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sexta-feira, 12 de maio de 2017

Pedro e Inês: uma história, mais que intemporal, atemporal

O livro de Rosa Lobato de Faria “A Trança de Inês” terá brevemente a sua versão cinematográfica. O responsável é António Ferreira, que irá rodar o filme no próximo mês. O realizador de Coimbra – onde decorrerão as filmagens - considera a história de Pedro e Inês mais que intemporal, atemporal, e admite querer fazer do cinema “um espaço de sonho, de reflexão”.
António Ferreira
Porquê fazer um filme a partir do livro de Rosa Lobato de Faria?
Uma prima minha, Glória Ferreira, mostrou-me A Trança de Inês dizendo que achava que dava um filme. Quando li o livro fiquei surpreso com o tratamento que a Rosa dava a um tema tão conhecido, e até gasto, dos portugueses. Essa frescura seduziu-me e decidi tentar adaptar o livro ao cinema. A não linearidade da narrativa também me atraiu muito, pois gosto de trabalhar o som e a imagem nos meus filmes de forma subjectiva e a estrutura do livro da Rosa era bastante fragmentada, o tom era onírico, as três narrativas entrançadas progrediam organicamente e isso, julgo eu, tem tudo a ver com o cinema que tenho feito, que apesar de ser narrativo na sua essência, explora as possibilidades subjectivas que o cinema oferece como o som, a imagem, montagem. Acabei por trabalhar juntamente com a Glória nas primeiras versões do argumento e mais sozinho nos últimos anos.

A história, no livro, passa-se em vários tempos. Que abordagem cinematográfica vai dar à obra?
A ideia é contar a história original de Pedro e Inês mas dispersa ao longo de três tempos totalmente diferentes. O original na idade média, um na atualidade  numa grande cidade e outro, naquilo a que chamamos de futuro (porque ainda não aconteceu), onde sempre temos um Pedro e uma Inês que se encontram e se apaixonam. Na verdade, são três histórias diferentes mas que ressoam uma nas outras, completando-se, onde um acontecimento na idade média parece reverberar noutro mil anos mais tarde, acabando as três histórias por se entrelaçar formando uma única linha narrativa, atemporal, num tempo que não é sequencial mas antes paralelo, simultâneo.
A história é contada do ponto de vista de Pedro, um homem internado num hospital psiquiátrico por ter viajado de carro vários dias com a sua namorada Inês, morta no banco do passageiro. Este homem, Pedro, recorda simultaneamente e de forma indistinta as três vidas que viveu. Esta é aliás a estrutura e abordagem que está no romance da Rosa Lobato de Faria. A Rosa usou do poder literário da sua palavra para contar esta história. Eu utilizarei os recursos que o cinema me oferece - a palavra, a imagem, o som, a montagem…

A história de Pedro e Inês é a versão portuguesa do clássico "Romeu e Julieta"? 
A história de Pedro e Inês é maior história de amor do imaginário português, de longe mais intensa e violenta do que Romeu e Julieta. Claro que uma boa parte daquilo que hoje tomamos por verdade faz de facto parte do mito, mas é o mito que me interessa, o que sobreviveu no imaginário coletivo, no canto dos poetas e dos romancistas, a paixão, o sacrifício, a loucura do homem que viu a sua amada ser levada. Essa é por excelência a matéria prima deste filme.

Sendo Pedro e Inês uma história ligada a Coimbra, faz mais sentido que seja um realizador conimbricense a transformá-la, no cinema?
Eu ser de Coimbra é uma coincidência e não acho isso propriamente uma vantagem. Mas tendo eu crescido em Santa Clara, com a janela do quarto virada para a Quinta das Lágrimas do outro lado da rua, faz com que obviamente tenha uma ligação com o tema. Mas qualquer outra pessoa pode adaptar esta história ao cinema, como aliás já foi feito e como certamente será mais vezes. É uma história com contornos escabrosos, que lida com sentimentos humanos bastante elementares (o amor, a perda, o ódio). A matéria prima desta história é intemporal.

