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domingo, 21 de outubro de 2012

Energia do Outro Mundo - Entrevista com Valdjiu

Os Blasted Mechanism nasceram em 1995, com a ideia de criar um novo conceito musical portugês. Os seus membros Guitshu (voz), Valdjiu (bambuleco, kalachakra, banjo-bandola), Ary (baixo), Syncron (bateria), Winga (percussões, didgeridoo) e Zymon (guitarra, sitar eléctrica, teclas), consideram-se seres de outro mundo.
No passado dia 13 de Outubro a banda marcou presença numa das festas mais emblemáticas para os estudantes universitários de Coimbra – Festa das Latas e Imposição das Insígnias. . O Posts de Pescada marcou a sua presença e, depois do enérgico concerto, falou com o Valdjiu, um dos elementos, para saber um pouco mais acerca desta banda irreverente.

 

Posts de Pescada – Os Blasted definem-se como “um projecto artístico de música tocada por seres de outro mundo”. O que é que os distingue das outras bandas?
Valdjiu – Acho que é precisamente sermos do outro mundo. O outro mundo que também faz parte deste mundo. Criatividade, co-criatividade, é o que este planeta apela a, é que sejamos seres co-criativos. Os Blasted são uma banda de re-evolução, uma banda que também canta a que haja uma evolução e uma revolução na evolução.
 
PP- De onde é que veio o nome ‘BlastedMechanism’?
V- Tem muito a ver com a forma como o universo está organizado, que é um mecanismo do caos, de onde nasce a ordem, tem a ver com isso.
 
PP – Vocês têm alguns instrumentos originais (como a kalashakra e o bambuleco), idealizados por vocês. Onde é que foram buscar a inspiração para os construírem?
V – Ao mar das ideias que Platão, o filósofo grego, falava que existia, que é de onde vêm todas as ideias. Não há nenhum homem que tenha uma ideia original, as ideias vêm mesmo desse mar. Nós somos antenas que recebem essa informação e que quando podem a trazem à terra, a manifestam.
 
PP- Em 2008, o Karkov deixou os Blasted, o que deve ter sido um momento um bocado complicado para a banda. Como é que foi a adaptação do Gitshu e a vossa adaptação a um novo membro?
V – Foi duro. A saída do Karkov é um processo que ainda está em cura e acho que vai sempre estar, e o Gitshu ainda está também em cura (risos). Ele está a adaptar-se. O Karkov fez quatro ou cinco discos; o Gitshu já está no segundo.
 
PP – Ainda estão a apresentar o mais recente álbum, ‘BlastedGeneration’. De que é que ele trata e em que medida é que é diferente dos anteriores?
V – O ‘BlastedGeneration’ é um disco mesmo de revolução. É um disco que é um hino à liberdade . Para mim, o ‘BlastedGeneration’ é o encerrar de um capítulo na história dos Blasted. Nós aqui afirmamo-nos mesmo na nossa identidade como banda.
 
PP – E os fatos desta nova geração, são inspirados em quê?
V – No streetwear futurista.
 
PP – Houve um álbum, e uma música em especial, em que vocês se preocuparam em introduzir um pouco da música tradicional portuguesa. Na ‘We’, com o Mestre António Chaínho, conseguiram fazer uma música em que o instrumento fulcral era a guitarra portuguesa. Como é que foi essa experiência?
V – Já no Avatar tínhamos feito músicas com os Dealema, fizemos também em brasileiro com o Marcelo D2 e fizemos agora a ‘Puxa para cima’ dedicada à ‘geração á rasca’. Mas na ‘We’, com o Mestre António Chaínho, foi muito engraçado. Ele chegou ao estúdio de manhã e nós estávamos a acabar uma festa e quando ele chegou, nós não nos lembrávamos que ele vinha gravar- ‘Quem é, pá?’ (risos), abrimos a porta e lá estava ele.
 
PP – Mas como surgiu a ideia de fazer uma música em colaboração com este músico?
V – Não sei… Aliás, sei. Veio do mar das ideias de Platão.
 
PP – Mas mais concretamente, como é que chegaram até ele?
V – Por telepatia.
 
PP – (risos)
V – A sério, foi mesmo por telepatia!
 
