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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

São Martinho sem castanhas?

A vida é uma rotina. As pessoas acordam, preparam-se e dirigem-se para o seu trabalho ou instituição escolar. A maior parte das vezes elas já não têm disponibilidade mental para se apercebem das diferenças/ mudanças ao seu redor. Nestas últimas semanas, o país é, constantemente, presenteado com um novo aroma. Elas chegaram ao Largo do Carvão da Figueira da Foz e muitos transeuntes têm essa perceção olfativa. Elas são as castanhas.
Arminda Silva tem 68 anos e há já 35 anos que ocupa um dos lugares mais conhecidos desta cidade a vender castanhas, o Largo do Carvão. Fê-lo por necessidade, pois não tinha emprego, situação que se mantém nos dias que decorrem. O dinheiro que obtinha da venda deste fruto seco era para “matar a fome aos filhos”. Por volta das 13h00 monta o seu pequeno negócio e às 19h00 arruma-o. Faça sol ou chuva, os figueirenses podem contar com a sua presença, mas só até março. Nos sábados, domingos e feriados, Arminda pode ser encontrada no picadeiro. A escolha destes lugares não foi aleatória. “É onde passa mais gente”, afirma a vendedora de castanhas.
Arminda é a única pessoa que exerce esta actividade. Nos sábados à noite o seu filho substitui-a, pois o cansaço não lhe permite estar todos os dias a trabalhar.
O S. Martinho está a chegar e uma festividade desta sem castanhas e jeropiga não tem o mesmo significado. Apesar desta época, Arminda não tem vendido mais. Assegura que “se vender mais é mesmo no dia de S. Martinho”.
O seu negócio “não está bom” e a culpa é da crise. Tem dias que vende dez dúzias, cujo preço de cada dúzia é 1,50€. Deste modo, ao final do dia, leva para casa aproximadamente 15€. Relativamente ao lucro, ele não existe. Arminda já compra as castanhas a quem lhe mais barato fizer e ainda precisa de investir na compra do carvão.
Saudosa do passado, esta figura conhecida conta que antes se vendia mais. Na altura em que a moeda portuguesa, o escudo, passou ao euro, ela manteve o preço. Vendia, portanto, a 300 escudos, que se transformaram em 1,50€. Foi uma época de abundância e o negócio rendia-lhe mais. Os seus clientes diziam-lhe que as castanhas estavam baratas, mas Arminda não encontrava explicação para as reações deles, uma vez que o preço se mantinha. A moeda é que era diferente.
Atualmente, o preço de cada dúzia mantém-se, não sofrendo qualquer aumento ao longo destes 10 anos. Todavia, os transeuntes lamentam não poder comprar porque “as castanhas estão caras”. É uma afirmação que ouve bastantes vezes e, novamente, não encontra explicação para esta lamentação, pois sempre teve o mesmo preço. Ainda existem algumas pessoas que lhe compram castanhas, mas depois estão uma ou duas semanas sem comprar.
Neste momento, apesar de vender pouca coisa, Arminda refere que enquanto puder vende castanhas. É a sua única fonte de rendimento. Para se distrair e ocupar o seu tempo, faz “cruzadex”. Além disso, tem sempre companhia de amigas quer nas tardes solarengas quer nas tardes chuvosas. A convivência faz-lhe sentir bem.
Com um sorriso na face revela-nos que cada vez come mais castanhas! Acrescenta ainda que, hoje, a venda das castanhas em saquinhas de papel já não tem o mesmo significado. A verdadeira essência desta atividade é vendê-las em “cartuchos” de papel jornal, mais especificamente de páginas amarelas.


Arminda Silva no Largo do Carvão
 



por: Patrícia Gomes
*Artigo escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

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