Este filme está pensado há cerca de uma década. O que adia assim um filme? (Burocracias, financiamento...)
Basicamente, o financiamento. Uma vez havendo viabilidade financeira as coisas até que são rápidas, até porque têm que ser, pois tempo é dinheiro. O cinema tem este defeito de ser uma arte cara, que envolve muita gente e meios técnicos complexos. Financiar um filme não é fácil em lugar nenhum do mundo.

A necessidade - se é que é uma necessidade - de criar parcerias, inclusivé com outros países, surge também por questões financeiras?
Maioritariamente por motivos de financiamento. Existem diversas possibilidades de complementar o financiamento de um filme ao fazer co-produção com outros países, que podem aportar mais dinheiro para o teu projeto. Claro que isto implica a participação de meios, técnicos e artistas desses países parceiros e é por vezes complicado de gerir. Mas ter uma co-produção é sempre positivo, pois para além do factor financiamento, é uma forma de abrir mercados de distribuição fora de portas. A Trança de Inês é uma co-produção com a França e o Brasil.
O realizador e a esposa, Tathiani Sacilotto, nas gravações de
 Posfácio nas Confecções Canhão
É possível, em Portugal, viver apenas do cinema?
Eu vivo só do cinema. Escrevo e realizo os meus projetos que são produzidos pela minha esposa, Tathiani Sacilotto. Também co-produzimos projetos de outros realizadores. Só fazemos isto.

Antes de morrer, Rosa Lobato de Faria teve conhecimento deste projeto. Como foi a reação da autora? 
Tudo foi conversado com a autora que inclusivamente chegou a ler uma primeira versão do argumento. Ela sempre foi muito entusiasta da adaptação ao cinema da sua obra, colaborou e apoiou. Nunca me pediu absolutamente nada e sempre me confiou na íntegra o critério e rumo a seguir na adaptação. Do pouco que conheci da Rosa, era uma pessoa afável e sorridente. Foi tudo muito suave.
António Ferreira com Rosa Lobato de Faria
Este não é o primeiro filme que realiza nesta cidade. Coimbra é uma cidade cinematográfica?
Com certeza que é. E ao redor de Coimbra temos muitos mundos diferentes. Sou daqui, cresci aqui e conheço muito bem os cantos à casa. É-me natural filmar em Coimbra e sinto-me em casa. Por vezes não encontro aqui coisas específicas e vou para outro lado, como aconteceu no Esquece Tudo o que te Disse que filmei a maior parte em Ofir no norte de Portugal, mas ainda estive quase uma semana na Figueira-da-Foz, ao lado de casa, portanto. O Respirar Debaixo d’Água, por exemplo, não poderia ser filmado noutro lugar que não fosse Coimbra, porque aquele filme é sobre uma certa forma de estar num determinado período em Coimbra. Eu cresci um pouco daquela maneira.

Os atores ainda não foram revelados, mas já foi dito que serão caras conhecidas. Já trabalhou com António Capelo, Custódia Gallego, José Raposo... Ter atores mais conhecidos aumenta a audiência? 
No caso português, pode aumentar ou não e os números são bem claros nisto. Não faltam casos com a fórmula de sucesso que pouca gente foi ver, como filmes com atores desconhecidos que se saíram bastante bem na bilheteira. Eu acredito profundamente que o que produz sucessos de bilheteira é essencialmente um bom filme, e o que quero dizer com bom filme é um filme que a pessoa que comprou o bilhete com uma determinada expectativa, sinta-se recompensada, emocionada, entretida ou perturbada, mas que sinta que a sua expectativa no mínimo se cumpriu. Agora claro que caras conhecidas podem ajudar muito a vender um filme, podemos até dizer que mega-sucessos não se fazem sem estrelas, mas é preciso que o filme respeite o espectador e o surpreenda acima de tudo. Ninguém vai para uma sala às escuras, dispensando dinheiro e duas horas do seu precioso tempo para “ouver” o que já sabe e antecipar à distância o que vai acontecer a seguir. O cinema é um espaço de sonho, de reflexão, queremos estar por duas horas fora do mundo lá fora e ser levados sem dar por ela, de preferência para bem longe daqui. É pelo menos o que eu procuro no cinema.
Mas se olhares para os números portugueses, constatarás que a realidade é bem complexa. Costumo dizer que se houvesse fórmulas de sucesso o Belmiro de Azevedo seria cineasta. Mas não é. 

