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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

“Pão por Deus!”

Todas as manhãs de dia 1 de Novembro, feriado de todos os santos, acordo com a campainha a tocar vezes sem conta. Do outro lado, quando a porta se abre, encontro inúmeras crianças que batem às portas das casas de desconhecidos para tentar a sua sorte. Ainda me lembro quando era eu! Levantava-me sempre super entusiasmada, a minha mãe deixava em cima da bancada da cozinha um daqueles sacos do pão, em tecido, e lá ia eu com as minhas amigas pedir ‘pão por Deus’ aos moradores do meu bairro. Era sempre uma valente chatice quando nos apareciam com fruta à frente. Mas logo compensava com magníficos chocolates na casa a seguir ou quando uma senhora muito velhinha nos dizia “Ah não tenho cá nada, se calhar vou ter de vos dar umas moeditas…’ – aí sim, era a alegria do dia! Provavelmente até ia gastar aqueles trocos em doces, mas ao menos eram à minha escolha!
Mas afinal o que é isto do ‘Pão por Deus’? Desconhecida por muitos, esta é uma tradição importada dos Estados Unidos da América, onde, na noite de 31 de Outubro (Halloween), as crianças, fantasiadas, se passeiam pelas ruas girtando ‘Trick or Treat’ à porta das casas, esperando por doces. Em Portugal a versão é mais “soft”, sendo comemorada no dia 1 de Novembro pela manhã e sem travessuras à mistura. Soube também a semana passada que em muitos sítios esta tradição não existe ou então tem outro nome, como “pedir o bolinho” (que, sinceramente, é muito mais engraçado que ‘pão por Deus’).
A hora do almoço chegava e estava na altura de voltar a casa e ir com os meus pais até à casa da minha bisavó onde se fazia o tradicional almoço de família. A seguir, já se sabia, a parte mais aborrecida do dia. Sendo o dia dos finados, lá tínhamos todos de rumar, em modo excursão, ao cemitério, onde as minhas tias e a minha avó, muito atarefadas, tratavam das campas dos nossos falecidos familiares e lhes punham flores novas. Dantes, eu andava a saltar de degrau em degrau, no cemitério, com os meus primos. Não era um momento sentimental. Agora cresci. As coisas tocam-me de forma diferente e tenho de explicar aos mais novos o que estamos ali a fazer. Sim, e de uma forma minimamente compreensível, pois eu, em criança, nunca percebi porque levamos tantas flores aos mortos e nunca nos lembramos de as oferecer àqueles que mais amamos quando ainda estão vivos.
 
por: Mónica Silva

*Este artigo não foi escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico.



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