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terça-feira, 25 de novembro de 2014

“É um mundo muito competitivo. Temos de ser fortes. Não podemos desistir."


      Ana Pombo, ex-aluna da Escola Superior de Educação de Coimbra, e estagiária da RTP no Porto, fala sobre o seu percurso académico e profissional, sem esquecer as adversidades que sentiu durante estes anos.


Ana Pombo

Qual o seu percurso académico até agora?
Antes de mais um percurso académico caracterizado de um enorme empenho, curiosidade e exigência. Quando terminei o ensino secundário na área de Línguas e Humanidades, não tinha dúvidas: era jornalismo que eu queria. Era comunicar e contar histórias. Já desde muito cedo que me lembro de ter alguns sinais reveladores de jornalismo. Escrevia notícias em casa e afixava no frigorifico...e queria sempre como prendas livros, rádios, cassetes e até microfones. Fui então tirar comunicação social na Escola Superior de Educação de Coimbra. Comecei a licenciatura sempre muito exigente com o trabalho que ia desempenhando. Inseri-me em muitas formações extracurriculares e fiz muito voluntariado. A minha primeira experiência pré-profissional decorreu nos meses de verão no jornal regional O Ribatejo. Se inicialmente tinha entrado no curso com a ideia de que só gostava de televisão, então aí tive a prova viva de que adorava imprensa. Escrever e desenvolver assuntos era muito recompensante. Aprendi muito com aquela pequena equipa de jornalistas, de quem ainda hoje guardo todos os ensinamentos. Quanto tive de decidir onde estagiar no final da licenciatura optei então por imprensa e estagiei durante três meses no Diário de Notícias, em Lisboa. Aprendi muito. Testei os meus limites e coloquei em prática o que tinha até então aprendido na faculdade. Aprendi a elaborar uma notícia de imprensa com o rigor e a pressão que são exigidos. Além de que foi a minha primeira entrada numa empresa a nível nacional, onde os níveis de exigência são muito superiores a uma empresa regional. No final do estágio já me tinha sido dito que nenhum estagiário teria hipótese de ficar na empresa, então regressei a Coimbra para melhorar a minha formação. Matriculei-me na Faculdade de Letras no Mestrado de Comunicação e Jornalismo. Além de que aproveitei para melhorar idiomas como inglês, alemão e espanhol nos cursos livres da FLUC. No segundo ano de mestrado resolvi apostar noutro estágio. E queria em televisão. E foi com grande entusiasmo que recebi a notícia que tinha conseguido um estágio na RTP do Porto. Já vou a meio do estágio e está a ser uma aprendizagem enorme. Sempre me imaginei a estagiar na RTP, desde o início. E é como um pequeno sonho tornado realidade. É um mundo enorme e que me desperta muita curiosidade. O fato de escrever para a imagem é fascinante. Além de que televisão é trabalho em equipa e isso entusiasma-me mais. Tenho aprendido muito. Aprendido com excelentes profissionais que me ensinam todos os dias, aquilo que não está nos livros.

Como foi o tratamento dos outros colegas durante o estágio? Acha que há discriminação para com os estagiários?
Não é uma questão de discriminação. É uma questão de ver até que ponto somos empenhados e aguentamos a pressão como jornalistas. Primeiro colocam-nos à prova para ver se somos pró-activos e responsáveis o suficiente para confiarem em nós. Depois um estagiário é sempre um corpo estranho numa redacção. Ninguém nos conhece. Ainda ninguém sabe do que somos capazes de fazer e se nos podem dar trabalho de responsabilidade. Como em todas as empresas, há jornalistas que ensinam por gosto e outros que têm menos tempo. Têm prazos de trabalho a cumprir. Muitas vezes é isso que um estagiário empenhado pode sentir...não receber muito feedback inicial...por também não existir muito tempo por parte dos profissionais. Mas muitos querem ensinar quando nos mostramos curiosos e dinâmicos. E quando acreditam em nós, mais trabalho nos dão e aí aumenta a responsabilidade. É uma enorme concretização quando vemos o nosso nome assinado numa notícia num jornal nacional. E é uma concretização enorme aprender com profissionais que nunca pensámos vir a ter contacto. Temos de ser persistentes. Nunca deixar que a desmotivação seja mais forte. É acreditar que, algum dia, todo o nosso trabalho vai ser valorizado. Que alguém olha para nós e vê que podemos fazer a diferença. Mas é preciso, mais do que tudo, ser muito humilde.

Acha que somente o curso é uma base sólida para a carreira jornalística?
O curso é apenas uma introdução a uma futura carreira em jornalismo. Cada vez a forma de entrar no meio se gere por contactos e experiência prática. O curso só nos dá algumas bases. Ensina-nos teoria que, às vezes a nível prático, não será bem assim. É apenas um pilar. Quem quer ser jornalista tem de se interessar pelo mundo, pela sociedade. Tem de gostar de muito mais do que o curso...tem de gostar de trabalhar em equipa...inserir-se noutros projectos e associações que melhorem a sua forma de estar e a comunicação. É muito importante também aprender idiomas além do inglês. É algo muito valorizado para quem quer ser jornalista. É importante sermos curiosos...tirar outras formações, noutras áreas. Porque no jornalismo temos de saber de tudo um pouco. Às vezes pode existir a sorte de estarmos no local certa à hora certa e após o curso conseguirmos logo emprego. Só que na minha opinião ser jornalista é muito mais do que saber falar com as pessoas, saber escrever e condensar informação. É ser criativo. E ser criativo exige tempo. Exige trabalho. Exige curiosidade pelos outros. Um jornalista deve acima de tudo, fomentar laços profissionais e desenvolver muito as relações interpessoais e uma visão abrangente sobre o mundo.

Como é a oferta de emprego na área do jornalismo?
A oferta de emprego na área de jornalismo é escassa. São raros os anúncios de trabalho jornalístico remunerado. O conselho que eu dou é fomentar contactos. Não só no jornalismo, mas também noutras áreas. São os contactos que nos podem dar dicas, que nos podem fazer pular de um meio para o outro. Eu acredito que quem tem paixão por aquilo que faz, tenta fazer a diferença e é empenhado, as oportunidades vão surgir. Foi como já referi: não se pode desistir, por mais que seja difícil. É cada vez mais difícil. Mas temos de acreditar. E se for para isso que temos vocação e queremos mesmo, um dia um lugar surge. Pode ser mais tarde do que queríamos. Mas surge.

Está satisfeita com o seu percurso?
Estou satisfeita com o meu percurso, porque consegui aprender muito até agora. Já ganhei algum estofo, não só nos estágios, mas também em tudo onde estive inserida. Até o fato de ter estudado numa cidade estudantil como Coimbra, me deu estofo para enfrentar o futuro. Aprendemos muito em Coimbra, principalmente se estivermos longe da família. Tive sempre coragem para saltar fora da zona de conforto. Agora estou ainda mais longe. Estou no Porto. E isso dá-me estofo, porque tenho de lidar sozinha com as frustrações que possam surgir. Não tenho a pancadinha da família no ombro, quando algum dia é menos bom. Cresci muito desde que comecei esta maratona em jornalismo. É um percurso duro. Exige persistência. Exige força. Exige paixão. Sinto que dou o meu melhor todos os dias. Sei que quero aprender mais e mais. Que sou curiosa e não consigo estar parada. E sei que isso me pode dar frutos. Acima de tudo, tento ao máximo nunca deixar de ser humilde. A humildade é a melhor característica que podemos demonstrar, sem deixar que nos pisem por isso mesmo. É um mundo muito competitivo. Temos de ser fortes. Não podemos desistir.

Cátia Lourenço

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