Qual é a sua posição, enquanto realizador, perante o pré conceito de que "o livro é sempre melhor que o filme"?
Não faz sentido fazer a comparação e isso nem é verdade, há filmes melhores que os livros. O cinema e a literatura são meios de expressão totalmente diferentes, com ferramentas narrativas muito diferentes. O que pode acontecer é que haja filmes que não souberam transpor do meio literário para o cinematográfico, produzindo uma obra de intensidade inferior à original, acontece muitas vezes, pois a adaptação de um livro ao cinema é um processo melindroso e cheio de armadilhas. A projeção da narrativa do livro acontece no interior da nossa cabeça, é totalmente subjectiva, somos nós que imaginamos o rosto do protagonista por exemplo, por mais que o autor o descreva. De alguma forma o cinema é mais concreto, tem cara, tem roupa, vive numa casa grande ou pequena, está defronte dos nossos olhos, tem um timbre de voz. Mas as emoções que tanto o livro como o filme poderão despertar em nós são bastante semelhantes, são da mesma natureza, fazem-nos sentir tristes ou ter vontade de rir, podem repugnar-nos ou fazer-nos sentir desejo. Mas os mecanismos para despertar estas emoções são muito diferentes na literatura e no cinema.

Em 2000, teve uma curta-metragem selecionada no Festival de Cannes. Entre outras nomeações e prémios que arrecadou. "A Trança de Inês" é um filme para mais nomeações e prémios? 
Não faço ideia. O futuro não me pertence. Limito-me a fazer o filme que imagino com toda a energia e saber que tenho. Claro que desejo a ressonância, o eco do destinatário dos filmes que faço que é o público, os amantes de cinema, aqueles que gostam de se sentar numa sala escura e deixar-se levar. Eu sou também uma dessas pessoas. 
(fotos cedidas por António Ferreira) 

Cátia Cardoso 20150136

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Arouca Film Festival – Uma iniciativa “de vento em poupa”

Arouca Film Festival – Uma iniciativa “de vento em poupa”




Em pleno distrito de Aveiro, e recentemente integrada na Área Metropolitana do Porto, Arouca recebe desde o ano de 2003 o Arouca Film Festival. Este é um festival preferencialmente talhado para acolher exibições de curtas-metragens, embora possa receber também filmes com outros tipos de duração, vindos de todas as partes do mundo.



O Arouca Film Festival – Festival Internacional de Cinema de Arouca, teve a sua primeira edição a 28 de Fevereiro de 2003, em pleno centro histórico da Vila de Arouca, contando com o apoio de associações locais e de alguns particulares. Hoje, passados 11 anos, os desígnios desta antes “novidade” pelas terras de Santa Mafalda passaram a fazer parte da imagem de marca do concelho e são traçados pelo Cine Clube de Arouca, que conta com a colaboração de entidades públicas e privadas que o auxiliam nesta tarefa, nomeadamente o Instituto Português da Juventude, o Ministério da Cultura e a Câmara Municipal de Arouca.
“Este Festival surgiu da necessidade de dotar o concelho de Arouca, de um evento que fosse capaz de causar impacto a nível internacional. Pretendeu-se, assim, cativar novos públicos nacionais e internacionais, e transportá-los a uma das regiões mais bonitas do território nacional, promovendo um interesse cada vez maior, por parte dos cineastas, para que estes realizem em Arouca, parte ou a totalidade dos seus filmes.” – Divulga João Rita, presidente do Arouca Film Festival.



