“No dia de S. Martinho, lume,
castanhas e vinho”, assim diz o provérbio. O dia 11 de Novembro é festejado por
todo o país e, marca simbolicamente a chegada do Outono. O cheirinho a castanhas já anda pelas ruas de
Portugal a maravilhar os transeuntes. Com esta época chega também os vendedores
ambulantes de castanhas. É o caso de Maria José que trabalha neste ofício há
anos. Uma “arte” que aos poucos vai desaparecendo!
Maria José: A preparação da castanha é muito simples. Primeiro
molham-se para ficarem bem lavadinhas e para que o sal agarre. Depois com uma faca, faz-se um corte
leve em cada castanha para não ficarem cruas. Coloca-se o sal e um bocado de
erva doce (não é obrigatório, mas dá outro sabor). No fim põem-se dentro do
fogareiro uns 15 a 20 minutos. Quando elas começarem a ficar escurinhas e com um tom amarelado por
dentro estão boas.
PP: Há quantos anos
trabalha como vendedor ambulante de
castanhas? E Porquê?
MJ: Já trabalho na venda de castanhas desde os meus 14 anos. A
minha mãe já trabalhava com este carrinho. Aprendi a sua arte desde pequena.
Lembro-me de andar com ela a vender em criança. Antigamente, era outra alegria no
dia de São Martinho, a rapaziada andava pelas ruas a brincar. As castanhas tinham
outro sabor e outro cheiro. Tudo muda.
PP: A venda das castanhas, na actual situação económica do país, ainda lhe dá lucro? Nunca pensou em
desistir?
MJ: A crise prejudica todos os negócios. Já vi melhores dias, isto
está muito mau. As pessoas agoram preferem comprar as coisas e fazê-las em
casa. Antes, ninguém queria trabalho, mas quando não se tem dinheiro no bolso,
tem que se poupar em tudo. Ainda consigo vender algumas dúzias de castanhas aos
turistas ou às pessoas que vão passando, mas está difícil. Eu gosto disto, já o
faço há muitos anos e, enquanto for dando uns trocos vou andando por aqui.
PP: Todos os anos festeja o de dia São Martinho a trabalhar?
MJ: Mal chega a queda da folha venho logo com o meu carrinho para
as ruas. Já são muitos anos nisto. É a altura que mais se vende, tenho que
aproveitar. Mas pela tardinha vou para
casa, para estar com a minha família e festejar com eles. Eu como castanhas
durante a semana, mas para eles é mais um momento para estarmos todos juntos.
Comemos e bebemos uma bela jeropiga.
PP: Para si, a Lenda de São Martinho, tem um “gostinho” especial?
MJ: Sim. Sempre soube a Lenda de São Martinho,
faço disto vida. Aprendi a lenda com a minha mãe, tinha 5 ou 6 anos. Depois na
escola a professora voltou a ensinar-nos. Fala de um Homem que ajuda outro sem
pedir nada em troca. Isso hoje é tão caro, porque ninguém dá nada a ninguém. É
uma época de esperança. Faz-me lembrar bons momentos da minha vida.
PP: Qual foi a situação mais engraçada que
já lhe aconteceu?
MJ: ( Risos) Já me aconteceram situações engraçadas. Houve
um dia, um senhor, que veio comprar castanhas, normalmente, e de repente
aparece-me a mulher dele aos gritos. Não percebi nada, mas deu-me vontade rir.
por: Márcia Alves
*Artigo não está escrito ao
abrigo do novo Acordo Ortográfico.
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