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domingo, 21 de outubro de 2012

Fado e mais qualquer coisa

“Em Portugal é sempre a mesma coisa, no estrangeiro é que é bom.” Cresci a ouvir esta frase, ainda hoje a ouço. Todos, de uma forma ou de outra, a aplicam ao que mais lhe convém. Estejamos a falar de política, cinema ou economia. E entre tantos temas, lá aparece a música portuguesa perdida numa destas conversas. Sim porque a música nacional não é nada além do fado. Pelo menos, é desta forma que sinto que a vêem. Perdão, que a ouvem!
Somos o pequeno país da península, para muitos, não passamos dos “bimbos” com bigode, da ponta Europa que sabem receber turistas e continuar a dizer “és francês? Ena! Na França é que há boa música.” Tudo isto é mentira, errado e triste. Portugal, é musicalmente rico! Se há má música em Portugal? Sim, bastante. Mas isso acontece em todo o lado não é?
A qualidade e diversidade da música portuguesa que actualmente se ouve, é simplesmente notável, basta ir á procura dela. Temos muito que descobrir. A ideia de que a nossa música é toda igual ou anda toda á volta do mesmo, é errada. Não querendo deixar para trás os grandes nomes de toda a história da música nacional, acho que hoje estamos mesmo muito bem. Nos últimos anos, a abordagem à música portuguesa tem vindo a mudar, os artistas estão mais destemidos, as línguas mais afiadas. Há mais vontade de experimentar coisas novas, introduzir novos instrumentos, inventar novas vertentes musicais e continuar com as que sempre cá estiveram. Os nossos músicos perderam o medo, e algo fantástico aconteceu.
Enquanto escrevo estas linhas, vou comendo “acordes com arroz”, dos Doismileoito. O “super” youtube trouxe-me aqui. Encontrei boas guitarradas, cheias de fibra e harmonia com letras simples e bem escritas em português, mensagens interessantes.Talvezseja este o novo pop-rock português, já descoberto por muitos, mas desconhecido para outros tantos. E não, não é mais do mesmo.
A minha viagem pelo famoso site dos vídeos parou há pouco no “Palco do tempo” de Noiserv. Uma música conhecida por entrar na banda sonora do filme/documentário José & Pilar. Talvez por isso, e felizmente, menos ignorada pelo público em geral. É de facto um músico inovador. Um homem sozinho em palco, tocando e gravando um instrumento de cada vez, o som da sua guitarra, do seuxilofone, chegando até a usar um acordeão. Pode parecer até confuso ler isto, porque a música ouve-se, não se explica. Segundo as fontes de quem tem o “dom” dos rótulos, Noiserv é um músico indie/alternativo.
Os exemplos que referi (Doismileoito e Noiserv) são apenas dois dos, entre muitos, valores da nova música portuguesa. A revolução musical portuguesa tem-se vindo a revelar em todos os génerosmusicais.Seja com o gritar dos instrumentos ou com o poder das palavras, não nos limitamos mais apenas àsbaladas, ao fado e ao rock dos Xutos. Não precisamos de sair do nosso pais para encontrar boa música seja ela electrónica, rap, indie ou até mesmo progressiva, sem esquecer o fado e a música rock popular dos Diabo na Cruz. Portugal está a crescer, e os nossos artistas também.
Cada vez mais têm vindo a surgir festivais com o intuito de promover e divulgar a música Portuguesa. O que é bom, já que as rádios, na sua generalidade, não fazem o seu papel. Muitos são os músicos que continuam no anonimato, ou com um público muito pequeno. Não que não tenham talento, não têm é dinheiro, ou ainda ninguém reparou que já existem no youtube. É nestas alturas que penso, bendita sejas internet. Está na altura de abrirmos mais ouvidos e começar a dar mais valor ao que por cá temos.
por: Marcelo Carvalho
 
*Este artigo não foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico


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