Os grandes eixos orientadores da Comissão Organizadora do Arouca Film Festival prendem-se com o estimular da produção cinematográfica o apoiar e promover obras recentes e de qualidade reconhecida do circuito mundial, bem como obras e produções independentes; o atrair e formar públicos; o favorecer e potenciar a troca de experiências e de conhecimentos entre os amantes do cinema, profissionais ou amadores; e promover e preservar o património natural e cultural de Arouca.




 Foto 1: Notícia sobre o Arouca Film Festival no jornal  Diário de Aveiro

Outro dos pontos essenciais para o sucesso do Festival prende-se com a qualidade do seu corpo de jurados e das obras apresentadas a concurso. O júri é composto por profissionais da área do cinema e do audiovisual, como actores, realizadores, professores de cinema, empresários do audiovisual, jornalistas, entre outros. No que concerne aos filmes que são projectados neste certame, podemos dizer que estes abarcam todos os géneros cinematográficos e provém das mais variadas regiões do mundo, facto que demonstra a enorme dimensão já atingida pelo Arouca Film Festival, bem como o seu potencial de crescimento.
A programação deste festival, torna-o bastante completo, uma vez que é pautada pela criatividade e irreverência de uma equipa que canaliza todas as suas forças para uma semana repleta de animação, na qual são desenvolvidas várias actividades, direccionadas a toda a população, como workshops, concursos, debates, exposições de fotografia, vídeo e pintura, podendo ainda assistir a actuações musicais e teatrais que servem de “motor de arranque”  para os três grandes dias nos quais decorrem as sessões suas três competitivas, criando e desenvolvendo momentos únicos, em todo o concelho, transformando Arouca na “Vila do Cinema”.
Com filmes maioritariamente oriundos de Portugal, Bélgica, Brasil, Espanha e Alemanha, o cerrame decorre sempre nas instalações do Cinema Globo D’Ouro, no centro da vila de Arouca.
Equipa Técnica e Organização


    A organização do Festival está a cargo do Cine Clube de Arouca, que conta com o apoio Institucional da Câmara Municipal de Arouca, do Instituto Português da Juventude e do Ministério da Cultura, através da Direcção Regional de Cultura do Norte.

Foto 2: Parte da Equipa técnica do Festival, Presindente João Rita sentado.
      


Enquanto patrocinadores e apoios locais destacam-se várias identidades privadas do Concelho e ainda alguns particulares que, ano após ano, continuam a querer manter vivo este sonho de realizar um festival com impacto mundial numa região do interior norte de Portugal, afastada dos grandes centros urbanos.

Foto 3: Presidente da Câmara de Arouca, Presidente do Arouca Film Festival e respectivo júri, desta vez com o Jornalista Mário Augusto, da RTP1, como um dos  membros do júri.


Apoiar o Arouca Film Festival
Ao investir em produtos culturais, como o Arouca Film Festival as empresas conseguirão solidificar a sua imagem institucional, facto que lhe trará uma maior visibilidade. Deste modo, o investimento em cultura pode ser visto como uma oportunidade para que as empresas participem no processo de incremento e manutenção dos valores culturais da sociedade, dando-lhes a possibilidade de construírem uma imagem forte e bem posicionada para o consumidor, garantindo a curto, médio e longo prazo sua perpetuação no mercado. “ - Salienta João Rita, presidente do Arouca Film Festival – “Desde 2011 que os filmes nacionais em competição ultrapassam os de obra internacionais. Isto significa que, nas questões técnicas, os filmes portugueses estão equiparados aos filmes estrangeiros, que antes eram vistos como de qualidade mais elevada”.
Para a componente de entretenimento, o director do festival revela: “Temos nos interessado na terceira idade, promovendo pequenos expectáculos que motivem as pessoas a quererem conhecer melhor o festival”.
Foto 4: Sala cheia em mais uma edição do Festival.


