A off7 é uma empresa nacional de consultoria criada com o objectivo de contribuir para que Portugal adopte uma economia de baixo carbono. A off7 posiciona-se no mercado particular através da Calculadora off7, que calcula o nível de emissões de CO2 produzidos anualmente e em seguida sugere algumas medidas adequadas aos resultados visando a diminuição das emissões de carbono. Para o mercado empresarial, a abordagem é personalizada e depende das necessidades específicas de cada cliente
Cátia Carias, Romeu Gaspar e Tiago Fernandes são os três sócios-fundadores e os gerentes da off7. Trabalhavam na mesma empresa e durante um projecto sobre o mercado regulado de carbono adquiriram mais conhecimentos nesta área. A fraca presença de um mercado deste género em Portugal levou-os a ver aqui uma boa oportunidade de negócio.
Cátia Carias, 30 anos, é licenciada em Engenharia Biológica e mestre em Engenharia Bioquimica, ambos pelo Instituto Superior Técnico. Actualmente frequenta um MBA no INSEAD em Fontainebleau, França. Ao longo do seu percurso académico e profissional desenvolveu competências em biotecnologia, energias renováveis, sustentabilidade e mercados de carbono, tendo publicado diversos artigos académicos na área do ambiente em revistas científicas da especialidade. Em entrevista, fala-nos sobre a off7 e o seu modus operandi.
Diana Felício (DF) – Como nasceu a ideia de formar uma empresa deste estilo?
Cátia Carias (CC) – A off7 nasceu há pouco mais de 2 anos. Eu, o Romeu e o Tiago estávamos a trabalhar na mesma empresa, e no meio de um projecto sobre o mercado regulado de carbono começámos a encontrar muita informação sobre o mercado voluntário. Como todos trabalhámos em consultoria, acabámos por criar uma empresa de consultoria, que se dedica preferencialmente a projectos de sustentabilidade ou economia de baixo carbono. Adicionalmente temos também uma área de contabilização e compensação de emissões de carbono.
DF – Como funciona a off7 e quais são os seus principais objectivos?
CC – A off7 está dividida em duas grandes áreas: a parte de consultoria, que se dedica a projectos de sustentabilidade ou economia de baixo carbono e a parte de compensação de emissões, com a qual é possível contabilizar e compensar emissões de carbono, utilizando os Projectos off7.
DF – O que significa offsetar e como funciona [o offsetting]?
CC – Offset é a palavra inglesa para compensação. Como o nosso negócio gira todo à volta do carbono (compensação de emissões ou projectos de consultoria) achámos engraçado o trocadilho com o off7. Neste contexto, offsetar significa compensar emissões de carbono. Todos nós, indivíduos ou empresas, emitimos para a atmosfera dióxido de carbono derivado da nossa rotina diária (consumo de electricidade, combustíveis fósseis, etc.). Com o offset das emissões é possível compensar as emissões através do investimento em projectos que evitam a emissão de uma quantidade equivalente de dióxido de carbono. Um exemplo: imagina que utilizas a calculadora off7 e as tuas emissões anuais contabilizam 3 tCO2. O que podes fazer é investir nos projectos off7 (por exemplo, o de energia eólica na China) que produzem energia de uma forma limpa. Estes projectos não são rentáveis e só são construídos devido ao investimento dos créditos de carbono. Isto significa que se não houvesse este investimento, a energia nesse local seria produzida utilizando fontes tradicionais (e poluidoras). Uma vez que o aquecimento global é ubíquo, é possível fazer a compensação de emissões em qualquer local.
DF – A Off7 direcciona-se para dois grupos: particulares e empresas. Em que se distingue o modo de actuação nestes dois grupos?
CC – A nível dos particulares, o principal canal é o nosso website, que foi construído de forma a tornar bastante acessível a problemática em torno das alterações climáticas. Não deixa de ser engraçado que a maior parte das pesquisas que temos no nosso site, seja de alunos à procura de informação sobre este tema. Temos ainda disponível no nosso site, a calculadora off7, que permite fazer a contabilização das emissões de indivíduos ou agregados familiares e a posterior compensação.
A nível de empresas e sector público o nosso posicionamento é diferente: disponibilizamos serviços de consultoria em sustentabilidade e economia de baixo carbono. A título de exemplo, posso citar o projecto que fizemos para a Administração Central do Sistema de Saúde/Ministério da Saúde (ACSS/MS) (https://sites.google.com/a/clima.pt/mitigacao/2020-1/planos-sectoriais), que consistiu muito sucintamente num estudo piloto para a elaboração de um Plano Estratégico de Carbono para o Serviço Nacional de Saúde.
DF – A empresa já tem alguns projectos públicos noutros países como a China, a Índia e a Rússia, para quando Portugal?
