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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Viver com 39 pessoas



Decorada em  tons  de laranja a Residência R-3, alberga cerca de 200 alunos dos mais variados cursos superiores. Apresenta um ar jovial.  Sofisticada e adaptada com os mais diversos meios, permite aos residentes uma vida  confortável.  Porém, nem todos pensam assim, é o caso de Tatiana Vieira, estudante de Educação Básica da Escola Superior de Educação de Coimbra. “As condições poderiam ser bem melhores. Existem lacunas que os serviços de acção social não resolvem.” O funcionamento das residências funciona sobre  critérios bem específicos. As regras são para cumprir. As delegadas (os),  eleitas (os) em reunião geral de residentes, são os pilares que orientam cada bloco. São responsáveis pela organização e pelas regras de boa educação no convívio entre a comunidade. Nem sempre é facil. Gerir as acções de 40 pessoas é uma tarefa árdua. O respeito e o civismo são a chave para o sucesso.

A composição da residência é divida em zonas públicas que agregam a cozinha, a sala de estudo, a sala de estar, os corredores e a lavandaria que são espaços de confraternização. Estes espaços  são limpos, normalmente, pelas empregadas, diariamente. Os electrodomésticos também considerados públicos, dão azo a muitas discussões. É a lei da primazia que muitas vezes, resolve os problemas. Quem chega primeiro, adquire o direito de usufruir a seu belo prazer.  O uso constante leva ao desgaste, facilmente. Os serviços deveriam ser a entidade responsável pela reposição ou reparo das máquinas. Contudo, nem sempre é possível. A  crise leva a cortes. E, quando assim é, são as reuniões gerais que arrecadam uns “trocos” paras suprir as necessidades básicas.  

O que leva jovens estudantes de diferentes Institutos/Escolas a conviver com cerca de 40 pessoas? Os motivos são vários. A convivência com o desconhecido. O conhecimento e a procura de novas experiências. A independência. A criação de novas amizades.  “ O ambiente é um factor crucial, permite-nos socializar e conhecer novas pessoas. Numa residência universitária isto é possível, enquanto que numa  casa o ambiente é muito fechado e, claramente privado”, explica a estudante de Educação Básica. O mais apelativo continua ainda, a ser o preço. Pagar 72,25€ por um quarto dividido e, com as despesas já incluídas, é o mais aliciante para os jovens. Se estes estudantes, forem ainda bolseiros, então a situação melhora significativamente. O complemento de alojamento paga o quarto por completo.  Adversamente, quem não é bolseiro, paga um pouco mais. Cerca de 95 €.  Joana Correia, estudante de Comunicação Social, na ESEC, não conseguiu bolsa este ano e, isso dificultou um pouco a sua situação. Todavia, não se arrepende da escolha que fez. As residências continuam a seu ver, a ser  a melhor opção. “ As condições são razoáveis. Existe sempre controvérsias, mas depende de nós resolvê-las. No ano passado, pagava numa casa 200€. A qualidade era semelhante”.  A “aspirante a jornalista” remata apenas com algumas reticências. “ Perde-se a privacidade. Não estou muito perto da ESEC. E, às vezes, as minhas coisas desaparecem, porque alguém decidiu pegar nelas.”
 
Do outro lado do rio, encontra-se a R-1 e a R-2.  O azul escuro do edifício coaduna-se com o verde puro da área. Entram em perfeita sintonia. Ao lado, está a Escola Superior Agrária. Aqui, o ar é mais limpo e a zona mais tranquila. É em S. Martinho do Bispo, que estão localizados três dos Institutos/Escolas do Instituto Politécnico de Coimbra. Esta Residência goza de algumas regalias que a R-3 não possuí. A mais visível, é o vigilante a tempo inteiro.  Outra é o espaço disponibilizado, bem como a maquinaria existente na lavandaria. Os lugares públicos são bem maiores. E salienta-se ainda, a existência de quartos especializados para acolher jovens mães e receber estudantes vindos de Eramus.  
Daniel Soares estuda Informática de Gestão no ISCAC e habita na Residência R- 2. A sua opinião está a mudar acerca dos benefícios e da real utilidade das residências. “ Começa a não compensar escolher a residência para viver, porque o aumento da mensalidade deste ano não foi acompanhado com mais regalias, pelo contrário, os residentes teem tido menos condições do que anos anteriores. Falta material na cozinha, o aquecimento é cada vez mais escasso. São condicionantes.” 

A criação de residências universitárias tinha como objectivo ajudar os estudantes mais desfavorecidos. Era essa a sua essência inicial. Talvez, no meio do caminho se tenha perdido. Tornou-se numa utopia! A actual situação socioeconómico do país não permite mais ajudas!

Apesar disso, o espírito livre reina preponderante no mundo académico. “ O ambiente é óptimo, convivemos com alunos que são de S. Tomé, de Moçambique, de Cabo Verde e, ninguém é indiferente a ninguém. Há convívio entre todos e há sempre oferta de ajuda,” afirma Daniel Soares.

O momento mais peculiar que aconteceu a Sofia Antunes, estudante de Gerontologia Social, enquanto residente foi simultaneamente engraçado e assustador. “Apareceram-me três rapazes durante a madrugada na sala de estar, completamente bêbados. Ninguém sabe como entraram. Mas o facto, é que saíram logo, quando detectada a sua presença. O três rapazitos riam-se desesperadamente. A situação não era para menos!”
 
Os momentos mais marcantes e caricatos são aqueles que ficam cravados nas paredes como histórias que não serão contadas !  Foram vividas!  Alegrias e amizades travadas no convívio diário.  Situações embaraçosas. Chegadas inesperadas e partidas sentidas!

por: Márcia Alves


*Este artigo não está escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico



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