Rotas e objectivos
O Festival Internacional de Cinema de Arouca tem como principais objectivos: estimular a produção de filmes (nomeadamente curtas-metragens) a um nível local, mas também nacional e internacional; apoiar e promover obras recentes e de qualidade reconhecida do circuito cinematográfico mundial, bem como obras e produções independentes; atrair e formar novos públicos, principalmente junto dos arouquenses; estimular a troca de experiências e de conhecimentos entre todos os participantes no Festival; e promover e preservar o património natural e cultural de Arouca.
Desde o início que percebemos que o Festival Internacional de Cinema de Arouca não se poderia limitar à plácida exibição de filmes, mas antes teria também de apostar na aprendizagem, na criação e na inovação, na formação e na divulgação do que de melhor é produzido e realizado em todo o mundo, apoiando a criação cinematográfica e dando voz a todos quantos pretendem demonstrar o seu potencial artístico, quer através do cinema, quer através da fotografia, da dança, do canto ou do teatro – outras vertentes artísticas apoiadas e promovidas por este certame.

Foto 5: Avelino Vieira, fotógrafo e o programa do Arouca Film Festival


Foto 6: Publicidade ao Arouca Film Festival em São João da Madeira.



A nossa visão de futuro, em ligação com o sucesso das edições anteriores leva-nos a querer projectar, cada vez mais, e a um nível global a imagem dos nossos patrocinadores, bem como a do Festival e de Arouca, facto que se tem verificado de uma forma concreta e cada vez mais substancial, uma vez que, anualmente, concorrem a este festival mais de duas centenas de filmes vindos dos quatro cantos do mundo. “ – Salienta João Rita.

As parcerias e os apoios tornam-se num objecto de estímulo para a melhoria da qualidade do Festival e potenciam a vinda de profissionais do audiovisual e de interessados pela sétima arte, promovendo assim amplos debates de ideias e a troca de informações e saberes entre as centenas de visitantes que o festival recebe anualmente.

Foto 7: Mário Augusto e o presidente da junta de freguesias de Rossas, José Paulo


O evento é promovido através do site oficial do Festival, na página do Facebook e através das mailling list's, outdoors, cartazes e flyers, bem como durante os dias em que se realiza o Festival, para que empresas que se desejem associar a este projecto inovador e vencedor o possam fazer.


Foto 8: Momento de votação 
















                                                 



















Tendo como mote a “Celebração das Artes”, o Arouca Film Festival é sempre um palco de dias repletos de animação, sessões competitivas de elevada qualidade, workshops e concursos, prémios aliciantes, encontros com realizadores, produtores e actores, musica, dança, teatro, pintura e fotografia.


Foto 9: Entrada do Festival, no Cinema Globo D’ouro, em Arouca

Reportagem por: 
Ana Manaia 
Ana Teresa Abrantes
Andrea Henriques
Bruno Tavares
Kátia Reis
Frederico Gomes

terça-feira, 14 de outubro de 2014

A Festa do Cinema Francês bateu às portas dos portugueses

    
     15 anos, 18 cidades, perto de 40 filmes, é sinal de que o Cinema Francês ainda não morreu. Nesta 15ª edição da “Festa do Cinema Francês”, o TAGV em Coimbra deu a conhecer dramas, comédias, animações e umas quantas antestreias. A principal novidade foi a presença de dois realizadores cujos filmes também fizeram parte da seleção do Festival de Cannes.


Uma programação que acaba com estereótipos

Em entrevista na AF a Amina Mazouza
    Contando com uma parceria entre a Embaixada Francesa, o Instituto Francês e a “Alliance Française”, a “Festa do Cinema Francês” é uma iniciativa que conta com várias edições de grande êxito. A capital portuguesa é ainda a cidade com maior adesão, seguindo-se Coimbra. A par das sete cidades que receberam a festa no ano passado, assistiu-se este ano a uma expansão para quase vinte localidades portuguesas. “A Festa na Aldeia” foi outra inovação marcante do festival e teve como finalidade levar a magia do cinema francês a todo o país, inclusive às localidades com menos acesso a este género de programação. Deste modo, os três organizadores fulcrais da festa realizaram, pela primeira vez, sessões de cinema utilizando ecrãs insufláveis. Sobre a atividade, Amina Mazouza, diretora da “Alliance Française” de Coimbra, ressalva que é “o cinema francês a ir ao povo e não o povo a ir ao cinema.”

