P.P. - Como
foi a experiência de viajar no navio-escola Sagres?
P.D. - Começou por ser a experiência que
despertou ainda mais a minha curiosidade para o meio marítimo.
P.P.- O
que sentistes a primeira vez que viste o navio?
P.D.- O primeiro
momento em que chegamos ao navio foi em San Diego, a primeira sensação foi
mesmo a do “jet-lag” mas quando vi o navio, senti que era ali que pertencia e
que seriam três meses espetaculares. O Sagres é muito mais que um navio tem um
espírito emblemático à volta. Torna as pessoas numa família apesar de nos
sermos cadetes e realizarmos apenas o tempo de verão tínhamos à frente uma
guarnição que dava a vida pelo navio, que ficam lá um ano inteiro fora das
famílias, para levar um pouco do “Sagres” pelos portugueses espalhados pelo
mundo.
P.P.- Como é que passavam os dias no navio?
P.D.- Nos
acordávamos íamos formar e tínhamos de fazer as atividades que nos eram
destinadas, pintar, limpar, tudo o que fosse necessário para o navio estar
sempre impecável, Aprendemos a subir aos mastros, existiam cadetes responsáveis
pela faina outros responsáveis pelo briefing e ainda cadetes que iam ao leme,
claro que nestas atividades rodávamos, e tínhamos ainda aulas sobre partes
específicas do navio.
P.P.- Para além das atividades diárias e obrigatórias tinhas
momentos a que pudessem ser chamados de “lazer”?
P.D.- Sim. Tínhamos
por exemplo educação física, nos dias de festa, como foi o caso do dia de São João
que fizemos as marchas populares a tripulação mascarou-se, houve pessoas a
dançar rancho, tocar guitarra.
Quando alguém
fazia anos havia bolo de anos para comemorar, Fazíamos também torneios de
futebol com campeonato e taça, torneios de sueca. Nunca estávamos desocupados
(risos).
P.P.- E quando atracavam nos portos tinham tarefas?
P.D.- Sim, eramos
responsáveis por mostrar o navio às pessoas, recebê-las, prestar-lhes o melhor
serviço. Cada um tinha a sua função, que também iam rodado, mas ou erámos
relações públicas ou cadete-adjunto oficial de serviço.
P.P- Alguma experiência mais assustadora ou algum momento em que
experienciaste medo?
P.D.- Não posso
considera-lo assustador, mas tive um grande momento de adrenalina (risos). Já estava
escuro e tivemos de subir aos mastros e eu subi ao grande e os cadetes iam
todos equipados com mosquetões e eu quando tinha subi e o navio estremeceu e
tive que me agarrar ao mastro e foi aí que me apercebi que estava solta que não
me tinha prendido e que tinha-me agarrado ao mastro apenas com a força dos meu
braços e foi quando pensei que podia ter morrido se aquilo tivesse corrido mal.
P.P- Melhor experiência a bordo, tiveste alguma?
P-D.- Várias, mas
provavelmente a melhor foi na Coreia do Sul o navio estava parado, estava a
trocar óleos acho eu, então fizemos uma regata o Sr. Engenheiro contra o
comandante. Fizemos equipas eu estava na do Sr. Engenheiro, tínhamos de chegar
a uma boia e voltar para trás, estava a chover torrencialmente e muita
ondulação e nos ganhámos, ganhámos à equipa do Comandante o que foi um orgulho
enorme (risos).
Nos portos não posso distinguir uma experiência
porque conheci muitas pessoas que me ajudaram e com quem ainda continuo a
falar, no Japão por exemplo conheci uma senhora japonesa e a família dela que
foi espetacular comigo e até já me veio visitar aqui também tive imensos convites
nos portos para ficar lá a trabalhar. Ser considerada a melhor cadete de
relações públicas, também foi uma das melhores sensações.
P.P- Destacas a experiência de viajar no “Sagres” como a melhor do
tempo que estiveste na escola naval?
P.D.- Sem dúvida
que da escola naval sem ser os meus camaradas, trago apenas dois momentos, os
treinos de basquetebol e a viagem no “Sagres”. Mas infelizmente a viagem não
foi suficiente para me prender à escola naval porque o “Sagres” não é a
realidade da marinha portuguesa, mas foi bom para mim porque aproveitei algo
que muitos não conseguem aproveitar.
P.P- Mudando um pouco de assunto, neste momento és diretora da
revista “Mar de Cá” e estás na área da gestão portuária, dirias que a viajem pelo “Sagres” contribui de alguma forma para
essa mudança?
P.D.- Sim acho
que em parte influenciou esta mudança. Incutiu-me a paixão pela área do shipping (gestão portuária) quando
estabeleci contactos na viagem, o que fez com que saísse com mais certeza da
Escola Naval e fosse tirar o curso para a Escola Náutica Infante Dom Henrique.
Neste momento
estou a estagiar na empresa “orey-shipping”, iniciei o projeto da revista “Mar
de Cá” que começou apenas por ser uma ideia e acabou por ter financiamento
total, saindo o segundo exemplar já daqui a 6 meses. Estou bastante realizada
com isso.
Por:
Cristiana Peres
*Artigo escrito ao
abrigo do novo acordo ortográfico.
Sem comentários:
Enviar um comentário