigor e sentido que não era futuro para mim, analisei outras hipóteses. O meu pai sempre me falou na ideia de eu abrir um negócio próprio e aí surgiu a ocasião ideal para pensar no assunto. O Neomáquina dispõe desta zona comercial, estava a criar espaços e tendo em conta a proposta comecei a avaliar a viabilidade económica. Foi um risco que corremos considerando a fase que o país atravessa. Não será fácil mas faço-o em prole de um futuro melhor, espero eu. (risos)

JP - Em relação ao planeamento, à duração do projecto e às burocracias envolventes, foi uma fase complicada?

AV - Foi menos complicado do que aquilo que eu pensava. Comecei a pensar neste projecto desde o início do ano, por alto, vendo valores e investimento. Depois a partir da tomada de decisão andei a analisar preços, investimento, rendas e comecei a, trabalhar todos os dias para abrir o mais rápido possível. Em termos burocráticos não foi muito difícil porque já estamos integrados num espaço com licença e posteriormente tive de solicitar o licenciamento do Infarmed (autoridade nacional do medicamento e produtos de saúde).
Parafarmácia VivaPharma localizada no supermercado Neomáquina, na vila da Benedita

JP - Desempenha todas as funções que dizem respeito à edificação deste projecto empreendedor sozinha?

AV – Neste momento tenho um colega que faz comigo o atendimento mas depois toda a parte de gestão sou eu que faço e farei enquanto conseguir.

JP – Foi fácil criar este posto de trabalho?

AV – Sim, aproveitei a oportunidade e ele está cá a realizar estágio profissional. Visto que é um período experimental de um ano, vou ver se isto tem viabilidade ou não mantendo todas a opções em aberto, como por exemplo ter de ficar só eu aqui.

JV – Como vê a sua profissão e o facto de estar integrada na área da saúde?  

AV - Eu acho que é muito gratificante. Acho que o sentir que podemos ajudar e contribuir de alguma forma faz-me sentir bem. Aqui não se vive só aquele dia a dia de lidar com doenças e problemas que facilmente nos afectam. As pessoas valorizam-nos pela profissão que temos, respeitam-nos, consideram a nossa opinião e isso é fantástico.

JP - Este é um serviço que ao fim ao cabo está ligado às pessoas, por diversos motivos como acabámos de dizer. No fundo exige um atendimento muito personalizado, um trabalho profundo e uma aproximação diferente, como é que isso é?

AV - É inacreditável como em dois meses de abertura ao público, já haja clientes que se fidelizaram, que já entram constantemente por aquelas portas, conversam e pedem ajuda. Na realidade, essa ligação para mim é que é importante pois não me interessa só vender, quero que a pessoa vá contente, se sinta bem e pense em voltar.

JP- Gosta realmente do que faz, como já entendi. Deseja que dure para sempre, podendo quem sabe expandir o negócio, ou por outro lado, tendo em conta a situação do país é difícil fazer mais planos ou desenvolver projectos?

AV – De momento não tenho outros projectos, estou realizada. Essencialmente aquilo que eu espero mesmo muito é que o negócio supere a crise porque é aqui que eu me vejo a trabalhar, acho que se estiver aqui estou bem. Caso isso não se verifique, considero a hipótese de sair do país por algum tempo. Gosto do que faço e do projeto do qual sou empreendedora mas não está fácil arranjar trabalho e todo os anos saem mais formados, é uma verdadeira bola de neve que se alastra e é disso que tenho medo.

JP - Até agora há algum arrependimento baseado nas escolhas que foi tomando?

AV - Não me arrependo de nada do que fiz. Tenho noção que sei fazer aquilo que aprendi, sinto-me à vontade e pretendo aprender mais, sou uma pessoa interessada e se há uma coisa nova vou ver ou ler pois agrada-me imenso saber aconselhar e ajudar da melhor forma. Até hoje não me arrependo de ter aberto o espaço, só espero que estas tenham sido as melhores decisões para mim.

JP – Tenciona apostar mais na sua formação?

AV - Eu sou sincera, não vejo por exemplo um mestrado como uma necessidade, talvez por estar num negócio próprio neste momento e isso também não me deixar muito templo livre. Ainda assim, sinto sempre necessidade de aprender, dou mais importância a formações e eventualmente uma pós graduação num tema que eu sinta que não estou tão à vontade.

JP – Apesar da novidade que é o seu projecto, quais foram as principais dificuldades e talvez mesmo preocupações?

AV - As minhas principais preocupações são pagar as contas e por vezes ver os dias a passar não é fácil. Sinto imenso a responsabilidade de pagar à pessoa que aqui trabalha comigo. Em relação ao resto não tenho tido grandes obstáculos nem me tenho deparado com situações que não consiga resolver. Sinto realmente é o peso da responsabilidade e as minhas verdadeiras preocupações são se isto vai dar, se vai ser um sucesso ou não.

JP – Como é que se sente aqui quando olha para o que conseguiu?

AV - Sinto-me principalmente realizada. Esta é a minha área, gosto disto, gosto do atendimento ao público, de trabalhar não só a parte que diz respeito aos medicamentos, como à cosmética, aos suplementos, às vitaminas, à parte de bebé e ao contacto com diferentes faixas etárias. É muito bom.
Atendimento ao público
 
 por: Joana Pestana

 

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