      Numa tentativa de acabar com o estereótipo romântico do cinema francês, a edição deste ano, apresenta uma visão mais moderna e plural da sétima arte em França. Segundo Amina Mazouza, estes filmes “refletem a França de hoje, uma França multicultural.”



A Cidade universitária fiel ao “Septième Art”

      Coimbra é a segunda cidade com maior adesão à Festa do Cinema Francês. Em 2014, foi celebrada no Teatro Académico Gil Vicente (TAGV) e contou com a visita de centenas de pessoas que se deixaram envolver nas obras cinematográficas apresentadas. A “curiosidade que move o grande público” é o principal motivo que leva tantas pessoas ao TAGV, afirma a diretora da “Alliance Française”. Este ano, a festa contou também com a presença, em Coimbra, de dois realizadores, Fabianny Deschamps e Pascal Tessaud, que tiveram a sua obra em exibição.

Amina Mazouza, diretora da Alliance Française de Coimbra

     O sucesso das edições anteriores é tido em conta, mas a qualidade e diversidade do cartaz é também um fator decisivo para o êxito de cada edição. Este ano, a Festa do Cinema Francês conta com um cartaz variado, composto por filmes comerciais e obras independentes; assim como sessões escolares gratuitas. Entre a seleção de filmes, alguns são os escolhidos do Festival de Cannes. A programação do cartaz é da responsabilidade de Jean Chrétien Blanc que, de acordo com as cidades, decide a programação.
Para além de haver um público jovem e interessado no cinema, Amina Mazouza frisa que os sessenta anos da Alliance Française em Coimbra permitem a existência de um público fiel. Este tem vindo a ser conquistado ao longo dos anos, o que ajuda a criar uma nova geração de frequentadores da “Festa”.
   O público da “Festa” não quer ver o cinema da “Nouvelle Vague”. Vem, por conseguinte, celebrar “a morte do estereótipo do cinema francês”, tal como anunciam os cartazes e flyers espalhados pela cidade. A diferença entre o novo cinema francês e o seu estereótipo reside, por exemplo, no fim do cinema romântico e romantizado e da Torre Eiffel como tela de fundo e personagem principal. O cinema francês debruça-se cada vez mais sobre as vidas das pessoas que vivem na França contemporânea, retratando-as de uma forma nua e crua. Exemplo disso, é a longa-metragem “Brooklyn”, de Pascal Tessaud.


KT Gorique e “Brooklyn” são o “lado B” de Paris

Fotograma de "Brooklyn"
    Com um título que remete para os EUA, Pascal Tessaud apresentou ao público conimbricense, no TAGV, a sua primeira longa-metragem. “Brooklyn” é um retrato social do Paris dos subúrbios, refletindo sobre o peso que a cultura hip-hop tem nos jovens da periferia. Em tertúlia no TAGV, o realizador explica que o filme “mostra todo o potencial criativo que há nas periferias de França” que reside na juventude, ainda que, “os media a estigmatize constantemente”. Isto traduz-se num fenómeno de “racismo grave” em França, pelo “medo que se tem desses jovens, jovens que só precisam de amor”. Pascal Tessaud propôs-se a desligar-se inteiramente da escola do cinema francês, que é, por sua definição, “uma estrutura aristocrática”.
     O realizador retrata a sua própria realidade social com toda a lealdade possível, filmando toda a longa-metragem em Saint-Denis, um subúrbio parisiense, apenas com moradores do bairro. O elenco contava apenas com dois atores tendo uma experiência profissional na área. A própria atriz principal, que se apresenta como “KT Gorique”, estreou-se na grande tela com este projeto. O cineasta acredita que “uma mulher negra como protagonista é uma ferramenta de autoestima para todas as mulheres”, uma vez que o rap em França trata mal as mulheres. Já em tom de brincadeira, acrescenta que “este é quase um filme feminista”.