PP – Partindo para o campo mais íntimo da banda, qual foi o momento mais caricato que passaram todos juntos?
V – Já foram imensos! São quase 20 anos… Mas recentemente, metade da banda dividiu-se num aeroporto e encontrei-me sozinho num avião com o Aly, o nosso road-manager e ele a dizer-me ‘Epá, vamos embora’ e todos os estrangeiros, na República Checa, a olharem para dois portugueses a chorarem abraçados, e ele a dizer-me ‘Eu não quero ir sozinho’, e eu ‘Nem eu, mas temos que ir, mas temos que ir’, foi assim uma situação mesmo muito dramática, foi horrível, chorámos imenso os dois (risos).
 
PP – De todos os países onde já tocaram qual foi aquele que gostaram mais?
V – Do México! O pessoal é louco. Têm muita energia, muita luz nos olhos.
 
PP – E Portugal?
V – Sim, Portugal é Portugal. Portugal é o porto do Graal, do sangue real. Há aqui uma história neste país que vocês não imaginam. Há aqui descendentes do sangue real, que é o sangue de Cristo. Bem, não vou abrir muito estas portas, mas trata-se doPorto-do-Graal ,o Santo Graal, que tem descendência do sangue de Maria Madalena. Em Portugal tocamos para os descendentes do grande mestre, que estragaram-no imenso, os apostólicos romanos. Igreja quer dizer comunidade, em grego, não quer dizer centro de adoração estranha.
 
PP - O que é que vocês acham deste tipo de comemorações estudantis e qual é a vossa impressão dos concertos que dão neste tipo de eventos?
V – Hoje foi muito bom, mesmo muito bom. É interessante tocarmos para universitários porque ‘universidade’ é aquilo que não se pratica nas Universidades, ‘universidade’ quer dizer ‘ser uno’; o que se pratica nas Universidades é ‘dualversidade’, as universidades ensinam-nos a ser dualistas, e isso não sei se é muito positivo.
 
PP- Estão orgulhosos do caminho que percorreram até aqui?
V – Nada, nada. (risos) Claro que estamos! Mas o orgulho é uma coisa complicada. Eu diria que estamos sintonizados.
 
PP – Notam uma evolução?
V – Sim, nós notamos uma evolução, notamos que em breve vamos dar um passo ainda maior.
 
PP – E quais são as expectativas para o futuro da banda? 
V – Isso é uma pergunta para jogadores de futebol. Expectativas… o futuro é construído no presente, com essa descida do mar das ideias.
 
PP – Se voltassem atrás, mudavam alguma coisa?
V – Algumas, sim. Por exemplo, o Euclides, um grego, que disse que ‘um mais um é igual a um mais um’; isso é uma seca, porque um mais um é igual a três, mas o pessoal ainda não percebeu isso. Quando um homem e uma mulher se juntam passam a ser três.

por: Ana Rita Morais, Maria Melo e Mónica Silva
 
*O artigo não está escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico 

3 comentários:

  1. Maria Manuel Gonçalves23 de outubro de 2012 às 01:36

    PARABÉNS!!!
    Este artigo está deveras FANTÁSTICO!
    bEM REDIGIDO COM UM DISCURSO SEQUENCIAL E LÓGICO, CLARO, E MUITO ORIGINAL, não apenas pela escolha do "elemento" entrevistado como pelo conteudo da própria entrevista.
    Foi um questuionário bem conduzido e muito interessante pela originlaidade do pensamento.
    Trouxeram até nós uma forma de pensar e estar diferente e em simlutâneo actual. Afinal, os tempos em que vivemos,carecem sem duvida, de uma revolução num objectivo principal que é a evolução e, de que vivemos num Universo realmente caotico! Para terminar foi optima a obsrevação relativa ao conceito "UNIVERSIDADE"!
    Sigam em frente e venham mais artigos com linhas tão originais e muito interessantes...continuem a despertar as nossas mentes. Sinceramente, parabéns!

    ao...

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  2. Eu nunca tinha ouvido falar deste grupo, mas com o que li ja posso visualizar um pouco "qual o tipo" de banda.

    Cool, bom post, parabens

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  3. Muito bem!
    Estamos sempre a aprender e a conhecer coisas e pessoas novas!
    Parabéns às entrevistadoras
    Sílvia Caiano

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