Páginas

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Pupilas Gustativas

«Quem nos viu e quem nos vê», diriam os programas televisivos se pudessem falar, eles que não são mais hoje o que eram antigamente. «Todo o mundo é composto de mudança/ Tomando sempre novas qualidades/ Continuamente vemos novidades» já dizia Luís de Camões e, de facto, tal como a sociedade progrediu e avançou, o mesmo ocorreu com os canais de televisão. Nem todos são a favor do que passa na tela quadrada de mil emoções, mas há sempre e sempre haverá quem lhe veja os aspectos positivos.
Rafaela Madureira tem 36 anos, duas filhas e «três televisões lá por casa». A televisão é, para ela e a sua família, algo «indispensável ao lazer e à educação». Conta que «se não fosse a televisão, não poderia ocupar os meninos e não teria tempo para limpar a casa, fazer o comer, fazer as compras». «A televisão dá-me tempo mas sei que a muita gente, rouba-lho».
Com uma filha de 12 anos e outra de 5 anos, confessa que tem de variar nas programações «lá de casa» mas que é por isso mesmo que tem «três amigas quadradas pela casa». A Mariana é filha mais velha e «prefere já novelas e séries, aos desenhos animados», enquanto que «a pequena Carlota, não tem ainda poder de escolha».
Ao saber da controvérsia e das opiniões mais variadas no que toca a assuntos da programação e do uso da televisão na educação de crianças, Rafaela diz sem temer que «a televisão só não educa se não se souber fazer bom uso dela» e ainda nos revela como fazer bom uso da mesma na educação dos mais novos. «Há que saber escolher os canais, os programas, as horas. Não se pode deixar uma criança em frente da televisão à noite, onde só passam praticamente novelas com cenas impróprias, por exemplo».
«Quando estreia uma série nova ou algo da qual não tenho a certeza de se será bom, vejo primeiro eu ou informo-me sobre o mesmo e só depois permito que a Mariana veja». No que diz respeito aos desenhos animados para a Carlota, «já não me preocupo tanto. Sei que há bonecos inofensivos e mesmo assim engraçados». Mas o mais importante para a televisão ser educativa é «sem dúvida o conteúdo». As séries que a Mariana vê «não gosto que sejam muito juvenis, até porque acho que são mais impulsionadoras para o mau comportamento do que para o seu evitamento. Fico mais descansada se vir uma série policial do que se vir Morangos com Açúcar, por exemplo».
O truque, segundo Rafaela, para uma programação educativa e eficiente é «a variedade de canais. Temos mais escolha, mais horários possíveis». Mas como nem todos são da mesma opinião, existe quem não goste de usar a televisão na educação dos filhos. É o caso de Simão Costa de 39, pai de um menino de 8 anos, o Ricardo que diz não querer a televisão perto do filho. «Terá muito tempo da vida dele para ocupar com futilidades, não vejo porquê incentivá-lo já a isso».
Simão confessa, «nunca me atraiu aquele pedaço de futilidades que é a TV. Acho que um bom brinquedo é muito mais importante na construção do carácter e personalidade das crianças». Por isto, Ricardo brinca com o pai e vê televisão apenas na escola. «É claro que não vou pedir aos professores para não passarem filme tal porque não quero o meu filho em frente á televisão, mas acho que o pouco tempo que a vê já lhe serve para que não tenha de a ver em casa».
Adepto de uma educação à antiga, o pai de Ricardo garante que do que depender dele, o filho «não terá contacto com as tecnologias tão cedo. Não falo só na televisão, mas não penso sequer em comprar-lhe um telemóvel antes dos 15 ou 16 anos, as consolas estão fora de questão e ele já se habituou a isso. De vez em quando sei que joga com as dos amigos, mas isso não afecta em nada o resto. O que é uma hora comparada com a eternidade se tivesse disso em casa?».
Enquanto que as filhas de Rafaela se sentam no sofá da sala a ver um qualquer desenho animado enquanto que a mãe, na cozinha, prepara o jantar, o filho de Simão está aninhado no chão da sala, em cima de um tapete e de umas quantas almofadas, a jogar Mikado. Todos saem, assim, felizes e contentes.
 
por: Marilena Rato e Fátima Pereira
*Artigo escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Sem comentários:

Enviar um comentário