Pascal Tessaud em entrevista no TAGV

        “Brooklyn” é, então, uma crónica do dia-a-dia da juventude dos subúrbios franceses. Depois de “perder a confiança e esperança nas instituições”, Pascal Tessaud afirma-se como realizador e produtor independente ao produzir um filme sem dinheiro, nem recursos, nem “equipa técnica de 20 pessoas”. Defende que não se deve “pedir autorização aos professores” para se fazer um filme, ao estilo de Martin Scorcese, exemplo que deu múltiplas vezes durante a tertúlia e em entrevista. É um filme que ele descreve como sendo “do povo, pelo povo e para o povo”, cuja primeira apresentação foi exclusivamente para a população de Saint-Denis – a maioria da qual nunca tinha sequer entrado numa sala de cinema.


Bruna Becegatto Costa - texto
Bruna Dias - texto
Daniela Bulário - texto
Vanessa Alves Ferreira - tradução e texto
Zita Moura - fotografia e texto

sexta-feira, 31 de maio de 2013

O Jardim Botânico nos olhos do Mundo

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O Jardim Botânico de Coimbra atrai as atenções de todos os aficcionados pela natureza, assim como no passado mês de Março, quando recebeu uma doação de dez mil orquídeas. As plantas, cedidas por dois jardineiros holandeses especializados, fazem parte de uma das maiores colecções europeias, segundo fonte universitária, e ficarão albergadas por trinta anos. O objectivo, para além do estudo destas plantas, será a criação de um orquidário em exposição permanente, bem como de visitas guiadas para um melhor aproveitamento geral da situação.

São colecções como estas que mantêm o Botânico na mira de todo o tipo de actividade, até em questões de cinema turístico: a produtora Terra Líquida realizou um filme intitulado “Inverno no Jardim”, onde se dá um destaque assombroso à natureza viva presente no Botânico. O filme será apresentado por todo o mundo, e estando disponível online (aqui), permite dar a conhecer um lado mais frio e despido de um dos maiores espaços verdes da cidade de Coimbra.

Eduardo Oliveira

sábado, 8 de dezembro de 2012

Este País Não É Para Pobres



Há cerca de duas semanas, o WarezTuga - site que aloja e permite a visualização de uma grande quantidade de filmes e séries - anunciou que ia encerrar devido a uma queixa por parte da ACAPOR. Em causa estava a pirataria feita pelo WarezTuga, que levou a que, teoricamente, houvesse mais espectadores no seu site de streaming do que nas salas de cinema nacionais, facto que, por sua vez, originava uma quebra significativa da receita nas bilheteiras.

Quis-me parecer que esta manobra não passou de uma estratégia de apresentação de um novo filme. Tal como os irmãos Coen apresentaram em 2007 o seu maior sucesso Este País Não É Para Velhos, o WarezTuga, com a ajuda da ACAPOR, adaptou o título à actualidade nacional e o resultado não poderia ter sido mais… realista!

Estando minimamente por dentro do assunto, eis uma pequena sinopse deste novo drama: num país assolado pela crise, onde os combustíveis atingem valores abusivos e um bilhete de cinema custa cerca de seis euros, ver filmes na Internet parece ser a melhor solução para os amantes da sétima arte. Um site destaca-se mas a sua popularidade e os seus bons resultados enfrentam a oposição de uma associação que tenta pôr fim à sua existência. Será o seu encerramento a melhor solução? Ou agravará a situação de crise e provocará a ira daqueles que visitam regularmente o site?

Este País Não É Para Pobres, um “filme” que apenas esteve em exibição durante cinco dias. Das duas, uma: ou foi um autêntico flop cinematográfico ou a história, baseada em factos verídicos, susceptibilizou tanto a população que se achou por bem retornar tudo à normalidade. Por outras palavras, o WarezTuga voltou ao seu habitual funcionamento e as salas de cinema a ter mais baldes de pipocas do que espectadores. 

por: Diogo Carvalho


*Este artigo não está escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico