A crise económica afetou
Portugal. Há cada vez mais desempregados, mais trabalhadores a ganhar menos,
mais pobres, mais famílias em dificuldades. Mas é por o país estar mergulhado
em crise que os portugueses têm que afundar com ele? Testemunhos de pessoas que
tiveram a coragem de ir além fronteiras para obter uma vida melhor.
Por entre palavras gloriosas e
lágrimas amedrontadas, Rogério Carvalho relatou a sua experiência profissional,
de cinco anos, em Papua, Nova Guiné. “ Nunca pensei que algum dia estivesse a
uma distância de meio mundo da minha família. Quando recebi a proposta desta
oportunidade única não hesitei, mesmo tenho uma criança de um ano de idade”. Rogério
é pai de duas meninas, Carolina de seis e Catarina de três, fruto de uma
relação de década e meia com Mélanie Neves. Os continentes Oceânia e África têm
sido muito explorados nestes últimos anos, pelas sociedades ocidentais. Espaços
mais desérticos e tendenciosamente habitados por tribos são, de forma
intencional, explorados e auxiliados por europeus. Deste modo,
cria-se postos de trabalho e promove-se o crescimento económico e social das
áreas em questão. “Em Papua, a população é muito selvagem. São curiosíssimos, nunca
tiveram qualquer ligação com tecnologia na vida”, relatou Rogério enquanto
acendia um cigarro. O emigrante português trabalha como eletricista de
máquinas, profissão que já exercia enquanto trabalhava em Portugal. “Recebo
cerca de 6500 euros por mês, uma quantia que era impensável ganhar em Portugal,
com a mesma profissão. O certo é que me esforço imenso, estou constantemente trabalhar
sob condições caóticas. É
bastante penoso mas o que me faz continuar é saber que dali a três meses estarei
novamente em Portugal, com os bolsos recheados para proporcionar um futuro
melhor às minhas filhas”.AA As
condições meteorológicas no continente oceânico rondam os 30ºC, sensivelmente
todo o ano, enquanto que, em meados de abril, Portugal atravessa uma média de
14ºC. Enfrentando o vento húmido e insípido, Rogério, fechando a sua gabardine e aconchegando as mãos no seu
cachecol, salienta que sente saudades deste tempo e os quinze dias que passa de
férias em Portugal, após três meses de trabalho árduo, são recompensadores e
estimulantes para enfrentar a solidão com que se irá deparar no Oceano
Pacífico.
Por outro lado, Gil Silva de 30 anos,
igualmente emigrante, defende que “foi um desafio mudar-me para um país novo,
adaptar-me à língua, às pessoas, aos costumes, mas a verdade é que estou a
realizar um grande sonho, trabalhar numa empresa de autocarros em Paris!”. Gil geriu
um negócio durante três anos em Portugal, infelizmente não decorreu do modo que
ele pretendia devido ao acumular de dívidas e à carência de apoios do Estado.
“Hoje em dia é muito raro ter um negócio e conseguir orientá-lo sozinho com
sucesso. Eu abri um café, consegui mantê-lo durante três anos mas a realidade é
que trabalhava cerca de treze horas por dia! A minha vida era aquele café, não
tinha vida própria. Até que no ano passado resolvi que tinha de mudar de vida”.
O número de portugueses a procurar emprego fora do país não pára de crescer. A
rede europeia de serviços de emprego tem, atualmente, 56.201 currículos
portugueses publicados e só nos últimos dois meses cerca de 4700 pessoas
inscreveram-se no site oficial de procura. Gil Silva finaliza o seu testemunho
alertando: “Procurar uma vida melhor é uma aspiração comum a todos. Desde
jovens licenciados a homens de família. O desemprego pode atingir qualquer um
devido à grave crise que o nosso país atravessa. Para mim cruzar os braços e
evitar sacrifícios não foi opção”.
por: Ana Beatriz Oliveira
*Artigo está escrito ao
abrigo do novo Acordo Ortográfico..
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