CC – Uma das principais preocupações que temos é a garantia de qualidade que oferecemos aos nossos clientes. Actualmente, e no que toca a compensação de emissões de carbono, os projectos com o mais elevado nível de certificação, são os projectos do Protocolo de Quioto, certificados pelas Nações Unidas. São portanto estes os projectos que utilizamos para fazer a compensação de emissões. O protocolo de Quioto foi desenhado de forma a permitir às nações industrializadas a diminuição das suas emissões, ao mesmo tempo que incentiva um desenvolvimento sustentável nas nações em via de desenvolvimento. Assim sendo, estes projectos só podem ser desenvolvidos em países em vias de desenvolvimento, como a China ou a Índia.
No entanto, temos estado a trabalhar em colaboração com algumas entidades nacionais de forma a promovermos projectos que tenham acoplado um selo de qualidade, que possamos oferecer aos nossos clientes como garantia.
DF – A Off7 já foi distinguida com alguns prémios e também já lhe foram tecidos inúmeros elogios, achas que a sociedade portuguesa também já a reconhece?
CC – Acho que é um tema que começa a ganhar atenção e uma vez que fomos das primeiras empresas em Portugal a posicionar-se neste mercado, acabamos por beneficiar dessa posição. Mas é claro que é bastante gratificante quando reconhecem o nosso trabalho.
DF – Consideras existir cada vez mais preocupação, quer por parte de empresas como de indivíduos particulares, em reduzir as emissões de carbono que produzem?
CC - Cada vez mais as empresas e os indivíduos estão cientes dos benefícios que podem advir de um reposicionamento para uma economia de baixo carbono. Não só em termos ambientais, mas também de negócio. Aliada a uma diminuição de emissões de carbono encontra-se frequentemente uma diminuição de custos. Por outro lado, as empresas que se posicionarem agora têm uma vantagem competitiva no desenvolvimento de novos produtos para este segmento, que cada vez tem mais procura e começam desde já a preparar-se para os desafios em termos de normas e legislação que cada vez mais são impostos ao mercado. Finalmente, são também indiscutíveis os benefícios em termos de imagem de que as empresas podem beneficiar. Por todos estes motivos, temos assistido a um aumento significativo na procura deste tipo de serviços.
DF – É impossível olhar para o vosso Plano Estratégico de Carbono e não ser remetido para o Plano de Estabilidade e Crescimento (ambos com a sigla PEC). Embora com semelhante sigla são planos muito distintos. Em que consiste o vosso PEC?
CC - Não deixa de ser engraçado, de facto. O “nosso” PEC é mais antigo. Foi criado logo no início da off7, como uma ferramenta que permite ilustrar todos os benefícios que as empresas podem retirar de um posicionamento para uma economia de baixo carbono: aumentar receitas com o desenvolvimento de produtos direccionados para esta nova tendência; diminuir custos com processos de eficiência; antecipar a legislação já previsível para esta área e todos os benefícios que as empresas podem retirar em termos de comunicação.
DF - A nível pessoal, a envolvência neste projecto trouxe alguma(s) alterações ao teu quotidiano?
CC - Naturalmente que existiram muitas alterações não só no meu, mas no quotidiano de todos os sócios, após a criação da off7. Apesar de bastante mais simplificado, o processo de criação de empresas em Portugal ainda é moroso e de início estávamos sempre a deparar-nos com burocracias. Agora já estamos numa fase cruzeiro em termos processuais, mas julgo que a principal diferença de trabalhares numa empresa que ajudaste a criar, é que trabalhas 24h por dia. Não que estejas sempre no escritório, mas tudo à tua volta te remete para novas oportunidades, novas ideias que queres implementar. Principalmente numa área tão entusiasmante quanto a sustentabilidade.
Quanto à questão ambiental, sempre tive muita atenção aos temas do ambiente e às coisas que nós, enquanto cidadãos podemos fazer para contribuir para um mundo mais sustentável, por isso a nível de comportamento não senti uma grande alteração. No entanto, o que se alterou muito com a off7 foi a quantidade/qualidade de informação de que passei a dispor. Se antes fazia as coisas por “carolice”, agora tenho um conhecimento mais profundo do impacto que pequenos gestos têm.
DF – Como convencerias outras pessoas a tomar algumas medidas de preservação ambiental?
CC - Aconselho todas as pessoas a pensar e agir em consonância com a ideia de um mundo melhor e mais sustentável para todos nós. Reciclar, reduzir consumos, aplicar medidas de eficiência energética, etc. são coisas muito simples, ao alcance de todos e que além de terem um impacto muito positivo no ambiente, geralmente também são simpáticas para a carteira.
Pode visitar o site da off7 em: http://www.off7.pt/
Fote da Imagem: no site da off7
Diana Felício
Grupo 1
Entrevista (em atraso)
Sem comentários:
Enviar um comentário